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O melhor de 2010 – parte 2

Redes sociais, TED, publicidade e tecnologia foram os assuntos da segunda leva de post mais acessados do ano.

O post sobre o TEDx SP é de 2009 e ainda continua dando ibope. Sinal da relevância do conteúdo e da mágica do TED em ação!

Um artigo que me deu gosto especial de ver aqui e que está entre os meus preferidos é o da Devassa. Na penúltima edição da revista Exame, havia uma matéria falando do fracasso da campanha e de como o investimento não retornou conforme a cervejaria gostaria que fosse. Para mim, é um exemplo da anti-relevância. Mulher gostosa por mulher gostosa, toda propaganda de cerveja tem. É uma mensagem vazia, não traz valor algum para a sociedade. A pergunta que todo publicitária deveria fazer com uma quantia enorme de dinheiro na mão seria: que tipo de mensagem vou promover tendo o poder econômico (verba publicitária) nas mãos? Alguns fazem Devassa, outros fazem campanhas inteligentes, como a Patagônia, Natura e outras empresas, gerando valor para a marca. Outros apenas devassam a marca.

E falando em sentido dos negócios, fiquei feliz de ver entre os mais acessados o post com o que falei no TEDx Santos (infelizmente o vídeo ainda não está no ar). Falei sobre o poder das empresas de mudar o mundo. É isso, em que direção você coloca seus valores e a vontade de fazer a diferença. Não se trata apenas de fazer negócios, mas sim de fazer negócios que façam sentido.

Também fez sucesso a imagem com um processo de decisão sobre comprar ou não comprar um iPad. Falando nisso, a Apple vem enfrentando problemas na China, na fabricante de iPhones e iPad Foxxcon, onde trabalhadores estão cometendo suicídio devido às condições de trabalho. Quase ninguém que compra estes aparelhos se preocupa com isso. E enquanto for assim, as condições permanecerão ruim por lá… Ou seja, os consumidores, baseados nas suas decisões de compra ou pressão nas empresas, podem ajudar a mudar o mundo.

Fique agora com a segunda leva dos mais acessados e mais umas fotos ao final.

15. Devo ou não comprar um iPad?

14. A origem da Devassa

13. O incrível TEDxSP e sua ebulição de ideias

12. O poder das empresas de mudar o mundo

11. Porque o Twitter é útil

O refeitório do Keble College, lembrando Hogwarts, palco de networking no TED Global

Keble College, em Oxford. Em 2011, o TED Global dá adeus à Inglaterra e vai para Edimburgh, na Escócia

Visual de trás das ondas, em Potrero Grande, no Pacífico Norte da Costa Rica. Aqui fica um dos parques nacionais que cobrem 25% do país, a maior taxa de preservação no mundo

Pôr-do-sol em Tamarindo, em mais um final de dia mágico na Costa Rica

Leia mais:

TED Global – dia 1

Refeições a la Hogwarts

“Every day in Costa Rica is like a dream”

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Everyday in Costa Rica is like a dream

Bob, garantindo a vida de sonho na Costa Rica

“Desde quando vocês vivem aqui?”- perguntei.

“Faz 5 anos e 3 meses”, respondeu Bob, de cabelo branco raspado e couro cabeludo esbranquiçado contrastando com a cor bronzeada da pele que reveste um corpo esquálido, com não mais do que 5% de gordura.

“Vocês vieram juntos?”, apontei para a filha, que separava fotos da sessão de ondas na Playa Negra, em um sofá confortável, de almofadas vermelhas revestindo a madeira nativa, emoldurados por uma enorme prancha de longboard que não deve entrar na água há um bom tempo.

“Ah, sim, eu, minha esposa, três filhos e duas netas!”

“E até quando vão viver aqui?”

“Até o último dia da minha vida”, respondeu com olhar seguro por trás de um óculos redondo de fino aro preto.

“Então, vocês gostam mesmo daqui!”

Pausa… Suspiro.

“Everyday in Costa Rica is like a dream”, respondeu em tom grave, solene e orgulhoso.

Bob encontrou seu espaço no paraíso. Quando saímos da água, sua filha, cujo nome ficou na Costa Rica, veio correndo até nós. Apontou para seu pai e disse: “temos boas fotos de vocês na sessão de hoje”. E nos entregou um cartão plastificado onde lia-se: Bob Stonefish Photography.

