Arquivo do mês: agosto 2011

Temos jeito, sim

O resgate da civilidade? foto: Agencia Estado

Outro dia, quis enviar uma frase para um amigo para ajudá-lo a passar um momento difícil e fui na minha coleção de frases destacadas dos livros. Acabei esbarrando em um aforismo genial.

Esta frase fez especial sentido ao ler hoje de manhã a notícia de que a presidente Dilma Rousseff está em plena lua-de-mel com o governador de São Paulo Geraldo Alckmin. (Leia matéria aqui no Estadão.)

Há quem diga que isso é extremamente interesseiro de ambas as partes. Isso porque Dilma precisa de um alívio da oposição neste momento em que perde apoio da base aliada em função da limpeza que promove em quatro ministérios e porque Alckmin quer levar dinheiro do governo para seus projetos.

Independentemente disso, vejo isso como uma demonstração de maturidade. Principalmente porque estamos falando do combate a miséria. Como diz a matéria:

Alckmin e Dilma firmaram acordo de unificação dos programas de transferência de renda paulista e federal. Os beneficiados, cerca de 1 milhão de famílias, terão um mesmo cartão para sacar os recursos do Bolsa Família, do governo federal, e do Renda Cidadã, do Estado.

Assim como no momento em que FHC passou a faixa para Lula em 2002 – mesmo que no segundo seguinte já tenha começado a ser bombardeado sobre herança maldita – esta busca de entendimento tem como pano de fundo a união de ideais na construção de um Brasil melhor. A carreira política para mim é um tanto binária nas motivações: 1) você está lá para isso, para servir a uma causa, ao seu País ou 2) você está lá para servir a sua causa, valorizar os seus próprios interesses.

Obviamente, há tons de cinza no meio da história e às vezes é preciso ceder para chegar onde se quer (alguns utilizando valores morais como critério, outros valores financeiros…), mas a motivação inicial vai continuar sendo uma das duas – e você vai persegui-las, desviando dos obstáculos no caminho.

Quando a presidente Dilma manda para casa ou inviabiliza a permanência de ministros que pedem demissão, vejo-a a serviço de uma causa. Não votei nela e tinha muito pouca esperança no que ela poderia fazer à frente do governo, mas preciso confessar que estou muito positivamente surpreendido.

São de pequenos sinais que precisamos para construir um país mais decente para se viver. Reconhecer o trabalho bem-feito de quem foi peça-fundamental na construção deste Brasil cheio de oportunidades que temos hoje faze parte disso. Foi o que Dilma fez na comemoração de 80 anos de FHC. Mandar sinal de que não tolera corrupção em troca de apoio em votação no Congresso é também outro sinal.

E isso, não tenho dúvida nenhuma, influencia a atitude dos cidadãos. Há cerca de 15 dias, Gilberto Dimenstein capturou muito bem um sua coluna na Folha de São Paulo um momento de resgate da cidadania que estamos passando no Brasil. A campanha em São Paulo para respeitar a faixa de pedestres (com multas, sim, mas isso faz parte) é um bom exemplo. Agora à noite fui parado numa blitze de direção segura, soprei o bafômetro e por sorte o vinho do almoço já tinha zerado no organismo. Fazia cerca de três anos que não passava por isso em São Paulo. A proibição do fumo em restaurantes é outro exemplo. Quem reclama hoje de uma medida assim, vai olhar para trás daqui a três anos assim como olhamos para o fato de que era permitido fumar em aviões!

Enfim, acho que temos jeito, sim. Podemos ser um país civilizado. As pessoas que acham bonito atravessar na faixa na Europa e nos Estados Unidos não vão mais esquecer que os pedestres daqui são iguais a elas quando são turistas em férias.

É dever de cada um de nós respeitar as regras básicas de convivência. Assim como é o de votar e exigir os direitos como cidadãos. E aí deixo aqui a frase que mencionei no início do texto:

“O maior castigo para aqueles que não se interessam por política, é que serão governados pelos que se interessam”– Arnold Toynbee.

Florença, berço de Maquiavel. Foto: Rodrigo V Cunha

Pouco interessa, para alguns, o que os políticos estão fazendo. No caso da aproximação de Dilma e Alckmin, por mais Maquiavélica que seja, vejo mais do que um tom episódico. Vejo um instantâneo de um momento épico pelo qual passamos como nação. Com o ideal de um país melhor atropelando a mesquinhez humana, que tanto aparece na política, que no fundo é a essência da nossa alma. A política. Quer gostemos dela ou não.

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Ray Anderson e o Monte Sustentabilidade

Por muitos anos, repetimos no trabalho trechos do filme The Corporation, com o CEO da Interface Ray Anderson falando sobre seu desafio de tornar a empresa  totalmente sustentável até 2020. Uma bela de uma utopia. Daquelas positivas, mobilizadoras. A fala dele costumava estimular executivos do banco em que eu trabalhava e também de clientes que participavam dos treinamentos de sustentabilidade. Com a voz mansa, mas cheia de firmeza, Ray Anderson criou alguns gestos e frases que ficaram imortalizados no imaginário de quem lida com o movimento de sustentabilidade nas empresas.

Na segunda-feira passada, ele faleceu, depois de lutar por um bom tempo contra um câncer. Deixa um belo legado de transformação empresarial e o exemplo para quem quiser praticar. Está tudo contado nos livros abaixo:

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Ray Anderson também fez uma palestra no TED, que resume bem sua visão.

[youtube http://www.youtube.com/watch?v=iP9QF_lBOyA]

No site da Ideia Sustentável, há um bom texto sobre quem foi Ray Anderson.

Segue um parágrafo:

“Impactado pela demanda dos clientes e pelo contundente ideário verde de Hawken, Anderson decidiu, pouco antes de sua empresa completar 21 anos, que a partir daquele momento a InterfaceFlor só “tomaria da Terra o que fosse natural e rapidamente renovável”. Como resultado desse desafio, gestou-se o projeto chamado Missão Zero, que prevê eliminar os impactos ambientais até 2020. “Quatorze anos atrás, quando ousei descrever a alguns amigos as aspirações que me motivavam a construir o modelo de empresa que tenho hoje, ouvi que eram impossíveis de ser realizadas. O impossível hoje se traduz no uso altamente eficaz do petróleo (energia e matéria-prima) para a fabricação do carpete, com redução de 88%, em toneladas absolutas, nas emissões de gases de efeito estufa e de 80% no uso de água, em relação a 1996. Fizemos tudo isso num contexto de aumento de dois terços nas vendas e 100% no faturamento”, afirmou o chairman da InterfaceFlor, empresa com 4.000 empregados e atuação em 110 países.

Os números da InterfaceFlor comprovam que ser sustentável é um bom negócio. A iniciativa de eliminar resíduos, sozinha, proporcionou à companhia uma economia de custos da ordem de U$ 372 milhões em 13 anos, quantia suficiente para cobrir todos os investimentos feitos no esforço de implantar a nova missão verde da empresa. Cerca de 42% de fumaça e 81% de efluentes foram evitados em virtude de mudanças de processos. E ainda 133 milhões de libras de produtos usados e coletados no end-of-life acabaram reciclados em carpete novo. Mais de 20% das matérias-primas provêm de fontes renováveis, recicladas ou biomateriais (a meta é 100% até 2020), a energia derivada de combustíveis fósseis foi reduzida em 55% e seis das 11 fábricas já operam com 100% de eletricidade gerada a partir de fontes renováveis (solar, eólica, geotérmica e de biomassa).”

Descanse em paz, Ray Anderson, e obrigado por toda a inspiração.

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