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O melhor de 2010 (final) + inspiração para 2011

Vamos lá, com a última parte do melhor de 2010 aqui no Blog. Seguem os cinco posts mais acessados do ano. Numa análise rápida e rasteira, vou tentar explicar o que aconteceu abaixo.

Os post #4 e #1 são um tanto aberrações. Aparecem aí mais pela busca no google do que por qualquer outra coisa. No post  #1, sobre Brasil, buscas sobre semana de arte moderna, arte moderna etc levam a ele. Somente porque coloquei uma imagem do Abaporu, com legenda Mas é um post legal (tem alguns “likes”, fala de perspectivas do Brasil, tem um video inspirador ao final. Enfim, mostra que se usarmos os termos certos, a internet faz aparecer! O do Obama também aparece pelas buscas. Ambos são de 2009 e continuam aí.

Bom, vamos descartar estes e considerar os outros como realmente campeões de 2011.

O post #5 fala dos impactos da construção da usina de Belo Monte. Tem a reprodução de um artigo escrito pela Marina Silva no período da eleição. Acho que ganhou ibope pela onda verde, mas não só por isso, também por ser muito didático e direto ao ponto. O #2 é bem legal, conta a aventura dos caras que surfaram no arroio Dilúvio, em Porto Alegre. Muito antes de eu conhecer a fundo a história do surfe na Pororoca, via o principal embaixador do assunto, meu amigo Serginho Laus. Pessoal do surfe sempre em busca de novas fronteiras.

Mas o post entre os mais populares e do qual mais gosto é o #3, que falou sobre a loucura da baleia Orca que matou um dos treinadores. Trabalhei no Sea World, onde isso aconteceu, e acho que entendo direitinho os motivos da baleia. Vai lá, é um post mais pessoal, gostei de escrever.

Antes de deixar os links, queria compartilhar aqui com vocês o e-mail que recebi do pessoal do WordPress, avaliando a “performance” deste blog em 2010. Veja o que escreveram:

“Números apetitosos

Imagem de destaque

Um navio de carga médio pode transportar cerca de 4.500 contentores. Este blog foi visitado 17,000 vezes em 2010. Se cada visita fosse um contentor, o seu blog enchia cerca de 4 navios.

Em  2010, foram 88 novos posts, aumentando para 283 posts o arquivo deste blog.

O dia mais ativo foi em 6 de novembro, quando foi publicado o post TEDxAmazônia e a seca do século.”

Achei meio boba a comparação com os navios, mas enfim, ficam os números.

E aí vão os post mais acessados de 2010.

5. Entenda o impacto da construção da usina de Belo Monte

4. Vitórias rápidas de Obama

3. A baleia Orca e a falta que faz a liberdade

2.O surf no arroio Dilúvio em Porto Alegre

1. Da arte de ver a floresta e não só as árvores

Inspiração para 2011

Já pensando em 2011, e lembrando que retorno à rotina daqui algumas horas, segue um video publicitário da RedBull para lembrar que neste ano, surfei em 85% dos dias!

Continuando na natureza e na inspiração, este video fala que o “crescimento é para sempre”. Desde que com renovação e na natureza, ok. Ao contrário do crescimento da economia, que se for para sempre, como querem os economistas, vai trazer muitos problemas (ainda mais que os que já temos) para a raça humana no planeta.

Economia, dinheiro, bancos. Encontrei agora este vídeo na internet, naquelas incríveis voltas que a web dá. Excelente trabalho, fechando o ciclo de inspiração. Vamos que vamos!

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Marina Silva 2.0

Em agosto passado, fiz uma brincadeira aqui no blog, falando da “Obama Brasileira”. Foi uma alusão aos primeiros ensaios de candidatura da Marina Silva à presidência. De longe, na época, parecia que Marina ia tentar trilhar os passos de Obama, no sentido de promover o novo, resgatar a esperança na política e mobilizar as pessoas para uma visão diferente de País.

Nitidamente, Marina está querendo seguir estas pistas. No conteúdo, com as devidas diferenças de envergadura de país e background político, e também na forma.

Na semana passada, Marina Silva lançou seu twitter (www.twitter.com/silva_marina) e o blog Minhamarina.org.br. Achei interessante no texto que ela admite não ser nenhuma supermulher e que obviamente contará com ajuda para manter o diário atualizado.

No Twitter, uma matéria do Estadão dava conta que em apenas 14 dias, Marina chegou a 1 300 seguidores no Twitter. Comparava com José Serra, que já está há muito mais tempo e conta com mais de 160 mil seguidores. (Números atualizados:

O balança da campanha virtual de Barack Obama à presidência america, apresenta números de peso, conforme compilados no livro “Um voluntário na campanha de Obama”, de César Busatto, Editora Coletiva:

  • a lista de e-mails de Barack Obama é formada por mais de 13 milhões de endereços  – e mais 5 milhões de apoiadores se reuniram em diversas redes de relacionamento;
  • a assessoria do candidato enviou mais de sete mil diferentes mensagens ao longo da campanha;
  • o número de e-mails encaminhados superou a 1 bilhão;
  • o número de pessoas que se inscreveram para receber mensagens de texto por telefone chegou a 1 milhão;
  • no dia da eleição, pelo menos 3 mensagens de texto foram enviadas a cada eleitor inscrito no programa;
  • os apoiadores de Obama recberam, em média, entre 5 e 20 mensagens por mês, dependendo de onde viviam;
  • foram escritas cerca de 400 mil postagens de blog;
  • mais de 5,4 milhões de ususários clicaram o botão “Eu votei”, no dia da eleição, para avisar seus amigos do Facebook que eles haviam comparecido às urnas.

Será que a equipe de Marina vai ter o mesmo fôlego. Dados os percentuais nas pesquisas eleitorais, vai ser preciso muito fôlego para ter chances reais de concorrer à Presidência. Principalmente porque no Brasil apenas 30% da população tem acesso à internet, enquanto nos EUA são 74%, de acordo com http://www.internetworldstats.com/ .

Se depender da mobilização individual, estamos aí para fazer a diferença. Por enquanto, pelo que fez, pensa e traz, meu voto é da Marina Silva. Vamos ver a equipe e o plano de governo.

