Arquivo da categoria: Literatura

Feliz 2010 com Fragmentos do Evangelho Apócrifo, de Borges

Borges é um craque da literatura, ninguém duvida disso. E os craques sempre são capazes de surpreender. Tenho a ligeira impressão de que já deveria ter conhecido antes esse material abaixo, mas tive contato com ele há poucos meses em uma das edições atrasadas da revista Piauí, que guardo para ler com tempo e saborear. Foi citado pelo José Serra, em uma entrevista concedida à revista.

É muito inspirador e queria dividir com vocês, agradecendo pela audiência durante 2009, ano em que resolvi investir tempo neste blog. Algumas vezes, é difícil manter a frequencia, mas a troca de ideias faz valer a pena.

Valeu! Vou continuar na toada em 2010. “Que seja eterno enquanto dure”, já dizia o poeta. E que seja eterno enquanto e valer  a pena – emendo.

E Feliz 2010 para todos nós, com a companhia de Borges e muitos outros craques das letras e que nos ajudam a entender o mundo.

Abraço

Fragmentos do Evangelho Apócrifo

3 Mal-aventurado o pobre de espírito, porque sob a terra será o que é agora na terra.

4 Mal-aventurado o que chora, pois já cultiva o hábito infeliz do pranto.

5 Afortunados os que sabem que o sofrimento não é uma coroa de glória.

6 Não basta ser o último para ser alguma vez o primeiro.

7 Feliz o que não insiste em ter razão, pois ninguém a tem ou todos a têm.

8 Feliz o que perdoa os outros e o que perdoa a si mesmo.

9 Bem-aventurados os mansos, porque não condescendem à discórdia.

10 Bem-aventurados os que têm fome de justiça, porque sabem que a nossa sorte, adversa ou piedosa, é obra do acaso, que é inescrutável.

11 Bem-aventurados os misericordiosos, porque sua felicidade está no exercício da misericórdia e não na esperança de um prêmio.

12 Bem-aventurados os de coração limpo, porque vêem Deus.

13 Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque lhes importa mais a justiça do que o seu destino humano.

14 Ninguém é o sal da terra; ninguém, em algum momento da sua vida, não o é.

15 Que a luz de uma lâmpada se acenda, mesmo que nenhum homem a veja. Deus a verá.

16 Não há mandamento que não possa ser infringido, e também os que digo e os que os profetas disseram.

17 Aquele que matar pela causa da justiça, ou pela causa que ele crê justa, não tem culpa.

18 Os atos dos homens não merecem nem o fogo nem os céus.

19 Não odeies o teu inimigo, pois se o fazes, és de algum modo seu escravo. Teu ódio nunca será melhor que a tua paz.

20 Se a tua mão direita te ofender, perdoa-a; és teu corpo e és tua alma e é árduo, senão impossível, fixar a fronteira que os divide…

24 Não exageres o culto da verdade; não há homem que ao cabo de um dia não tenha mentido com razão muitas vezes.

25 Não jures, pois todo juramento é uma ênfase.

26 Resiste ao mal, porém sem espanto e sem ira. A quem te ferir na face direita, podes voltar a outra, desde que não te mova o temor.