Depois das ondas, as fotos

Para os surfistas solitários, o pacote de fotografias custa 50 dólares. Nós, que estávamos em quatro, pagamos 20 dólares cada um. Levamos 350 fotos para casa.

Valeu, Bob!

“Eu e meu pai surfávamos juntos praticamente todos os dias lá em Oregon”, lembrou a filha.

Na beira da água quente da Costa Rica, Bob garante o sustento da família. A casa é simples e as netas brincam no jardim repleto de vegetação luxuriante típica da América Central.

Logo antes de Bob descer do segundo andar e dizer que todo dia na Costa Rica era como um sonho, sua filha ainda tinha dúvidas.

“Você gosta daqui?”, perguntei.

“Sim, este lugar é demais. Só fico preocupada com as oportunidades para minha filha. Ela não aprende nada na escola.”

“Mas ela só tem 5 anos!”- respondi.

“Sim, mas já podia estar aprendendo alguma coisa, como o ABC, números. Mas nem isso. Acho que vamos voltar para Oregon. Lá ela terá mais oportunidades.”

Qual o caminho para a neta de Bob?

Na hora de ir embora, a filha de Bob nos pediu uma carona até a praia, para brincar com a filha.Eram 2h da tarde. A menininha nos contou de seu dia-a-dia na escola, alternando entre inglês e espanhol. Tinha o cabelo loiro, lindos olhos verdes, pele alva. E não passou protetor solar. “Esqueci de trazer”, disse sua mãe. E este foi mais um dia de sonho na Costa Rica.

Everyday in Costa Rica is like a dream...

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A pedra bruxa

Roca Bruja, Costa Rica, upload feito originalmente por Rodrigo VdaC.

Esta é a Roca Bruja, uma pedra no meio do nada, na Playa Naranjo, noroeste da Costa Rica. Lá fica uma famosa onda, chamada também de Witch`s Rock, pois é destino preferido de surfistas do mundo inteiro. Este lugar abriga um das dezenas de parques nacionais que cobrem 25% do território da Costa Rica.

Fica a foto enquanto não coloco mais informações sobre a viagem por aqui. Mais fotos estão no flickr.com/rodrigocvc

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Pura vida

 

O mapa da Costa Rica, que lembra um caranguejo

 

A preocupação com o meio ambiente está por todo o lado na Costa Rica. Desde no grip de papelão que envolve o copo de café quente a la Starbucks até na coleta seletiva, praticamente onipresente.

 

Ecogrip para segurar o café

 

 

Coleta Seletiva está por todo lado

 

Aqui está o maior percentual de parques de preservação por área total do país no mundo. 25% do país está protegido. As estradas quase sempre cortam áreas verdes. Estive aqui há 13 anos. Muita coisa mudou obviamente, mas o desenvolvimento não conseguiu tirar a beleza deste local. O sorriso do rosto, ao contrário, só aumenta.O que mais se escuta é Pura Vida, expressão que carrega um modo de viver, um jeito gostoso de olhar a vida.

Claro que nem todos têm a vida que gostariam. Há pobreza, sim, mas pelos lugares que tenho passado, é muito menos miserável do que na Nicarágua, por exemplo, vizinha que está seguindo os passos do país irmão mais ao Sul.

Há placas em inglês por todos os lados e o dólar é moeda corrente. Cerca de 2 milhões de estrangeiros visitam o país todo o ano.  Os gringos certamente trazem desenvolvimento a este local. O desafio será deixar intacto uma região que está somente a duas horas e meia de voo da Flórida. Hoje, na água, alguns ticos, como são conhecidos os costarriquenhos, falavam dos altos preços das casas na Playa Negra, uma das melhores para surfe por aqui. Falavam em casas que haviam sido vendidas por quase 1 milhão de dólares. O lugar está a cerca de 15km de Tamarindo e pode ser chamado de tudo, menos de desenvolvido. Há apenas algumas pulperias (armazéns) e um ou outro restaurante na beira da estrada. Há, claro, o campo de futebol 11, como se vê em quantidade inversamente proporcional ao futebol da seleção da Costa Rica. Um milhão de dólares é quanto custa ter uma casa grande e confortável no paraíso. E quando sentirem saudades de casa, ali em Tamarindo, a poucos quilômetros de distância, os americanos vão encontrar um restaurante Subway ou uma Pizza Hut.