PS: A mesma matéria falava que Marina Silva é mantenedora de utopias. Acredito que seja mesmo. E utopia, na minha visão, é algo extremamente útil, para dar uma direção de mundo para a sociedade.

Sustentabilidade, por exemplo, é uma grande utopia. Nenhuma empresa, País ou sociedade será extremamente sustentável como os Na’Vi, de Pandora, no filme Avatar. É impossível no jeito em que aprendemos a pensar e a conceber o mundo (Einstein: “Não dá para resolver os problemas do mundo com a mesma mentalidade que usamos para criá-los). Sustentabilidade é uma utopia, sim, que aponta caminhos e possibilidades de se construir uma relação mais estável, segura e viável com o planeta em que vivemos.

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O Greenpeace acertou de novo – campanha para COP15

E a COP15 está rolando em Copenhague. Mais de 30 000 pessoas inscritas para um lugar onde caberiam 15 000. Acho que escolheram a cidade errada para um evento de tamanha importância, com o incrível potencial de decidir o futuro da humanidade. Talvez essa seja a visão negativa. A visão positiva é que o evento ganhou tanta relevância que nem os organizadores esperavam tanto… E aí lotou. Acho que é um bom sinal.

E falando em chamar a atenção, o Greenpeace conseguiu de novo! A campanha que fizeram para chamar a atenção da sociedade civil sobre o papel dos governos no evento em Copenhague é genial. Por alguns motivos:

– Projeta no futuro o possível impacto de uma decisão que está sendo tomada agora – todo mundo sempre quer saber sobre o futuro e por isso chama a atenção. Principalmente pela projeção de idade dos principais líderes mundiais;

– Tem o timing perfeito (começou na semana passada, logo antes do início da COP15);

– Ganhou visibilidade mundial. No Brasil, foi para as páginas da revista mais lida no país;

– Ajuda a dimensionar bem o impacto das decisões dos líderes atuais escolhidos pela própria sociedade e que estão com mandato para tomar decisões que vão impactar a todos no médio prazo.

Há quem diga que o Greenpeace é controverso, que há interesses por trás e tantas outras coisas. Pode ser, mas é inegável a capacidade de comunicação que possuem.

Compartilho aqui três destas peças da campanha “I’m sorry”.

Quem quiser ver todas, só clicar aqui.

Tendo os publicitários tanto poder em influenciar decisões das pessoas, é um desperdício ver mensagens jogadas ao vento, sem reflexão. Propaganda besta, como muitas que vemos por aí e que de nada ajudam a sociedade a evoluir. Pode ser ingenuidade minha achar que toda peça de propaganda deveria fazer isso. Ok, se não isso, que ao menos propaganda responsável já seria algo bastante produtivo.

Dito isso, vale aqui uma referência ao post sobre propaganda bunda-mole. Não conheço o autor do blog, mas já dei uma espiada por lá e achei bacana. E como sempre vale a pena a boa propaganda, vale também linkar para uma boa reflexão.

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Prêmio Nobel para a Colaboração ou o fim dos síndicos de prédios

Não tinha prestado a atenção devida à escolha do Prêmio Nobel de economia deste ano. Até hoje, quando li algo sobre isso na coluna do Elio Gaspari, na Folha deste domingo. Chamou a atenção o fato de a premiada, Elinor Ostrom, ser mulher, mas o foco foi para o lado errado. Ostrom estuda a colaboração, a inteligência coletiva. Um de seus livros tem o título (tradução livre): “Governando Comunidades com Áreas de Uso Comum” e tem como exemplo comunidades de pescadores do Japão, sistemas de irrigação espanhóis, entre outros.

A tese de Ostrom desmente a ideia de que a propriedade comum acaba em colapso econômico e destruição do meio ambiente, conforme disse Gaspari. Isso é balela. A inteligência de dez pessoas numa sala é muito maior do que o da pessoa mais inteligente. Precisamos (nós, humanidade) aprender como utilizar isso cada vez mais. Pricipalmente nesse momento é que é preciso reinventar o estilo de vida e encontrar novas maneiras de se relacionar com o planeta. Continuar confiando somente nas lideranças atuais é como disse Albert Einstein inócuo. “Não é possível resolver os problemas usando a mesma mentalidade com que foram criados.” É preciso pensar diferente. E colaborativamente…

(Se esse pensamento fosse mais disseminado, talvez não mais existisse espaço para os síndicos de prédios! Que apesar de estarem lá para facilitar, quase sempre acabam tumultuando as decisões coletivas. É ou não é? Reunião de condomínio é para desacreditar na capacidade altruísta da raça humana…)

Abaixo, o que Gaspari escreveu. E quem quiser saber mais sobre a economista, a Wikipedia tem boas informações.

PS: Podem falar que o Nobel da Paz foi precipitado para o Obama, mas o que eu acredito mesmo é que a academia sueca está é bastante antenada para onde o mundo está indo e o quê as pessoas estão valorizando. Para Obama foi, na verdade, um prêmio para a esperança e boa fé na humanidade. (O pessoal da academia sueca deve morar em casas, sem frequentar reuniões de condomínio!)


ÀS VEZES A PATULEIA ENSINA AOS SÁBIOS Uma pessoa capaz de lembrar que “o mundo tem problemas, mas as universidades têm departamentos” deveria ganhar algum prêmio. Elinor Ostrom ganhou o Nobel de Economia sem ser economista e escreveu um livro onde só há algarismos na numeração das páginas. Seu estilo pode ser seco, mas entende-se tudo o que diz. Chama-se “Governing Commons” (Governando Comunidades com Áreas de Uso Comum, numa tradução livre).
A professora Ostrom dissecou comunidades de pescadores do Japão, sistemas de irrigação espanhóis e grupamentos de suíços. Seu objetivo foi desmentir a ideia segundo a qual a propriedade comum acaba em colapso econômico e destruição do meio ambiente. Pelo contrário, desde que sejam respeitados alguns princípios (e ela ensina quais) a propriedade comum funciona, e bem.
Quem acredita na eficácia da criação das regiões metropolitanas e na centralização das delegacias educacionais pode ler na internet um trabalho da professora (infelizmente, em inglês), intitulado “A Análise de Políticas no Futuro das Boas Sociedades”.
Ostrom mostra como essas ideias perderam adeptos, diz porquê e recomenda, entre outras coisas, que se acredite menos em reformas concebidas por sábios e mais naquilo que as comunidades têm a dizer.
Chega-se ao artigo passando “Policy Analysis in the Future of Good Societies” e “Elinor Ostrom”, no Google.

