Gerar mais valor para os acionistas ou jogar mais bola com a gurizada?


A felicidade é uma boa caminhada

Genial. A discussão sobre modelo de desenvolvimento com base na felicidade e bem-estar cada vez ganha mais adeptos. Ainda falta muito para nos livrarmos do PIB como medida de sucesso, mas autores de peso engrossam as fileiras de quem acredita nesta opção.

Thomas Friedman, colunista do NY Times,vem falando há um bom tempo sobre meio ambiente, mudanças climáticas e  sustentabilidade. Na coluna publicado no Estadão no último sábado 11 de junho, ele citou o ambientalista e empresário australiano Paul Gidding, que lançou um livro com a tradução livre para o português: “A grande ruptura: por que a crise climática trará o fim da compulsão da compra e o nascimento de um novo mundo”.

O ponto principal é que com as mudanças climáticas, teremos que nos adaptar rapidamente e isso fará com o que a sociedade mude o jeito de consumir e utilizar recursos naturais. Vamos ter que aprender a viver na escassez.

Mas a genialidade do trabalho de Gidding é a frase com que Friedman encerra sua coluna. Vejam em negrito que maravilha a ironia e o sarcasmo com nossa miopia capitalista:

“Nós perceberemos, ele prevê, que o modelo de crescimento movido pelo consumo está quebrado e que temos de mudar para um modelo de crescimento mais movido pela felicidade, com pessoas trabalhando menos e ganhando menos. “Quantas pessoas”, pergunta Gilding, “deitadas em seus leitos de morte dizem “gostaria de ter trabalhado mais duro construindo mais valor para acionistas” e quantas dizem “gostaria de ter jogando mais bola, lido mais livros para meus filhos, caminhado mais?“”

Para isso, é preciso um modelo de crescimento baseado em oferecer mais tempo para as pessoas gozarem a vida, mas com menos coisas.” Parece utópico? Gilding insiste que é realista. “Estamos a caminho de uma escolha movida por crise”, diz ele. “Ou permitiremos que o colapso nos atinja ou desenvolveremos um novo modelo sustentável. Escolheremos a segunda. Podemos ser lentos, mas não somos estúpidos.”

Esta é uma contribuição para começarmos a semana pensando naquilo que realmente vale a pena.

14 Comentários

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14 Respostas para “Gerar mais valor para os acionistas ou jogar mais bola com a gurizada?

  1. Claudio Kinzel

    Esta visão me faz lembrar das idéias do sociólogo Domenico de Masi, que criou o conceito de ócio criativo. Segundo o autor, é a intersecção entre trabalho em si, diversão e pesquisa. Tudo numa coisa só. O trabalho visto sob uma perspectiva industrial morreu, controlado pelo tempo, ainda que seja muito empregado como modelo ainda hoje. Porque, afinal, não somos máquinas que produzem quanto mais trabalham.

    As pessoas se iludem e acreditam firmemente que precisa ganhar mais dinheiro; e para ganhar mais, precisam trabalhar mais, produzir mais, etc. E tudo isso em nome do quê? Para ter um carro melhor? Uma casa melhor? E tempo para aproveitar estas coisas? Trabalhar menos e ganhar menos e, assim, ter mais tempo para fazer coisas que proporcionem prazer é um objetivo ainda difícil de ser alcançado, porque o sistema todo te empurra em outra direção. Não é por acaso que muitas pessoas quando tiram férias ficam deprimidas, sem saber o que fazer. Estão tão consumidas pelo trabalho, pelo fazer, que qualquer outra abordagem lhes causa pânico.

    • Claudio, é verdade, o Domenico De Masi já fala isso há um bom tempo. Os economistas que estão lidando com este tema estão cada vez mais “radicais” nesta visão. Em alguns casos, será preciso ruptura. Já está se falando em decrescimento. Tim Jackson é quem vem falando sobre isso. Vale conhecer um pouco do que ele diz, e, principalmente, sua fala no TED: http://www.youtube.com/watch?v=NZsp_EdO2Xk
      Outra referência excelente é o curta Obsolescência Programada, sobre as coisas feitas para quebrarem e a criação do modelo de sociedade de consumo.

      Não preciso citar o grande Zygmunt Bauman, que fala da sociedade líquida e debate este afã consumista com maestria.
      Abraço!

      • A conta associada ao video foi excluída, não me admira! Muito interessante o assunto e a forma como é aqui abordada, tenho pesquisado bastante sobre o tema e quem sabe um dia escrevo sobre isso.