 

Pura vida!

 

Acho que está é a concessão dos costarriquenhos para manter este lugar incrível. Afinal, um povo que acabou com o exército na década de 40 para investir em saúde e educação sabe muito bem sobre o que é importante para continuar se desenvolvendo sin perder la ternura jamás. Pura Vida!

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No país mais feliz do mundo

E aqui estamos novamente na Costa Rica. Em qualquer lugar que se vai é fácil de confirmar a fama e estudos que dizem que este é o país mais feliz do mundo. Basta pedir uma informação, circular pela rua, ser parado pelos policiais ou mesmo mostrar o passaporte na imigração para ver o sorriso estampado no rosto de qualquer um. Enquanto não escrevo mais por aqui (afinal, sobra pouco tempo para outras coisas que não surfar por aqui!), aí vão alguns links sobre felicidade e Costa Rica.

O que fizemos de errado?

O que faz um país feliz?

O que faz um país feliz – parte 2

TED Global – dia 1

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O lado obscuro da preservação ambiental na Costa Rica?

Sempre falo bem da Costa Rica aqui no blog. Já escrevi sobre os rankings de felicidade entre os países aqui e aqui. Publiquei também o maravilhoso discurso do presidente Oscar Arias, perguntando sobre o que nós, latinos, fizemos de errado. Desta vez queria colocar um contraponto – ou confirmar se é verdade ou não o que recebi por e-mail.

As fotos abaixo vieram acompanhadas do título: VERGONHA MUNDIAL NAS PRAIAS DA COSTA RICA! ROUBAM OS OVOS PARA VENDER.

Pela cor da areia, tez da pele e feições das pessoas, tudo indica que é da Costa Rica mesmo. Não conheço muito sobre preservação de tartarugas e se seria o caso de recolher os ovos para algo. Me parece o que é no e-mail mesmo, roubo… O problema é que esses e-mails que circulam às vezes não são o que parecem. As fotos não tem datas, não tem fontes, circulação livremente sem nenhuma referência…

Se alguém tiver alguma luz sobre esse assunto, favor comentar.

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O que faz um país feliz – parte 2

Mais sobre o post de ontem sobre o que faz a Costa Rica ser um dos países mais felizes do mundo, se não o mais. Encontrei um contraponto do pessoal do Freakonomics, que levantou uma discussão interessante dizendo que há outras maneiras de medir e que não é bem assim. Não vou entrar aqui na questão, pois é uma muito técnica. Para quem quiser, vale ler aqui. O que fica, porém, é o seguinte: em todos os rankings analisados, a Costa Rica é o país que sempre está entre os mais felizes, mesmo que não seja o primeiro. Não há nenhuma fórmula mágica, mas vale, sim, prestar atenção na relação entre felicidade e cuidado ao meio ambiente. Mas, ao final, Justin Wolfers, autor do artigo, menciona que não se pode perder de vista que o desenvolvimento econômico, que é esmagadoramente a principal explicação para um país estar no topo das tabelas de felicidade.

Será mesmo? Não é o que diz o Happy Planet Index. Vejamos os dez primeiros: Costa Rica, Rep. Dominicana, Jamaica, Guatemala, Vietnã, Colômbia, Cuba, El Salvador, Brasil e Honduras! Não são todos reconhecidamente países exemplares em desenvolvimento econômico. A questão é: o que queremos medir? O desenvolvimento econômico apenas? Mesmo considerando que desastres de carro ou mesmo terremotos como o do Haiti são bons para o PIB, afinal a reconstrução vai mobilizar dinheiro para lá? Ou precisamos olhar as questões de forma mais abrangente, considerando itens como satisfação de vida, expectativa de vida, impacto no meio ambiente etc?

Para encerrar, resgato aqui um trecho de um discurso de Kennedy: Robert Kennedy: “O que faz a vida valer a pena é a saúde de nossas crianças, a qualidade de sua educação, a alegria de suas brincadeiras, a força de nossos casamentos, nossa devoção ao país, nosso humor, sabedoria e coragem. E nada disso se mede no PIB”.