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Vamos perder o foco!

Por dever do ofício (e por gosto mesmo) acompanho discursos. Nada como colocar uma palavra certa no lugar certo. Nada como inspirar pelas palavras. E nada como ver o efeito disso nas pessoas. Nos últimos dias, recebi dois discursos maravilhosos. O primeiro foi surpreendente. Veio via blog Nosso Futuro Comum (link ao lado) e fala sobre discursos de formatura. Gostei da quebrada no pensamento comum, do desafio aos mitos. Vale a reflexão logo abaixo. Gosto principalmente do momento em que o autor sugere que se ‘perca o foco’.

O segundo não foi surpreendente pois veio da equipe da Casa Branca responsável pelos discursos. Foi o discurso de Barack Obama na volta às aultas americanas. Uma bela peça que chega até a dar vontade de voltar às aulas! O poder das palavras…

Um discurso bom sempre é contemporâneo, atual, faz  a ligação com o momento. Ponto alto para a passagem em que Obama fala da importância das aulas até para criar ferramentas como Google, Twitter e Facebook. Falando a língua da garotada. E aqui, lembro de outra frase, de Nelson Mandela: “Se você falar com um homem na língua que ele entende, a mensagem vai para a cabeça. Se você falar com esse homem na língua dele, a mensagem vai para o coração.” Um discurso bem feito fala para o coração…

Discursos de Formatura

Posted: 09 Sep 2009 11:05 AM PDT

Por favor se comentar deixe um email para contato.

Fernando Lanzer Pereira de Souza

Logo estaremos no final do ano, época em que milhões de jovens passam pelos ritos de passagem que são as cerimônias de formatura, tanto no Segundo Grau como na Universidade. Invariavelmente essas cerimônias incluem um belo discurso, proferido por um “paraninfo” convidado pela turma de formandos. Cabe ao paraninfo inspirar aos formandos (e a seus parentes e amigos da platéia), espelhando o júbilo da comunidade com o acontecimento e oferecendo sábios conselhos para que os jovens enfrentem a vida que têm pela frente. Estive na platéia várias vezes, assistindo às formaturas das minhas filhas (tenho quatro filhas, duas formadas na Universidade, uma no Segundo Grau, uma a caminho).

A maioria dos discursos que assisti (ao vivo ou em video) são realmente inspiradores e oferecem grande valor moral, tanto para os jovens quanto para os velhinhos da platéia (como eu). Suas palavras reforçam nossos valores éticos coletivos e expressam a esperança de que as novas gerações levarão adiante esses valores e alcançarão novos patamares, criando um mundo melhor e uma sociedade mais justa para as gerações seguintes. Infelizmente, nem todos os discursos que assisti foram assim. Na verdade, alguns deles eram “uma cerda”, como diria o “Cillôr Fernandes”…

Permita-me explicar. Existem alguns mitos na nossa sociedade, que são justamente aquelas noções que me fazem ter vergonha desse mundo, que fazem nossa sociedade ser ainda muito injusta e precisando de grandes mudanças. Esses mitos precisam ser denunciados e destruídos. Precisamos todos lutar contra eles e especialmente os jovens precisam evitar que se propaguem e perpetuem. A última coisa de que precisamos é ver esses mitos exaltados e recomendados num discurso de formatura… Nesse “rito de passagem”, os jovens precisam ser inspirados a mudar o “status quo” e não a manter uma sociedade tão necessitada de mudança.

Portanto, ofereço a seguir meus comentários com o objetivo de desmantelar alguns desses mitos. Espero com isso ajudar os jovens a manter seu espírito crítico diante de algumas bobagens às quais serão submetidos no final de ano. Peço perdão pela minha eventual falta de moderação. Faço exageros de propósito, para contrabalançar a exaltação desses mitos que precisam ser destruídos.

Mitos a Destruir

Em muitos discursos se ouvem exaltações ao Trabalho, à Disciplina, ao Foco. As pessoas recomendam aos jovens que estudem com afinco e que desenvolvam sua capacidade de Raciocínio e sua Força de Vontade. Na verdade, essas noções foram desenvolvidas nas culturas dos anglo-saxões e dos germânicos e são noções que alimentam uma atitude de que “só existe um determinado jeito certo de fazer as coisas, os outros estão todos errados”. Essa atitude inclui uma tendência a tentar impor esses valores sobre todo o planeta, até ,mesmo pela força. Exemplos disso foram as invasões do Iraque e do Afeganistâo, bem como as operações da OTAN no leste europeu, tentando impor uma “democracia” à força, mesmo que milhares de pessoas tenham que morrer no processo. Um pouco na linha do “prendo e arrebento quem for contra a abertura”, para não ir muito longe. Está na hora de acabarmos com essas coisas.

O Foco pode ser uma coisa boa, mas também é fácil “passar do ponto” e acabar transformando uma coisa boa num desastre. É como “o lado negro da Força”, para quem foi fã de “Guerra nas Estrelas”. Uma virtude levada ao exagero logo se transforma em defeito. O Foco se transforma em bitolamento. Ele leva você a ficar alienado do que está acontecendo à sua volta. O excesso de foco leva à irresponsabilidade ambiental (falta de responsa-habilidade, ou seja, capacidade de responder adequadamente ao que acontece no ambiente).

