Arquivo do mês: novembro 2009

Uma visita a uma loja da Patagonia

Dia desses, escrevi esse post para o trabalho. Ele foi editado para ficar no padrão. Segue agora a versão redux, sem cortes (a melhor parte do blog é que você é o seu próprio editor – para o bem e para o mal!)

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Sou fã de carteirinha, como se diz, de uma empresa chamada Patagonia (uma fabricante de roupas e equipamentos esportivos com um modelo de negócios sustentável – LEIA MAIS). Busco sempre informações sobre esse incrível caso de empreendedorismo, de negócios sustentáveis. O fundador Yvon Chouinard não abre mão de valores para fazer seu negócio prosperar. E no lugar de isso ser um problema, acabou se tornando um diferencial para o negócio. É um excelente exemplo para aqueles que acham que precisa passar a perna na concorrência, ‘molhar’ a mão do fiscal ou ter práticas “agressivas” (no pior sentido do termo) para fazer bons negócios.


Chouinard é bem radical em suas posições (veja matéria no site Treehugger, em inglês). Acredito que seja a maneira que encontrou para manter vivos os ideais do negócio, que continua extremamente inspirador. Quando hoje vemos empresas dizendo que são sustentáveis, logo ficamos com aquele pé atrás. É tanta gente sustentável que já não sabemos mais quem é, quem não é. Assim, para quem se importa com isso, fica um tanto difícil ter certeza de que o que você está comprando (produto ou serviço) vem mesmo de uma empresa que se preocupa sustentabilidade. Ainda mais quando vemos a pesquisa britânica que diz que 98% dos produtos dito sustentáveis pela própria propaganda, na verdade não o são (veja notícia no site TreeHugger).


Recomendo algo para quem quer ter certeza sobre as práticas da empresa. Fale com quem está no balcão. Vá até a loja, ligue para o call center, faça perguntas e você descobrirá facilmente se o que a empresa está falando em 30 segundos na televisão ou na página dupla da revista resiste a cinco com o funcionário na linha de frente.


Foi o que fiz na Patagonia, há cerca de um mês, em São Francisco, Califórnia (EUA). Quando pisei lá, vou exagerar um pouco, foi como entrar em um templo — no sentido de ser um lugar que carrega valores em que você acredita. E que no fundo é o que todas as marcas pregam e buscam, relacionamentos baseados em sentimentos e valores comuns.


A Patagonia fabrica roupas com algodão orgânico, reutiliza fibras de roupas usadas, busca diminuir o uso de químicos na produção da roupa e faz até fibras a partir de reciclagem de garrafas PET. É um jeito de fazer negócios em que eu acredito e por isso meu contentamento ao entrar lá. Fui logo apresentando as credenciais para o vendedor: disse que era do Brasil, já havia lido o livro “Let my people go surfing (foto abaixo), de Chouinard, e tinha ido até a loja só para conhecê-los e que acreditava muito nos valores da Patagonia.

O livro de Yvon Chouinard, com a história da Patagonia

O vendedor ficou para lá de feliz e começou a falar da empresa. Diz que realmente acreditavam naquelas coisas, começou a me apresentar os benefícios do produto e — melhor de tudo — me deixou totalmente à vontade para olhar as coisas, sem ficar ao meu lado perturbando e dizendo: “Essa fica bem em você, ou então temos essa e mais essa e mais essa.” Em certo momento, um deles me perguntou se eu estava precisando de alguma ajuda. Respondi que o outro vendedor estava me atendendo. Ele respondeu: “Pode perguntar para qualquer um. Não trabalhamos por comissão aqui e todos se ajudam.” Me senti um babaca…


Eu queria ficar lá meia hora. Acabei ficando 1 hora e meia. Por três motivos: vi praticamente todas as peças de roupa, tocando, vendo a etiqueta, checando como cada palavra era colocada para apresentar o produto. Segundo, não resisti às compras… Ok, podem me chamar de consumista, mas quem não precisa de camiseta, uma blusa mais quente e um casaco? E quem não gosta de dar presentes para alguém? Ninguém anda nu por aí e uma das principais vantagens dos produtos da Patagonia são sua durabilidade. Ou seja, você compra roupas e não precisa renová-las com frequencia. Por outro lado, são mais caras. Mas, obviamente, não se pode ter tudo (ainda, já que poucas empresas fabricam produtos dessa maneira).