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O que faz um país feliz?

Já havia escrito sobre a Costa Rica aqui e agora acho que vale voltar ao ponto. Principalmente, porque o tema felicidade volta a ser abordado. Na semana passada, o colunista Nicholas D. Kristoff, no NY Times, falou sobre o país depois de tê-lo visitado com a filha de 12 anos. Ficou impressionado com tudo o que viu e chamou a atenção para o fato de que o país é o mais feliz do mundo em três índices diferentes.

O primeiro é o World Database of Happiness, compilado por pesquisadores Holandeses a partir de pesquisas feitas pelo Gallup. Entre 148 nações, a Costa Rica é o país que fica em primeiro lugar a partir das respostas das pessoas à pergunta sobre qual o seu nível de felicidade em uma escala de 1 a 10. O Brasil está em 18º lugar, com média de 7,5. Os mais felizes são Costa Rica (8,5), Dinamarca (8,3), Islândia (8,2), Suíça (8,0) e Canadá (8,0). Veja a lista completa.

Pesquisadores também tentaram calcular a felicidade determinando “anos de vida felizes”, misturando felicidade autodeclarada com expecativa de vida. Costa Rica ficou em primeiro (66,7 pontos), Estados Unidos em 19º (58) e Zimbábue em último (12,5). O Brasil está acima da média com 53,6.

Uma terceira medida seria o “happy planet index,” da New Economics Foundation, que combina felicidade e longevidade, mas considera também o impacto ambiental. A Costa Rica também fica em primeiro. Nessa, o Brasil está bem, em 9º lugar. (Certamente esse índice não considera o ambiente político…)

Estive na Costa Rica por duas vezes. A primeira foi em 1997, na estreia em surftrips. Estava deslumbrado e era novo demais para me preocupar com a questão ambiental ou qual a importância dessas questões na felicidade das pessoas. Lembro bem de uma coisa, porém. E essa não escapa de nenhuma pessoa que pise por lá. O lema: “Pura Vida”. A felicidade era evidente na maioria das pessoas com as quais conversei. Obviamente, estar perto de turistas é sempre bom, pois significa fonte de receita, novidade, troca de experiências etc. De todo modo saí com a melhor das impressões.

Estive de volta lá em 2008. Desta vez, fiquei apenas no idílico lado do Caribe, no vilarejo de Puerto Viejo. Em um dos dias, depois de uma das intensas sessões de surfe que dão uma fome danada, parei para comer uma pizza de fatia. Achei que uma ia dar conta, mas precisei de outra. Quando fui pedir o segundo pedaço, a atendente olhou para a pilha de pratos plásticos e em seguida olhou para o balcão onde estava parado o prato que eu estava usando. Então, sem nem perguntar, ela pegou meu prato usado e disse: “Hay que cuidar del planeta”. E colocou ali o segundo pedaço de pizza.

Estou para ver consciência ambiental como essa em atendentes de pizzaria no Brasil ou mesmo em outros lugares. Não à toa, depois de 11 anos, o mesmo lugar, a costa caribenha, parecia absolutamente igual. Praias maravilhosas, algumas intocadas, sem especulação imobiliária à beira-mar. Gisele Bundchen, muita esperta, até comprou casa por lá, na costa do Pacífico, um pouco mais urbanizada, mas ainda assim bem cuidada.

E vale repetir aqui o que escrevi em outro post: A Costa Rica aboliu o éxercito na década de 40, e investiu toda a grana em saúde e educação. Um país bem educado, que valoriza a relação com a natureza e, não por acaso, está entre os países mais felizes do mundo.

Leia mais: O que fizemos de errado

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O que fizemos de errado?

Muito interessante essa reflexão do Oscar Arias, presidente da Costa Rica, na Cúpula das Américas, em Abril passado. Ao ler, lembrei do livro “As Veias Abertas da América Latina”, de Eduardo Galeano. Foi minha primeira leitura mais crítica (sei lá tinha, 15 – 16 anos) sobre as relações entre países. É claro que fiquei chocado com o que li, pois não tinha muita base para avaliar. Foi importante, sim, mas hoje vejo com reservas pelo tom panfletário que carrega, ainda que tenha visões muito interessantes.