27 Não falo de vinganças nem de perdões; o esquecimento é a única vingança e o único perdão.

28 Fazer o bem ao teu inimigo pode ser obra de justiça e não é árduo; amá-lo, tarefa de anjos e não de homens.

29 Fazer o bem ao teu inimigo é a melhor forma de satisfazer a tua vaidade.

30 Não acumules ouro na terra, porque o ouro é pai do ócio, e este, da tristeza e do tédio.

31 Pensa que os outros são justos ou sê-lo-ão, e se não for assim, não é teu o erro.

32 Deus é mais generoso que os homens e os medirá com outra medida.

33 Dá o que é santo aos cães, joga tuas pérolas aos porcos; o importante é dar.

34 Procura pelo prazer de procurar, não pelo de encontrar…

39 A porta é que escolhe, não o homem.

40 Não julgues a árvore por seus frutos, nem o homem por suas obras; podem ser piores ou melhores.

41 Nada se edifica sobre a pedra, tudo sobre a areia, mas nosso dever é edificar como se fosse pedra a areia…

47 Feliz o pobre sem amargura ou o rico sem soberba.

48 Felizes os valentes, os que aceitam com ânimo semelhante a derrota ou as palmas.

49 Felizes os que guardam na memória palavras de Virgílio ou de Cristo, pois estas darão luz aos seus dias.

50 Felizes os amados, os que amam e os que podem prescindir do amor.

51 Felizes os felizes.

3 Comentários

Arquivado em Inspiração, Literatura

Quando o líder falha – a briga dos jogadores do Palmeiras

O imponderável é o que há de mais incrível nos esportes, particularmente no futebol. Ontem, no jogo do Grêmio x Palmeiras aconteceu uma cena raríssima, dessas que deixam todos com a boca aberta, tentando entender o que aconteceu.

Aos 46 minutos do primeiro tempo, já nos descontos, o guerreiro argentino Máxi Lopez, livre na área, recebeu, virou e chutou. Marcos defendeu e sobrou para Marques, que empurrou para o gol. Até aí, tudo bem. O incrível veio depois, quando os jogadores do Palmeiras começaram a brigar. O ‘craque’ Obina foi tirar satisfação de Maurício, que deveria ter marcado Lopez. Claro que ele não gostou, mas a reação foi tentar acertar o Obina. Obina se esquivou e encheu a mão na cara do sujeito. Ai, veio a turma do deixa disso. Mas já era tarde demais. O juiz tinha visto e mandou os caras para a rua quando o jogo recomeçou.

O Palmeiras liderou o campeonato brasileiro por 18 rodadas. Aí, não conseguiu segurar o rojão e começou a ceder espaço para outros times. À medida que o time ia perdendo a distância, começaram a jogar mal, cada vez pior. O problema que estava em campo extrapolou para extra-campo.

Em um dos jogos, o juiz anulou um gol legítimo de Obina. O dirigente do Palmeiro, Luiz Gonzaga Belluzzo, um dos economistas mais respeitados do país perdeu as estribeiras e chegou a dizer que ia dar porrada em Simon.

Pronto.

O Palmeiras se perdeu de vez. O destempero de Belluzzo passou para o campo no jogo seguinte, quando os palmeirenses empataram em casa com o Sport. E destrambelhou de vez com o episódio de ontem, no Olímpico.

É incrível o poder do exemplo, da liderança. Por mais que um líder precise colocar para fora suas emoções, ele nunca pode fazer isso de forma descontrolada — ainda mais via imprensa. Isso reflete claramente na equipe. Os jogadores do Palmeiras passaram a acreditar em conspiração, por meio de seu líder. Isso abala a moral, pois se há conspiração, não adianta você jogar bem, pois sempre darão um jeito de colocar você para baixo.

Dia desses, vi o filme Into the Storm, que mostra os dias em que Churchill jogou xadrez de guerra com Hitler na 2ª guerra mundial. Há vários momentos em que fica evidente o poder das ações e das palavras do líder. Muito simbolismo. Um grande craque com o qual a humanidade foi presenteada para derrubar Hitler (sobre isso há o fantástico filme “Cinco Dias em Londres”, do historiador John Lukácz, veja no Google Books ou na Livraria Cultura.)

O paralelo é abissal, eu sei, mas é de liderança que estamos falando. O Palmeiras perdeu o campeonato graças ao líder que não agiu conforme se esperava dele em um momento crucial.

Juca Kfouri escreveu sobre isso aqui. E o Belluzzo enviou uma resposta muito interessante para ele. Mostrando que voltou à razão, com estilo e verve apurada. Com a tranqüilidade e o distanciamento crítico que o escrever possibilita. Mas foi tarde demais…

(P.s.: Hoje, os jogadores do Palmeiras fizeram as pazes.)