Margaret Wheatley chama nossa atenção ao fato de que os animais não são “focados”. Pelo contrário, os animais dedicam atenção igual ao que estão fazendo (comendo, bebendo, caçando, brincando, acasalando, alimentando os filhotes) e ao que está se passando à sua volta. Porisso, são capazes de fugir dos seus predadores (como o “Homem”) quando surge uma ameaça. Os animais podem dedicar metade de sua atenção ao que estão fazendo, mas sempre reservam uma outra metade para o que se passa a seu redor. Ao exaltarmos a necessidade de “focar”, estamos nos distanciando do nosso meio-ambiente e nos tornanndo mais vulneráveis a ameaças.

Não estou falando apenas do nosso ambiente físico. Isso se aplica também a nossas relações interpessoais e à economia. Os executives dos bancos de investimento que criaram a “bolha” do mercado imobiliário americano e a posterior crise de crédito no Mercado internacional estavam todos muito bem focados! Estavam focados em ganhar dinheiro e ganhar bonus espetaculares. Perderam o contato com o impacto que estavam provocando na economia e na sociedade como um todo. Não perceberam os sinais de que a bolha estava prestes a estourar, mas os sinais estava, lá, por toda parte. Muitos inclusive viram os sinais anunciando o dsastre iminente, mas preferiram ignorá-los. Estavam focados demais em salvar seus traseiros e resolveram deixar que o Mercado “se exploda”, como dizia a Rita Lee.

Portanto, ao invés de aconselhar os formandos a “manter o foco”, prefiro dizer “percam o foco!” Jamais percam sua capacidade de perceber o que está acontecendo à sua volta. Jamais percam sua noção do que as pessoas à sua volta estão fazendo, pensando e sentindo. Estejam sempre dispostos a largar o que estão fazendo para interagir com outras pessoas. Jorge Luis Borges disse que, no seu leito de morte, as pessoas não se arrependem de não ter passado mais tempo no escritório. Elas não desejam ter focado mais tempo nas suas carreiras. Pelo contrário, se arrependem de não ter feito o oposto. Se arrependem de ter colocado foco demasiado no seu trabalho e não terem dedicado tempo suficiente aos relacionamentos com outras pessoas e com o mundo ao seu redor. Se arrependem de não ter passado mais tempo em contato com a natureza, caminhando de pés descalços no barro ou sentindo a chuva batendo no rosto.

A Disciplina é exaltada de tal forma que até parece que penitência é coisa boa. A auto-limitação é uma forma de disciplina e ela também é exaltada. Os conselhos dados incluem que devemos resistir à tentação de aproveitar a vida e nos sentirmos livres para fazer o que quisermos. Ao invés disso, devemos “ter disciplina”, ao ponto de sacrificar seus próprios juízos e sentimentos em prol de executar o que algum maluco mandou fazer. Essa é a justificativa de todos os crimes de guerra, dos nazistas aos torturadores da CIA. “Estávamos cumprindo ordens”. De novo, o “lado negro da Força”. A disciplina levada ao exagero leva à irresponsabilidade.

Na verdade, a disciplina deve vir de dentro de cada um, e não imposta de fora para dentro. A disciplina vinda de dentro tem mais a ver com engajamento, ao invés de comprometimento (a diferença pode ser sutil, mas é muito importante).

O engajamento tem a ver com inspiração e não com seguir ordens de terceiros. Tem origem na paixão, nas emoções, e não na obediência a normas externas.

Caros integrantes da Turma de 2009: (todos que estão se formando este ano, quer seja no Segundo Grau ou na Universidade), quero exortá-los a serem mais engajados e menos disciplinados. Sejam fiéis ao seu coração, mais do que à sua cabeça. Estejam conscientes do que estão sentindo, não só do que estão pensando. Decidam o seu próprio caminho, ao invés de seguir cegamente o caminho de outros. Escutem seu corpo e seu coração tanto quanto sua mente.

O trabalho duro pode às vezes ser sinal de burrice, portanto não deve ser exaltado “per se”. Você pode acabar se matando ou provocando acidentes que matam as pessoas à sua volta se você trabalhar sem pensar. Trabalhar duro só pelo esforço exigido pode ser uma forma de auto-punição. Pense no que você está tentando realizar, ao invés de simplesmente se esforçar ao ponto de exaustão. Você não está fazendo penitência. Você deve estar tentando conseguir algum resultado com o seu trabalho, alguma coisa que vai gerar valor para outras pessoas. O trabalho é um meio, não uma finalidade em si. A finalidade última do trabalho é fazer desse mundo um lugar melhor para todos. Se você pensar no trabalho como um fim em si mesmo, você vai acabar ficando dopente ou maluco e vai levar os outros à sua volta também à loucura. E se estiver trabalhando na coisa errada, pode gerar dano ao invés de benefício. Uma explosão acidental pode matar a você e aos seus colegas. É o mesmo que atirar nos seus aliados ao invés de nos seus inimigos. Um exemplo terrível, dentre vários acontecidos na Segunda Guerra Mundial: houve mais civis franceses mortos sem querer pelos próprios Aliados durante a invasão da Normandia do que vítimas civis inglesas durante toda a Guerra. E depois criticam-se os franceses por não demonstrarem gratidão aos ingleses e americanos que os “liberaram”…

Trabalhar com a cabeça é melhor do que trabalhar sem pensar. Descobrir um jeito melhor de se fazer as coisas é melhor do que repetir as coisas do mesmo jeito, cada vewz com mais esforço. Trabalhar com a cabeça evita acidentes. E não esqueçam também de amar, além de trabalhar.

Ao ser perguntado por um jornalista sobre qual seria o critério para definir se alguém é doente mental ou é sadio, Sigmund Freud deu uma resposta simples: “amar e trabalhar”. Uma pessoa sadia é capaz de amar e trabalhar. Expressar carinho pelos outros e produzir algo de valor. Este é o melhor conselho para os formandos: amem e trabalhem. Pessoalmente, eu manteria inclusive esta ordem de importância, embora não saiba se essa era a intenção de Freud.