Com o tempo, me identifico mais com visões mais pragmáticas como a de Oscar Arias. Jogar a culpa nos outros é fácil. Difícil é reconhecer os próprios erros, a falta de foco, de propósito e — ouso dizer — de perspicácia. Ver o Sarney tentando se equilibrar na corda bamba para ‘agarrar’ o poder é triste demais. Parece que ainda estamos parados no tempo — ou andando para trás.

A Costa Rica, para constar, aboliu o  éxercito na década de 40, e investiu toda a grana em saúde e educação. Será que foi por acaso escolhido o país mais feliz do mundo segundo o Happy Planet Index? Acredito que não. Estive duas vezes lá (para surfar – porque ninguém é de ferro) e vi na prática o quanto o país respira bons ares. Para se ter uma ideia, todos repetem incessantemente o “Pura Vida”, para dizer que tudo bem. É uma saudação, praticamente.

Dito isso, recomendo a leitura do discurso abaixo (recebi por e-mail da colega Andyara Santis, valeu!).

E pura vida para vocês.


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Palavras do Presidente Oscar Arias da Costa Rica na Cúpula das Américas em Trinidad e Tobago, 18 de abril de 2009.
“Tenho a impressão de que cada vez que os países caribenhos e latino-americanos se reúnem com o presidente dos Estados Unidos da América, é para pedir-lhe coisas ou para reclamar coisas. Quase sempre, é para culpar os Estados Unidos de nossos males passados, presentes e futuros. Não creio que isso seja de todo justo.
Não podemos esquecer que a América Latina teve universidades antes de que os Estados Unidos criassem Harvard e William & Mary, que são as primeiras universidades desse país. Não podemos esquecer que nesse continente, como no mundo inteiro, pelo menos até 1750 todos os americanos eram mais ou menos iguais: todos eram pobres.
Ao aparecer a Revolução Industrial na Inglaterra, outros países sobem nesse vagão: Alemanha, França, Estados Unidos, Canadá, Austrália, Nova Zelândia e aqui a Revolução Industrial passou pela América Latina como um cometa, e não nos demos conta. Certamente perdemos a oportunidade.
Há também uma diferença muito grande. Lendo a história da América Latina, comparada com a história dos Estados Unidos, compreende-se que a América Latina não teve um John Winthrop espanhol, nem português, que viesse com a Bíblia em sua mão disposto a construir uma Cidade sobre uma Colina, uma cidade que brilhasse, como foi a pretensão dos peregrinos que chegaram aos Estados Unidos.
Faz 50 anos, o México era mais rico que Portugal. Em 1950, um país como o Brasil tinha uma renda per capita mais elevada que o da Coréia do Sul. Faz 60 anos, Honduras tinha mais riqueza per capita que Cingapura, e hoje Cingapura em questão de 35 a 40 anos é um país com $40.000 de renda anual por  habitante.
Bem, algo nós fizemos mal, os latino-americanos.
Que fizemos errado?
Nem posso enumerar todas as coisas que fizemos mal.
Para começar, temos uma escolaridade de 7 anos.
Essa é a escolaridade média da América Latina e não é o caso da maioria dos países asiáticos.
Certamente não é o caso de países como Estados Unidos e Canadá, com a melhor educação do mundo, similar a dos europeus.
De cada 10 estudantes que ingressam no nível secundário na América Latina, em alguns países, só um termina esse nível secundário.
Há países que têm uma mortalidade infantil de 50 crianças por cada mil, quando a média nos países asiáticos mais avançados é de 8, 9 ou 10.