Deixe um comentário

Arquivado em Futebol, Grêmio, Literatura, Questões

Chapeuzinho Vermelho & Millor

E ontem, depois de postar aqui a versão da Chapeuzinho Vermelho na mídia, recebi da amiga Fatima Torri a história de Chapeuzinho na genial versão de Millor. Eis (não sei nem em qual tag classificar. Vai em Literatura):

Chapeuzinho Vermelho

MILLÔR FERNANDES

“Era uma vez (admitindo-se aqui o tempo como uma realidade palpável, estranho, portanto, à fantasia da história) uma menina, linda e um pouco tola, que se chamava Chapeuzinho Vermelho. (Esses nomes que se usam em substituição do nome próprio chamam-se alcunha ou vulgo). Chapeuzinho Vermelho costumava passear no bosque, colhendo Sinantias, monstruosidade botânica que consiste na soldadura anômala de duas flores vizinhas pelos invólucros ou pelos pecíolos, Mucambés ou Muçambas, planta medicinal da família das Caparidáceas, e brincando aqui e ali com uma Jurueba, da família dos Psitacídeos, que vivem em regiões justafluviais, ou seja, à margem dos rios. Chapeuzinho Vermelho andava, pois, na Floresta, quando lhe aparece um lobo, animal selvagem carnívoro do gênero cão e… (Um parêntesis para os nossos pequenos leitores — o lobo era, presumivelmente, uma figura inexistente criada pelo cérebro superexcitado de Chapeuzinho Vermelho. Tendo que andar na floresta sozinha, – natural seria que, volta e meia, sentindo-se indefesa, tivesse alucinações semelhantes.).

Chapeuzinho Vermelho foi detida pelo lobo que lhe disse: (Outro parêntesis; os animais jamais falaram. Fica explicado aqui que isso é um recurso de fantasia do autor e que o Lobo encarna os sentimentos cruéis do Homem. Esse princípio animista é ascentralíssimo e está em todo o folclore universal.) Disse o Lobo: “Onde vais, linda menina?” Respondeu Chapeuzinho Vermelho: “Vou levar estes doces à minha avozinha que está doente. Atravessarei dunas, montes, cabos, istmos e outros acidentes geográficos e deverei chegar lá às treze e trinta e cinco, ou seja, a uma hora e trinta e cinco minutos da tarde”.

Ouvindo isso o Lobo saiu correndo, estimulado por desejos reprimidos (Freud: “Psychopathology Of Everiday Life”, The Modern Library Inc. N.Y.). Chegando na casa da avozinha ele engoliu-a de uma vez — o que, segundo o conceito materialista de Marx indica uma intenção crítica do autor, estando oculta aí a idéia do capitalismo devorando o proletariado — e ficou esperando, deitado na cama, fantasiado com a roupa da avó.

Passaram-se quinze minutos (diagrama explicando o funcionamento do relógio e seu processo evolutivo através da História). Chapeuzinho Vermelho chegou e não percebeu que o lobo não era sua avó, porque sofria de astigmatismo convergente, que é uma perturbação visual oriunda da curvatura da córnea. Nem percebeu que a voz não era a da avó, porque sofria de Otite, inflamação do ouvido, nem reconheceu nas suas palavras, palavras cheias de má-fé masculina, porque afinal, eis o que ela era mesmo: esquizofrênica, débil mental e paranóica pequenas doenças que dão no cérebro, parte-súpero-anterior do encéfalo. (A tentativa muito comum da mulher ignorar a transformação do Homem é profusamente estudada por Kinsey em “Sexual Behavior in the Human Female”. W. B. Saunders Company, Publishers.) Mas, para salvação de Chapeuzinho Vermelho, apareceram os lenhadores, mataram cuidadosamente o Lobo, depois de verificar a localização da avó através da Roentgenfotografia. E Chapeuzinho Vermelho viveu tranqüila 57 anos, que é a média da vida humana segundo Maltus, Thomas Robert, economista inglês nascido em 1766, em Rookew, pequena propriedade de seu pai, que foi grande amigo de Rousseau.”

(Millôr Fernandes, “Chapeuzinho Vermelho”, em “Lições de um Ignorante”).

Deixe um comentário

Arquivado em Literatura

A luta – ou da relação entre fonte e jornalista

Qual a semelhança entre a famosa luta de Muhammad Ali vs Goerge Foreman (sim, o cara que hoje vende grills) e uma entrevista para um jornalista? Aparentemente, nenhuma. Mas, como tudo na vida fica mais claro, bonito e poético com um boa metáfora, o media training que participei hoje foi uma experiência memorável. Logo no início, a instrutora colocou para rodar um trecho do filme “When we were kings”, que conta os bastidores e o passo a passo comentado da luta. Os cinco minutos exibidos mostraram como Ali construiu sua tática para enfrentar o campeão – e até então considerado imbatível — Foreman. Em seu processo de treinamento na África, onde foi realizada a luta graças a um golpe de marketing genial do empresário do boxe Don King, Ali enfrentou sparrings que batiam forte. Batiam até não poder mais. E ele apanhava, apanhava, apanhava (ou assim parecia). E batia também.