Estudar com afinco, para mim, também é um mito, baseado nos mitos da supremacia do pensamento racional e da força de vontade e da disciplina. Não me entendam mal, não estou dizendo que ninguém deva estudar. O que estou dizendo é que estudar, para mim, é aprender alguma coisa pela qual você tem interesse. Você não precisa estudar “duro”. Se você não tem interesse por um assunto, não vai aprender esse assunto gastando horas e horas lendo e re-lendo textos quando você preferia estar fazendo outra coisa. Ficar sentado recitando páginas e páginas para si próprio não leva à aprendizagem. A aprendizagem só acontece quando envolve suas emoções. Não se trata de raciocínio, nem de força de vontade para forçar-se a fazer alguma coisa pela qual você não tem nenhum interesse genuíno.

A aprendizagem tem mais a ver com o engajamento e o talento natural e não com o comprometimento e a força de vontade. Se você tiver interesse, vai aprender qualquer coisa, por pior que seja o professor. Um bom professor é aquele que desperta o interesse dos alunos, ao invés de tentar impor “disciplina”. Os melhores aprendizes e alunos são os que se apaixonam pelo assunto. Aprender se torna mais fácil e fonte de prazer. O segredo está em estar em sintonia com suas emoções e sentimentos, sentir-se “completo” e não um escravo da sua mente racional. Assim fazendo, você descobrirá as coisas que despertam sua paixão e terá muito prazer em aprender cada vez mais sobre elas.

Conclusão

Meus caros integrantes da classe de 2009, procurem descobrir qual é o seu jeito individual preferido de aprender, como pessoa. O processo de aprendizagem é singular, diferente para cada um. Cada pessoa aprende de uma forma ligeiramente diferente de outra. Isso sempre envolve mais o seu lado emocional do que o seu lado racional. Tem mais a ver com oseu talento do que com a sua força de vontade. Conheça a si mesmo (Sócrates já disse isso, não é novidade). Procure tornar-se “completo”, plenamente consciente das suas emoções, pensamentos e sensações. Deixe seu talento natural desabrochar. Isso vai lhe ajudar a encontrar seu próprio cvaminho. Continue aprendendo sempre. Sofrer como um mártir não é pré-requisito para ser feliz ou bem sucedido.

O melhor discurso de formatura que vi neste ano foi o do Prof. Tweedie, um professor do Segundo Grau na Escola Internacional de Amsterdam. Não falou em “vencer”, nem em “foco”, “disciplina” ou qualquer dessas bobagens. Falou sobre o que ele observava olhando pela janela do seu escritório na escola, vendo as crianças do jardim de infância brincando no pátio, na hora do recreio. Ele percebeu que ás vezes uma criança caía de algum brinquedo e esfolava um braço ou um joelho. Ele notou que sempre surgia um coleguinha para ajudar o outro a levantar do chão, dando um tapinha nas costas, oferecendo um gesto de apoio ou uma palavra de consolo. Este foi o conselho do Prof. Tweedie aos formandos: ofereçam apoio, ajuda e consolo quando alguém cair. Isso vai fazer do nosso mundo um lugar melhor para todos. Foi uma lição aprendida das crianças e não de algum “guru” consagrado. Concordo cem por cento com a sua mensagem. E acho que temos muito mais a aprender com nossos filhos do que com alguns “gurus” que andam por aí.

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A Obama brasileira?

Será que teremos uma Obama brasileira (no sentido de criar novas possibilidades, horizontes e visão de país)? Marina Silva está “causando” somente com sua possível candidatura. A turma da sustentabilidade já está feliz da vida, os comentaristas econômicos e políticos já estão aventando possibilidades para o xadrez da eleição. E agora o PT está para lá de preocupado com o que pode acontecer.

Independente do desdobramento, uma coisa é certa: a discussão é mais do que bem-vinda e Marina já conseguiu muita coisa.

Vejam o que Sérgio Abranches falou em sua coluna, no blog ecopolítica. (Valeu pelo texto, Gabi – http://gabiindeutschland.blogspot.com/)

O fator Marina influi nas candidaturas do PT e do PSDB

Sérgio Abranches

“Marina Silva (PT-AC) deixou em todos os interlocutores a certeza de que será mesmo candidata a presidente da República, durante as 32 horas que permaneceu em Rio Branco (AC) para ouvir familiares, amigos e aliados políticos a respeito do convite para trocar o PT pelo PV”, informa o jornalista acreano Altino Machado, em seu blog.

Entre os interlocutores, muitos eram emissários do presidente Lula, tentando convencê-la a não sair. De repente, a certeza na candidatura Dilma Roussef (PT-RS) parece ter ficado meio abalada. Lula falou em, reunião recente, que seria preciso “consagrar todas as políticas em uma lei para que nenhum engraçadinho venha destruir essas coisas”. Referia-se aos programas sociais do governo. Sinal de insegurança sobre o resultado eleitoral? Ele vinha dizendo que tinha certeza que elegeria sua candidata. Recentemente, em mais de um momento, deu sinais de que percebe uma disputa mais difícil do que imaginava a princípio. Será que tem pesquisas, mostrando problemas na candidatura de Dilma Roussef? Que o Planalto tem pesquisa, certamente. O que elas realmente estão indicando tem sido um segredo compartilhado apenas pelos íntimos da campanha.

A perspectiva da candidatura de Marina Silva acendeu a luz amarela no painel de controle político do Planalto. Dilma Roussef sentiu-se confortável para dizer que Marina Silva não deveria sair. Como ela é candidata em exercício, não é opinião que a ex-ministra do Meio Ambiente fosse ouvir. Era mais um recado ao PT, para sair em campo e evitar a candidatura. Mas, ao que tudo indica, nem mesmo os interlocutores do presidente que têm a amizade de Marina Silva estão conseguindo demovê-la.

Hoje na Bahia, segundo se lê também no blog de Altino Machado, o jornalista Vitor Hugo Soares, no Bahia em Pauta, registra a seguinte declaração do governador Jaques Wagner: “Tenho que ser sincero: a luta da Marina tem ganhado um projeção cada vez maior no cenário nacional e mundial. Nós não temos a menor possibilidade de pressioná-la para mudar o que pensa e faz”. O contexto era solenidade na UFBA, hoje, em Salvafor,  à qual compareceu, em que Marina Silva recebeu o título de doutora Honoris Causa.