  2. A humanidade está preocupada em TER, e ainda não entenderam que o importante na vida é SER. Quanto mais temos, menos somos. Somos menos pacientes, tolerantes, sensatos e equilibrados. E um dia quando nos vemos em um leito, pensamos o que fizemos para nós? Realmente o texto nos faz refletir.

  3. Simone Kauri dos Reis

    Rodrigo,
    Nos meus 20’s e nos 30’s eu vivi o “sonho empreendedor”, fui proprietária, junto com mais 4 sócios de uma empresa que fez tremendo sucesso na área de TI – vanguarda de tecnologia e boas práticas, benchmark no país. Em termos de sucesso profissional era Xangrilá. Porém, as incontáveis horas de trabalho semanais, as férias de duas semanas por ano (quando tirava férias), o distanciamento dos amigos e da família não valeram e não valem qualquer sucesso – profissional, econômico, social – a gente se torna um ausente permanente; alguém que existe mas não se tem certeza de como nem onde. É muito triste. Hoje, nos meus 40’s e depois de ter passado por muitas situações complicadas eu finalmente aprendi que o que vale mesmo, de verdade, é a gente ser feliz e sentir-se bem. A grana ajuda a gente a ter CONFORTO, mas conforto NÃO É FELICIDADE. Conforto é conforto e SÓ. Talvez eu devesse ter percebido antes de passar por tantas coisas ruins… Espero poder – com a minha experiência de vida – ajudar outros, muito mais espertos e ligados do que eu, a aprender com OS ERROS DOS OUTROS – e não ter que errar, errar, errar para aprender. Entretanto a parte do errar, errar, errar, na verdade, é como ensaiar, ensaiar, ensaiar, depois de um certo tempo as coisas acabam ficando bem boas, bem acabadas – mas é a escolha de cada um. Hoje eu procuro mais aprender com os outros e suas experiências em cada área de atuação que eu vou conquistar do que tentar reinventar a roda. Posso te garantir, do fundo do meu coração, que hoje eu sou muito mais feliz do que quando tinha status, dinheiro, posição social e todo este bullshit que norteia a vida de tantas pessoas, hoje e sempre. O que eu aprendoi foi que a gente deve responder ao próprio coração (ou à mente, va lá!), todos os dias: o que eu estou fazendo agora, me deixa feliz? Se a resposta for não, MUDE!

  4. Simone, demorei para responder esta mensagem. Na verdade, li várias vezes e refleti muito sobre isso. Concordo 100% com você. Quanto mais coisas temos, mais tendemos a achar que somos/estamos felizes e mais queremos ter. É muito paradoxal e acho que experiências como a sua servem para chamar nossa atenção para aquilo que é realmente importante. Ponto para vc que conseguiu perceber isso e valorizar o que te faz feliz. Muita gente não consegue perceber isso e fica correndo atrás do rabo. Na semana passada, estava no TEDGlobal, em Edimburgo. Uma das palestrantes foi a Yang Lan, conhecida como Oprah chinesa. Ela disse que uma visão explicitada por uma jovem chinesa no equivalente chinês do twitter representou o que muita gente acredita. Ela disse: “prefiro ser triste numa BMW do que feliz de bicicleta”. Fiquei chocado de ouvir isso! Esta é a sociedade de consumo nos empurrando para o lado errado! Valeu pelo seu precioso comentário. Um abraço, Rodrigo

  5. Excelente reflexão, Rodrigo. Minha busca tem sido essa e tenho conseguido alguns resultados. Ótimo insight para começar a semana. Abraços.

  6. Olá, Rodrigo, legal saber que vc gostou. Este é um processo, acho… uma busca constante, na verdade. Tentativa e erro – como esta palestra aqui deixa claro:
    http://video.ted.com/assets/player/swf/EmbedPlayer.swf

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  9. Digo, realmente gostei muito do post! Além do Ócio Criativo, 4 Horas por Semana, Você esta Louco e principalmente morar na Nova Zelândia, me ensinaram que qualidade de vida, seja ela qual for na sua opinião, é a maior conquista para o bem estar individual e consequentemente coletivo. Acredito que o resultado de uma sociedade mais sustentável, seja justamente a melhoria na qualidade de se viver.
    Achei demais a fala do Tim Jackson: “Gastamos dinheiro que não temos, com coisas que não precisamos, para criar um status, que não irá perdurar, para pessoas com quem não nos importamos!” Novamente, o mais difícil é encontrarmos o ponto de equilíbrio entre o material, o bem estar físico e mental. Eu inclusive mudaria mental para espiritual, independente de credo.
    Felizmente já estamos nos dando conta que tanto nosso corpo quanto o planeta são finitos. E isto, muda muito a maneira de se pensar.
    O que levamos conosco?

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