Foreman, enquanto isso, treinava batendo até dizer chega. Pobres dos sparrings que o enfrentavam. Para ele, Foreman, seu adversário ria dançar na pista, como sempre fazia. Ali era conhecido por ser um peso-pesado leve, com um jogo de pernas incrível, que o fazia rodar pelo ringue, desnorteando os adversários. Ali, resolveu mudar a estratégia na luta, como só se pode descobrir – da forma mais bizarra possível – no dia.

Nos quatro primeiros rounds, Foreman o massacrou. Na maior parte da luta, Ali ficou esmagado nas cordas levando porrada. Ele ia para frente, para trás, para o lado, sempre protegendo o rosto (órgãos vitais no combate), enquanto Foreman desferia potentes bombas no rim e nos braços. A grande e esperada luta mais parecia um acerto de contas de moleques do colégio. E para saborear ainda mais a cena, durante a pancadaria Ali provacava Foreman dizendo que não estava batendo forte, que ele podia mais etc. E assim foi a luta por quatro rounds – o limite dos adversários de Foreman. Era o máximo que agüentavam. De tanto bater, Foreman cansou. E Ali reagiu levemente no quinto assalto, acertando alguns socos no campeão. A luta seguiu naquele curso até o oitavo assalto, quando Ali emergiu do nada, encaixou seqüências perfeitas até derrubar Foreman. O improvável virou realidade enquanto Foreman tentava se levantar do solo do ringue. Ali venceu a luta e tudo o que ele não tinha se tornado aos olhos americanos. Tinha dito não à guerra do Vietnã e perdeu tudo, inclusive o nome Cassius Clay, que trocou pelo muçulmano Muhammad Ali. E, só de birra, quis enfrentar o campeão. A contracultura contra o status quo. O povo contra a guerra. Os negros contra a elite.

Mais tarde, em entrevista sobre a luta, foi perguntado como tinha apanhado tanto e não tinha caído. Ali respondeu que não, claro que ele não tinha apanhado. Na verdade, havia absorvido golpes. Sim, isso foi verdade. No seu treinamento, ele ficava nas cordas levando soco de toda sorte, para exercitar a musculatura e agüentar melhor o impacto. Na sua estratégia para a luta, Foreman imaginava que Ali ficaria vagando pelo ringue. No início, parecia melhor do que ele imaginava. Afinal, estava do jeito que um boxeador em vantagem gosta, prensando o adversário contra as cordas. O que ele não esperava era aquela postura improvável — e vencedora — de Ali. Uma luta para não esquecer.

E a relação entre fonte e jornalista, tem o quê a ver com isso? Uma entrevista é um embate intelectual entre fonte e jornalista. Se a fonte tiver musculatura (ou seja, credibilidade, referência, pontos positivos na imprensa), vai absorver melhor os golpes. Uma bela metáfora. Valeu o dia.

Antes de acabar, indico um livro genial que conta a história dessa luta. Chama-se “A Luta” e foi escrito por Norman Mailer, genial escritor americano que morreu recentemente. A luta é só um pretexto para Mailer contar o contexto e tudo o que essa incrível luta que representou.

Deixe um comentário

Arquivado em Jornalismo, Literatura

Troca de livros 2.0

A vida não tem sido fácil. Dia-a-dia corrido pacas. Para o blog não ficar parado, segue aqui uma dica da Estante Virtual, uma genial invenção para quem não conhece. É uma rede de 400 sebos espalhados pelo Brasil. É claro que não é a mesma coisa que vasculhar in loco, mas quebra um bom galho quando você precisar achar algum livro fora de catálogo. Agora, lançaram uma promoção bacana. Vejam o e-mail que recebi:

“Caros leitores,

A escalada dos números da Estante não é novidade. Todos crescem exponencialmente sem parar, desde o lançamento, há 3 anos. Livros, sebos, livreiros virtuais, leitores, leitores vendedores, vendas, acessos, buscas.Também não é novidade que além de números, chegam também histórias muito interessantes. Pessoas que encontraram livros de familiares escritos há décadas, livros esgotados imprescindíveis às suas teses de doutorado, ou mesmo livros seminovos ainda em edição por uma fração do preço das livrarias convencionais. Chegam histórias também de sebos recém-inaugurados, fundados por livreiros virtuais que começaram suas atividades na Estante e viram seus negócios darem tão certo que se motivaram a abrirem uma loja física.