Altino Machado diz, no Blog da Amazônia, que Marina Silva, deu a alguns interlocutores a chave que desfaz a dúvida sobre sua decisão. Teria dito a eles, todos petistas, que: “vocês não precisam me acompanhar. Permaneçam no PT e mantenham a coesão da Frente Popular do Acre, para que possam ser ampliadas as conquistas até aqui alcançadas nos três mandatos consecutivos de nosso partido. Esse é um projeto político que tem dado certo no Estado.”

Poder ser uma despedida, um conselho político e uma liberação de compromissos dos mais chegados a ela no PT, com seu novo caminho.

Os proto-candidatos do PSDB, José Serra (SP) e Aécio Neves (MG) comemoraram. Serra, com parcimônia, porém falando de afinidades com a plataforma verde de Marina e que o PV é seu aliado em São Paulo. Aécio, apesar de ser o mineiro, foi mais explícito, especulou sobre a possibilidade de aliança com Marina Silva no segundo turno.

Se ela for para o segundo turno contra Dilma Roussef, o PSDB provavelmente a apoiaria. Se for uma disputa PSDB x PT, tenho dúvida se Marina ficaria contra seu partido de vida e de coração.

É claro que as razões que a levam a deixar o PT estão fundadas na frustração com a agenda ambiental atrasada do presidente Lula e o desrespeito representado por entregar a condução da política para a Amazônia ao ex-ministro Mangabeira Unger. Mas também deve pesar a decepção com o comportamento ético da cúpula petista, quase sempre do lado errado, como no caso agora com José Sarney, que a constrange por ser da bancada petista no Senado.

O PSDB não tem melhores credenciais para apresentar, em várias áreas. Foi leniente com seu ex-presidente Eduardo Azeredo, no caso do mensalão. Abriga aliados de ruralistas, que defendem trabalho escravo e o fim da legislação de proteção à Amazônia. Muitos de seus parlamentares usam e abusam da privatização dos recursos do legislativo e praticam o nepotismo. É do PSDB, aliás do senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), a lei mais atrasada e obscurantista sobre controle da internet.

Tanto José Serra, quanto Aécio Neves, têm muito bons secretários de Meio Ambiente. Mas a questão ambiental e climática ainda permanece como um acessório nos dois governos e não como vetor principal das decisões, como Marina Silva pensa que deva ser. Marina está em boa companhia nessa convicção: concordam com ela as principais lideranças social-democráticas européias, o presidente Obama, do EUA, o primeiro-ministro Gordon Brown, do Reino Unido, e lideranças mais conservadoras como Angela Merkl, da Alemanha, e Nicholas Sarkozy, da França.

Muitos setores petistas vêem, equivocadamente, a candidatura de Marina Silva, como uma espécie de linha auxiliar da candidatura tucana de José Serra. Sua função seria tirar votos de Dilma para ajudar a eleger Serra. Fora a visão conspiratória, essa análise não tem fundamento.

Essa eleição tem tudo, menos resultado certo no momento. A vantagem de Serra nas pesquisas é recall, terá que ser confirmada na campanha. Se ele for candidato e conseguir converter os 30% de pesquisa que tem hoje em voto, pode se qualificar para o segundo turno. Tanto Dilma, quanto Marina, quanto Ciro Gomes têm, em princípio, condições de se qualificar também. Se o candidato for Aécio, todos ficam mais ou menos nivelados na partida. É claro que Marina Silva aumenta a competição e ocupa espaço próprio, podendo tirar votos tanto de quem disputar representando o status quo do PT, quanto de quem disputar pelo PSDB. Não há favoritos hoje nessa disputa ainda longínqua.

Em que espaços ela disputa com Dilma, podendo levar vantagem? Entre os eleitores petistas – e não são poucos – desencantados com o comportamento ético do partido; entre os ambientalistas do PT; no eleitorado feminino; no eleitorado jovem, muito mais simpático a uma mensagem ambientalista que tenha credibilidade; no eleitorado negro; no eleitorado com preocupações sociais; no Norte.

Mas ela disputa espaço também com os tucanos, Serra ou Aécio: no eleitorado jovem; no eleitorado feminino; no eleitorado negro; no eleitorado com preocupações sociais; no eleitorado ambientalista não-petista (existem e não são poucos); no Norte-Nordeste.

Marina Silva não fará o discurso da eficiência, embora possa ficar tentada a fazê-lo em relação à sua gestão no Meio Ambiente. Mas o centro de sua campanha será uma proposta sócio-ambientalista. Se ela puxar muito para o lado extrativista e comunitário, perde espaço junto à classe média urbana, que quer ver uma proposta com maior conteúdo científico e tecnológico para o enfrentamento da questão climática e proteção da Amazônia. O discurso extrativista tem força no Norte-Nordeste e em parte da esquerda do Centro-Sul, mas deixaria o eleitorado urbano dessas regiões, com preocupações ambientalistas, porém mais ao centro do espectro ideológico, aberto à pregação dos tucanos.

A agenda mundial imporá a todos os candidatos o discurso ambiental e climático. A questão-chave será a credibilidade dele. Como o carro-chefe da campanha de Dilma é o PAC, totalmente anti-ambiental e contrário à redução do teor de carbono da economia, sua credibilidade nesse tema será muito baixa. Ficará entre Marina Silva e os tucanos.

É evidente que essa eleição não será decidida pela questão ambiental. Mas ela terá peso porque sensibiliza a parte mais educada – e formadora de opinião da classe média – especialmente os mais jovens, com menos de 40 anos. Não é uma fatia desprezível do eleitorado. Numa eleição muito competitiva, pode ser um fator significativo.