Nós temos países onde a carga tributária é de 12% do produto interno bruto e não é responsabilidade de ninguém, exceto nossa, que não cobremos dinheiro das pessoas mais ricas dos nossos países. Ninguém tem a culpa disso, a não ser nós mesmos.
Em 1950, cada cidadão norte-americano era quatro vezes mais rico que um cidadão latino-americano.
Hoje em dia, um cidadão norte-americano é 10, 15 ou 20 vezes mais rico que um latino-americano.
Isso não é culpa dos Estados Unidos, é culpa nossa.
No meu pronunciamento desta manhã, me referi a um fato que para mim é grotesco e que somente demonstra que o sistema de valores do século XX, que parece ser o que estamos pondo em prática também no século XXI, é um sistema de valores equivocado. Porque não pode ser que o mundo rico dedique 100.000 milhões de dólares para aliviar a pobreza dos 80% da população do mundo “num planeta que tem 2.500 milhões de seres humanos com uma renda de $2 por dia”.
e que gaste 13 vezes mais ($1.300.000.000.000) em armas e soldados.
*Como disse esta manhã, não pode ser que a América Latina gaste $50.000* milhões em armas e soldados.
Eu me pergunto: quem é o nosso inimigo?
Nosso inimigo, presidente Correa, desta desigualdade que o Sr. aponta com muita razão, é a falta de educação; é o analfabetismo; é que não gastamos na saúde de nosso povo; que não criamos a infra-estruturar necessária, os caminhos, as estradas, os portos, os aeroportos; que não estamos dedicando os recursos necessários para deter a degradação do meio ambiente; é a desigualdade que temos que nos envergonhar realmente; é produto, entre muitas outras coisas, certamente, de que não estamos educando nossos filhos e nossas filhas.
Vá alguém a uma universidade latino-americana e parece no entanto que estamos nos sessenta, setenta ou oitenta.
Parece que nos esquecemos de que em 9 de novembro de 1989 aconteceu algo de muito importante, ao cair o Muro de Berlim, e que o mundo mudou.
Temos que aceitar que este é um mundo diferente, e nisso francamente penso que os acadêmicos, que toda gente pensante, que todos os economistas, que todos os historiadores, quase concordam que o século XXI é um século dos asiáticos não dos latino-americanos.
E eu, lamentavelmente, concordo com eles.
Porque enquanto nós continuamos discutindo sobre ideologias, continuamos discutindo sobre todos os “ismos” (qual é o melhor? capitalismo, socialismo, comunismo, liberalismo, neoliberalismo, socialcristianismo…)
os asiáticos encontraram um “ismo” muito realista para o século XXI e o final do século XX, que é o *pragmatismo*.
Para só citar um exemplo, recordemos que quando Deng Xiaoping visitou Cingapura e a Coréia do Sul, depois de ter-se dado conta de que seus próprios  vizinhos estavam enriquecendo de uma maneira muito acelerada, regressou a Pequim e disse aos velhos camaradas maoístas que o haviam acompanhado na Grande Marcha: “Bem, a verdade, queridos camaradas, é que a mim não importa se o gato é branco ou negro, só o que me interessa é que cace ratos”. E se Mao estivesse vivo, teria morrido de novo quando disse que “a verdade é que enriquecer é glorioso”.
E enquanto os chineses fazem isso, e desde 1979 até hoje crescem a 11%, 12% ou 13%, e tiraram 300 milhões de habitantes da pobreza, nós continuamos discutindo sobre ideologias que devíamos ter enterrado há muito tempo atrás.
A boa notícia é que isto Deng Xiaoping o conseguiu quando tinha 74 anos.
Olhando em volta, queridos presidentes, não vejo ninguém que esteja perto dos 74 anos.
Por isso só lhes peço que não esperemos completá-los para fazer as mudanças que temos que fazer.
Muchas gracias.”