“Então, Estante, tem alguma novidade?” Sem dúvida, temos sim! Vamos a ela então! Esta semana estamos lançando um serviço inédito no país: o Programa Nacional de Troca de Livros.

Você leva nos sebos os seus livros seminovos e ganha créditos para adquirir seu próximo livro. E a avaliação é justa, nada de 1 real por livro! Na troca por livros do acervo do sebo, seu livro vale 25% do preço atual nas livrarias convencionais.

O programa marca uma inovação no mercado editorial – interligando sebos e leitores em um fluxo virtuoso de troca de livros seminovos. A aquisição do próximo livro se torna muito mais acessível, uma vez que o livro que se acabou de ler pode ser usado como forma de pagamento.

Mas não é só. A inovação vai além disso! O programa marca também uma inovação no comércio brasileiro:

Em alguns sebos você pode também fazer a troca por um vale-compras virtual. Seus créditos são remetidos pelo sebo a uma carteira virtual, administrada pelo Pagamento Digital e vinculada ao seu email. Você pode então usá-los para adquirir livros aqui na Estante, nos mais de 400 sebos Brasil afora que aceitam o Pagamento Digital! Nessa modalidade de troca seu livro vale 20% do preço das livrarias.

A relação dos já mais de 100 sebos participantes, bem como o regulamento completo do programa, você confere neste link: http://www.estantevirtual.com.br/programadetrocas

Abraços e boas trocas!

André Garcia
Criador / Diretor
http://www.estantevirtual.com.br

1 comentário

Arquivado em Literatura, Nova Sociedade

Call your boss, please

– Selamat Pagi! – dizíamos para dar bom-dia em Bahasa.
– Pagiiii….. – respondiam.
– Apa Kabar?
– Apa Kabar.
– How are you today, my friend?
– Ok. Bagus, Bagus!
– Bagus! Bali Bagus! Wonderful place. We like it very much. Nice and friendly people.
– Thank you – diziam entre um sorriso envergonhado e quase orgulhoso.
– Can you open it so we can to Balangan?
– What you do there? – perguntavam no inglês macarrônico, com a curiosidade típica balinesa. Sempre queriam saber o que estávamos fazendo ou o que iríamos fazer.
– We go surfing. Ombak bagus!
– Ok, But first you pay!
– Oh, my friend… But we are Brazilians, we came from a poor country. Don’t have money.
– 20 000 rupiah!
– Sorry… We don’t have. Call your boss, please.

1 comentário

Arquivado em Literatura, Surfe, Viagens

Ego, sabedoria e respiração

Algumas reflexões sobre um almoço que tive ontem com dois grandes amigos.

1. “O ego fere a índole”. Foi uma frase ouvida no almoço. Li um livro legal sobre isso na maternidade, enquanto a Juliana descansava, à espera do Vicente (foram 15 horas de parto!). Chama “A New Earth – Awakening to your life’s purpose”. É de um sujeito chamado Eckhart Tolle. Ele fala em autoconhecimento e sobre descobrir o seu propósito na vida. Segundo ele, para que isso possa acontecer, é necessário antes se livrar do ego. Para ele, o ego tenta a todo o momento dominar o pensamento e é bastante sedutor para isso. È um papo-para-lá-de-cabeça, mas quantas vezes não somos seduzidos a ‘aparecer’ aqui ou ali sem se dar conta dos impactos que isso possa causar. Para refletir…

2. Outra frase: “Você é muito inteligente, mas não é sábio.” Essa um dos amigos, budista, ouviu de um lama. Ele recebeu essa mensagem como mantra. Profunda. Inteligência é uma coisa, mas sabedoria é outra totalmente diferente. Para ser sábio, tem que ser inteligente. Mas não adianta ser inteligente para ser sábio. Rumo à sabedoria, esse amigo repete esse mantra sem parar.