Outra vantagem de Marina Silva é ser um fator novo. Novidades sempre atraem o eleitor indeciso, sobretudo em momentos de profundo desencanto político como o que se vive hoje. Aconteceu com Obama. Ele acendeu a chama da esperança em eleitores que, provavelmente, não votariam naquela eleição. Aqui, seriam os 20% de votos nulos e brancos, mais um percentual que não é possível estimar, de faltosos. Pode chegar a algo como 25%. Imaginemos que uma candidatura nova, icônica, como a de Marina Silva, com uma biografia que, como expressão de superação pessoal, de auto-desenvolvimento, valorização da educação como instrumento de ilustração e mobilidade, não tem paralelo na política brasileira, consiga reverter metade dessa alienação eleitoral. Captaria em torno de 12% de eleitores que, em outras circunstâncias, por desencanto anulariam o voto, votariam em branco ou viajariam para não votar e poder justificar a ausência. Se, naquelas fatias do eleitorado, conseguir 14%, como diz o PV que ela teria, estamos falando de uma candidatura de 25%, arredondando. Não precisão em pesquisas, tão distantes da disputa, sem a campanha começar e que ainda podem nem passar de rumor. Nessa hipótese, com todas essas cautelas, poderia ser bastante competitiva no quadro de 2010.

É claro que há outros fatores, como o tempo de TV, reação dos setores mais conservadores do empresariado, do mercado e da sociedade, que operam contra Marina. Mas, esses, ela pode, ainda superar. Marina pode obter a adesão de outros partidos. Na TV, há um tempo mínimo necessário. Além dele, o programa eleitoral começa a ficar cansativo e perde audiência. A eficácia do tempo de TV é crescente até esse limite e cadente, a partir dele.

Também é preciso lembrar que, com muito pouco tempo de TV, Heloisa Helena (PSOL-AL) ficou em terceiro lugar, porque captou exatamente uma parte do voto dos desencantados. A campanha dela acabou perdendo fôlego porque foi se afastando do discurso crítico e indignado que esses eleitores esperavam dela. Tampouco ela tinha uma proposta programática abrangente como a que Marina Silva pode ter, mas o fato de ela ter hoje intenções de votos perto dos 10%, sem ter mandato e sem exposição na mídia, mostra que há demanda para uma candidatura alternativa “às que estão aí”.

Para não enfrentar bloqueio de setores mais conservadores, Marina Silva terá que apresentar assessores econômicos que sejam confiáveis. Tem a vantagem de que não precisam ser o que a esquerda chama de “neoliberais”. A crise econômica e as mudanças na política econômica na Europa e no EUA, superaram essa fase. Hoje a doutrina dominante é mais regulatória, até por causa da centralidade da questão climática. Ela deixaria de ser competitiva se reproduzisse a visão econômica atrasada do governo, um modelo requentado dos anos 60 e 70, de alto carbono, que não tem qualquer viabilidade no século XXI. Mas esse modelo é antagônico à pauta ambiental, já foi apropriado por Dilma Roussef, pode até ser adotado também pelo PSDB, hoje vazio de idéias novas, mas não caberia jamais no figurino de Marina.

Em resumo, a candidatura de Marina Silva, se acontecer mesmo, não é um fator desprezível e influi na competitividade tanto da candidatura do PT, quanto do PSDB.

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O político mais popular da Terra

Vejam só o que Barack Obama falou de Luis Inácio Lula da Silva na reunião do G20 hoje. Incrível ter um presidente assim. Lula deveria ser estudado por Harvard como um case de político carismático.

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Qual o seu ponto?

Até o dia 30 de março, está sendo feita uma consulta à sociedade para a escolha do tema do próximo Relatório de Desenvolvimento Humano Brasil, do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento).

A ideia é levantar uma questão que possa ser abordada no relatório. Dentro os vários pontos, fico com dois: empreendedorismo e educação.

Temos um ambiente pouquíssimo propício para a criação de empresas (e trabalho) no país. O Brasil é o recordista entre os piores no tempo de abertura de empresa, na quantidade de impostos, na legislação antiquada etc. A lista vai longe. Isso apesar do fato de que a grande maioria das vagas que são criadas está nas pequenas empresas. Em 2002, fiz uma matéria sobre o assunto, mostrando a pujança das pequenas empresas. Desde então, pouco feito para melhorar o ambiente para os empreendedores, além do trabalho de ONGs como Endeavor e de órgãos como o Sebrae. Mas enquanto o tema não entrar na lista de prioridades do governo, pouco vai evoluir.

Sobre educação, cito apenas o exemplo da Coreia do Sul, que em três décadas saiu de posições marginais entre os países mais desenvolvidos do mundo para figurar entre os principais. Simplesmente porque resolvu investir em educação. No site do Todos pela Educação, movimento apoiado por grandes empresas, há muita informação sobre o tema. Esse movimento tem chance de causar a mudança. Não adianta querer dizer o contrário, as grandes transformações estão sempre acompanhadas de capital (com exceções notáveis como Gandhi). E se as grandes empresas apoiam, a chance de dar certo é alta.

(Acabei de encontrar esse trecho sobre educação na internet.

“Vejo a Reforma da Educação como um dos maiores desafios de nosso país. Em parte porque se trata de uma questão econômica: não podemos desenvolver nosso potencial econômico quando tantos estudantes saem do segundo grau e nunca vão para a universidade. E parte porque se trata de uma questão de justição social: como um país, nós colocamos os estudantes que mais precisam para as escolas de terceira classe, onde eles nunca têm a ajuda que pode tirá-los da pobreza.

Engraçado é que não se trata do Brasil, mas dos EUA – foi escrito pelo colunista do NY Times Nicholas Krystoff, falando sobre o discurso de educação que Barack Obama acabou de fazer. A ficha caiu: Ou seja, se o país líder do mundo se preocupa com isso e nós não quer dizer que não seremos líderes tão cedo…)

Sobre o Relatório do PNUD, segue abaixo o e-mail que recebi:

“Peço que divulguem para suas redes, suas bases, seus blogs e páginas, suas famílias, seus amigos, seus colaboradores, suas comunidades, sua gente.
O próximo Relatório de Desenvolvimento Humano Brasil está em processo. Será pioneiro e, talvez, modelo para futuros Relatórios da ONU.
Pela primeira vez os dados estatísticos, todos os números, cifras, percentuais, índices terão alma.
Está sendo conduzida uma Consulta à Sociedade para a escolha do foco e do tema desse nosso Relatório.
Isso dará cor, cheiro, gosto, sensibilidade à radiografia da qualidade de vida no Brasil.
A Consulta termina dia 30 de março. Até lá, quanto mais contribuições vindas de todos nós, mais rico e relevante será o Relatório.
O objetivo é devolver o Relatório à Sociedade, depois de concluído, como ferramenta de conscientização e mobilização, de ação mesmo.
A utopia é virmos a ter um país mais justo e equilibrado, com mais desenvolvimento humano, além de crescimento.