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Medo

Dez dias atrás, depois de um longo verão, consegui convencer meu principal brother de surfe em São Paulo, o Julio, a descer para a praia em busca do swell (ondulação) que estava previsto para encostar com força no litoral. O que para a maioria das pessoas se chama ressaca, para os surfistas é uma oportunidade de surfar altas ondas. A previsão no windguru.com era de 2,4m – tamanho suficiente para exigir preparo para entrar na água.

A noite anterior, como sempre acontece em dias que precedem surfe grande, foi de bastante expectativa. Certa vez li uma entrevista em que surfistas profissionais contavam que não dormiam quando sabiam que no dia seguinte enfrentariam ondas de 5, 6 até 7 metros (15 a 20 pés) em praias havaianas. Por mais que alguém goste disso, é sempre atemorizante saber que em um vacilo você pode ficar um bom tempo fora da água ou coisa pior.

Guardadas as devidas proporções, surfista de final de semana também tem suas aflições. Será que vou conseguir varar a arrebentação, entrar nas ondas ou ter coragem para descer as maiores? Em função da expectativa, não consegui dormir direito. Fui para cama à meia-noite e às 0h30 ainda tentando dormir. (Às 5h15 tocou o despertador. Cinco minutos depois eu estava em pé. Confesso que não é nada agradável acordar nesse horário, mas sei que a recompensa é matadora.)

Não era bem medo que eu sentia, era mais um certo receito das minhas condições e do que eu encontraria pela frente. Essa incógnita sobre o real tamanho das ondas e das condições do mar é um dos grandes chamarizes do surfe para mim. Nunca vai existir uma onda igual a outra. A onda perfeita está sempre por vir.

Medo eu já senti em Capão da Canoa, no mar marrrom, bravio e frio, a quase 500m da costa, com ondas de 2m. Já senti na Indonésia, com as séries entrando em Nungas (na ilha de Sumbawa), com 4m de altura. Já senti na Costa Rica, quando as ondas estavam crescendo no final da tarde e eu já não enxergava mais nada, esperando pela última do dia, que nunca vinha. Já senti na Califórnia, quando foi preciso entrar no mar pelas pedras para surfar em Steamer Lane, Santa Cruz, e dividir o outside (além da arrebentação) com leões marinhos defendendo seu território. Já senti também em Padang-Padang (Bali), quando minha prancha quebrou ao meio no dia de maior mar da temporada e o canal não me deixava chegar remando na praia. Já senti em El Barco, Punta San Jacinto, na Baja California, quando o furacão passou à margem da costa e trouxe ondas de 3m de altura. Já senti em Manzanillo, na Costa Rica, quando era preciso voar da onda antes que ela se esfarecelasse abruptamente na bancada de coral. Já senti em Yo-Yo’s (também em Sumbawa), no drop montanha-russa de 2m de altura em cima de um coral afiado, aparente através do mar translúcido. Já senti quando uma onda estourou na pedra e me jogou a três metros de distância, de costas numa rocha, em Camburizinho (São Paulo), num dia de muito amadorismo. Já senti quando não sabia a porta de saída da caverna de Uluwatu em dia de mar grande e muita corrente. E muitas outras vezes eu poderia contar aqui. Dentro e fora d’água, sempre em torno do surfe.

Mas e o que faz uma pessoa sentir medo assim, deliberadamente? Talvez a adrenalina, a vontade de superação que traz a sensação de vitória a reboque. Há um sentimento de estar vivo, que não se encontra em terra firme, não se encontra em uma baia corporativa, não se encontra num almoço em família, enfim, não se encontra no dia-a-dia. Sem desmerecer ou comparar. São simplesmente coisas diferentes. Sobre isso, separei aqui um trecho maravilhoso de “Fôlego”, de Tim Winton, que fala por si.

“A maioria das pessosa não gosta de sentir medo. Não dá exatamente para recriminá-las por isso. Alimentar-se do risco é algo perverso – a não ser que você esteja no mercado financeiro. Os empresários são corajosos, mas as pessoas que praticam BASE jumping são uns idiotas imprudentes. Pessoas que viajam sozinhas d ebarco são um desperdício dos recursos de resgate e os snowboarders que pulam de helicópteros são suicidas que gostam de aparecer. Os correspondentes de guerra, como todos sabemos, são gente bem esquisita. Alguns riscos, ao que parece, não merecem respeito. Enquanto isso, todos ficam aterrorizados com a ideia de que isso, o que quer que a vida tenha se tornado, é o que é e pronto. E o pior é que ela vai acabar logo. Com alguns medos – como dor de dente – é possível conviver. Bom, na maioria das vezes. ”

Em geral, tenho até um pouco de medo até de acordar cedo e pegar a estrada para ir surfar. Um pouco de receio do que vou encontrar pela frente. Nada mais do que o saudável medo do desconhecido. Um medo que vai e volta, controlado pela razão. Nada que se justificasse. O mar estava ok. Ondas de no máximo 1,5 m na série (onde era possível surfar, porque havia lugares maiores, mas insurfáveis). Fiquei quase três horas no mar, coloquei minha prancha maior na água, surfei cinco ondas, fiz minha meditação e saí com leves coceiras da água poluída (não se pode ter tudo, certo?).

E reforcei minha coragem e certeza de que nessa vida se pode tudo, menos ficar parado.

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