3. Um coach americano escreveu um livro com dicas para presidentes de empresas (CEOs.) Chama-se “What got you here won’t get you there.” Uma dica simples e poderosa é a terceira coisa que destaco do almoço. Respire antes de falar qualquer coisa. Uma das pessoas que começou a praticar isso, segundo o autor do livro Marshall Goldsmith, deixou de falar, emitir uma opinião, em 80% das vezes. Isso vale para líderes de equipes em momentos de discussão, quando um subordinado dá uma idéia. Se o chefe comenta em cima dessa idéia, ela pode deixar de ser de quem falou e passa a ser do líder, pela força de sua palavra. Isso é ruim, pois desmotiva as pessoas. Outras vezes, o que você vai falar é irrelevante para o momento. Esse mesmo autor fala que isso ajuda a deixar de interromper as pessoas. Quantas vezes no ímpeto de falar algo você atropelou alguma pessoa? Um dos amigos no almoço contou ter interrompido as pessoas mais de 40 vezes em um dia.

Três pontos interessantes para se pensar nesse final de ano.

1 comentário

Arquivado em Literatura, Questões

Escrever é preciso

Fui acometido de uma sanha escrevedora nessas ‘férias’ ou nos dias em que fiquei em casa pós-nascimento do Vicente. Fazia tempo que eu não escrevia tanto. No meu dia a dia, costumo escrever muitas linhas, mas, com honrosas exceções, escrevo e leia tantas coisas quase iguais que acabo achando que estou sempre a escrever a mesma coisa. A repetição (ou coerência) é  importante para passar a mensagem que precisa, mas uma hora cansa!

A boa notícia é que há outras coisas sobre as quais escrever! Por exemplo, sobre o nascimento do Vicente, sobre as travessuras do Augusto, sobre livros etc. Um dos chefes que tive lembrou que mais importante era ficar escrevendo para não enferrujar… Sobre isso, achei um trecho genial num livro maravilhoso que ganhei da Juliana. O livro chama Carta a D. – História de um Amor (editora CosacNaify), de André Gorz, filósofo e jornalista austríaco, um dos principais inspiradores de Maio de 68 e autor de um texto que fala que a verdadeira missão humana é tornar o planeta mais acolhedor.

Gorz escreveu uma carta de amor a Dorine, sua companheira de mais de 60 anos e que de tanto se amarem cometeram o mais extremo ato de amor: o suicídio conjunto. É um livro bastante profundo e reflexivo. O trecho que destaquei:

“Você dizia que tinha se unido a alguém que não podia viver sem escrever, e sabia que quem quer ser escritor precisa se isolar, tomar notas a qualquer hora do dia ou da noite; que seu trabalho com a linguagem continua o mesmo depois de largar o lápis, e pode inesperadamente se apossar dele por completo, bem no meio de uma refeição ou de uma conversa. (…) Amar um escritor é amar que ele escreva, dizia você. ‘Então escreva!’  (…) O principal objetivo do escritor não é o que ele escreve. Sua necessidade primeira é escrever. Escrever, isto é, ausentar-se do mundo e de si mesmo para, eventualmente, fazer disso a matéria de elaborações literárias. É apenas num segundo momento que se põe a questão do tema a ser tratado. O tema é a condição necessária, necessariamente contingente da produção de escritos. Não importa qual tema é o melhor, desde que ele permita escrever. Durante seis anos, até 1946, eu mantive um diário. Escrevia para conjurar a angústia. Não importava o quê; eu era um escrevedor. O escrevedor só se tornará um escritor quando a sua necessidade de escrever for sustentada por um tema que permita e exija que essa necessidade se organize num projeto. Somos milhões a passar a vida escrevendo, sem nunca terminar nem publicar nada. Você mesma passou por isso. Você sabia, desde o início, que precisaria proteger meu projeto indefinidamente.”

Sábias palavras de Gorz. Lembro bem de um texto que escrevi sobre a importância do dedo mindinho da mão logo que aprendi a datilografar. Era justamente o caso. Não interessava o assunto (besta, besta), o importante naquele caso foi escrever alguma coisa… até para testar a destreza do mindinho!

2 Comentários

Arquivado em Literatura