http://www.brasilpontoaponto.org.br”

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EUA agora tem Diretor de Informação para lidar com Web 2.0

São decisões desta envergadura que anunciam a mudança que Barack Obama falava quando estava em campanha. Ontem mesmo a Casa Branca anunciou a nomeação do Chief Information Officer (ou algo como Diretor de Informação).  O escolhido é Vivek Kundra, 34 anos, que exercia essa função no distrito de Columbia. Kundra terá poderes sobre os gastos com tecnologia em todo o país, sobre o compartilhamento de informações entre as agências governamentais e também sobre questões de segurança e privacidade.  A ideia é que expanda o alcance da tecnologia para auxiliar a governar o país, assim como a diminuir os custos por meio da tecnologia.

Em 19 meses no Distrito de Columbia, Kundra colocou contratos da cidade no YouTube e tornou o Twitter comum no seu escritório e em outros. Ele quer fazer ainda com que os motoristas possam pagar multas ou renovar a licença no Facebook.

O site do seu escritório Web site oferece o que chama de “Praça Pública Digital”, com links para informações de questões como crime, estacionamento e turismo. Contém um mapa com os pontos onde é possível acessar internet sem fio, informações sobre bibliotecas e até um widget (ferramenta eletrônica) com informações ao vivo sobre remoção de neve.

Em Outubro, Kundra lançou um concurso chamado “Apps for Democracy”, em que moradores enviaram 47 sugestões de aplicações para oferecer boletins de crime pelo telefone e outras informações sobre a cidade. A campanha custou 50 mil dólares e a estimativa é que tenha economizado  2,6 milhões de dólares com o valor que teria que ser usado para contratar desenvolvedores.

Kundra disse ainda que vai criar um o site Data.Gov para deixar informações do governo disponíveis para os cidadãos.

Kundra se refere aos cidadões como co-criadores, o que diz muito sobre o jeito de pensar e encarar a oferta de serviços públicos num mundo em evolução rápida e constante, como estamos vivenciando hoje. E, de fato, todos são co-criadores à espera de poder exercer seu potencial.

Uma frase de Kundra: “Uma interação de mão dupla entre o governo e os cidadãos vai requerer uma transformação importante por parte do governo para garantir que possa lidar com essa nova realidade.” Acredito que boa parte dos cidadãos também tenha que aprender com isso.

A ficha caiu. E no Brasil, como seria isso? Estamos um pouco longe. Um líder empresarial costuma dizer que no Brasil aprendemos a ser consumidores de produtos (para reclamar nossos direitos de consumidores), mas ainda precisamos aprender a ser consumidores de cidadania (para cobrar questões relativas à cidadania).  Concordo em gênero, número e grau.

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Hora do planeta – 28/03/2009, 20h30

Gosto das manifestações que surgem virtualmente. O poder de mobilização é incrível. Recentemente, li “Um voluntário na campanha de Obama”, de Cezar Busatto, lançado pela Editora Coletiva. O prefácio do livro apresenta os números da campanha digital de Obama:

  • a lista de e-mails de Barack Obama é formada por mais de 13 milhões de endereços  – e mais 5 milhões de apoiadores se reuniram em diversas redes de relacionamento;
  • a assessoria do candidato enviou mais de sete mil diferentes mensagens ao longo da campanha;
  • o número de e-mails encaminhados superou a 1 bilhão;
  • o número de pessoas que se inscreveram para receber mensagens de texto por telefone chegou a 1 milhão;
  • no dia da eleição, pelo menos 3 mensagens de texto foram enviadas a cada eleitor inscrito no programa;
  • os apoiadores de Obama recberam, em média, entre 5 e 20 mensagens por mês, dependendo de onde viviam;
  • foram escritas cerca de 400 mil postagens de blog;
  • mais de 5,4 milhões de ususários clicaram o botão “Eu votei”, no dia da eleição, para avisar seus amigos do Facebook que eles haviam comparecido às urnas.

Uma mobilização que deu no que deu. (Sem isso, Obama provavelmente teria perdido para McCain e os EUA estariam procurando um novo país para atacar no lugar de buscar saídas para as guerras do Iraque e do Afeganistão, onde já chafurdam. )

Nesse momento, há outra mobilização em andamento. É a Hora do Planeta, que tem o objetivo de chamar  a atenção para o aquecimento global por meio de 1h no escuro no mundo inteiro, no dia 28 de março. No Brasil, será às 20h30.

Compartilho abaixo a mensagem que recebi falando nisso:

============

É simples: que tal uma hora com as luzes desligadas no dia 28 de março,
sábado, 20:30? Nesse movimento, governos, empresas e a população de todo o mundo são convidados a apagar as luzes para demonstrar sua preocupação com o aquecimento global. A mensagem precisa ser clara e contundente: agora no final do ano em Copenhague precisamos ser muito mais ambiciosos quem em Kyoto para reverter a curva de crescimento da emissão dos gases do efeito estufa.

Mande sua mensagem também para quem está a frente dessas decisões:

1. Desligue a iluminação de sua casa e as luminarias/letreiros da sua
organização

2. Mobilize sua cidade para apagar a iluminação de monumentos tal como
foi feito ano passado na opera de Sidney, no Coliseu em Roma, na Golden
Gate em São Francisco, em todo centro de Atlanta. Esse ano teremos muito
mais como por exemplo a adesão da cidade do Rio de Janeiro.

3. No dia reúna sua família, seus amigos, as crianças, acendam velas,
conversem e debatam soluções para diminuir a nossa pegada sobre a
natureza e o planeta.No ano passado foram 35 países, 370 cidades, 2,2
milhões de pessoas em Sidney, 58 % dos adultos na Austrália, milhares de
blogs… Esse ano é a sua vez de juntar-se a essa manifestação
planetária.

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