E o terceiro motivo da demora foi o melhor de todos: a conversa que tive com os vendedores. A Patagonia prevê em seu modelo de negócios tempo para que as pessoas possam fazer atividades das quais gostam. Como nasceu de um montanhista e surfista e faz roupas e aparelhos para quem pratica esses esportes, quem trabalha lá também gosta disso. Diz o livro que nos dias de melhores ondas, o pessoal pode largar as coisas e ir para o mar, surfar! A conversa girou em torno de viagens, lugares que eles tinham visitado em função de viagens de bicicleta ou escalada.


Conversamos sobre Olimpíadas, sobre as condições (segurança, infra-estrutura) de o Brasil sediar os jogos. O vendedor não estava preocupado com isso. Dizia apenas que tinha chegado a hora de um país “diferente” sediar os jogos. E ali ficamos por quase 20 minutos jogando conversa fora.  Uma conversa bem animada, com consistência e valor, emoldurada por um quadro maravilhoso com uma onda perfeita quebrando embaixo da ponte Golden Gate. O bate-papo teve a cara da marca agradável da Patagonia, refletindo as práticas sustentáveis da empresa. Saí de lá ainda mais fã e com a certeza de que a motivação das pessoas em trabalhar por uma causa é mais um benefício de que vale a pena investir em práticas sustentáveis


Leia mais: “Deixe as pessoas surfarem”

Teste in loco

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O filme paradoxal do carro ‘sustentável’ da Audi

Mais um da série de filmes publicitários que ofendem a inteligência alheia ao fazer piadinha engraçadinha às custas dos outros.

É um filme da Audi falando que cada um quer fazer a sua parte por um planeta melhor. Até aí, tudo bem. Mas para valorizar o carro em questão, o A3 DTI, um carro híbrido de 30 mil dólares e que supostamente causaria 30% a menos de emissões, a Audi ridiculariza ciclistas e outros que buscam jeitos de fazer a sua parte.

Não é caso de ser ecochato ou biodesagradável ao criticar esse filme, mas uma das bases da sustentabilidade é o respeito ao outro, à diversidade. Então, é absolutamente contraditória a mensagem que esse filme quer passar. Dá até vergonha alheia.

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Lugar de filho de político é na escola pública?

Votei no Cristovam Buarque no 1º turno da última eleição. Não que eu achasse que ele teria qualquer chance. Mas eu quis dar um voto para a educação. Para colocar o tema na vitrine. E o Cristovam era o cara ideal para isso, pois sua campanha foi monotemática. Independente de sua estratégia, ficou patente para mim que ele é coerente ao ler sobre a lei abaixo no blog Nosso Futuro Comum.

Trata-se de uma ideia supersimples, mas com um potencial incrível. A proposta é que todos os políticos coloquem seus filhos na escola pública. O objetivo é que com isso haveria uma boa melhora na qualidade da educação pública.

Confesse que andei pensando ultimamente na hipótese de colocar meu filho em escola pública. Mas simplesmente não tenho coragem. Já ouvi de pessoas que pouparam tudo o que seria gasto (ou investido?) em uma escola particular no ensino fundamental e médio para dar aos filhos quando completassem 18 anos. Assim, poderiam escolher estudar em uma escola particular ou pública. Não sei se sou muito medroso ou mesmo conservador, mas o fato é que no papel de pai todo o esforço é feito para que o filho tenha o melhor. E o melhor em questão de educação é mesmo a escola privada, ainda que para lá de cara.

Talvez seja o caso de esperar para uma lei dessas ser aprovada para então poder colocar os filhos na escola pública. Conheçam a lei abaixo.

Pergunta: já está disponível para votação no VoteNaWeb?

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SE VOCÊ CONCORDA COM A IDÉIA DO SENADOR, DIVULGUE ESSA MENSAGEM.

Ela pode, realmente, mudar a realidade do nosso país.
O projeto PASSARÁ, SE HOUVER A PRESSÃO DA OPINIÃO PÚBLICA.

http://www.senado.gov.br/sf/atividade/Materia/detalhes.asp?p_cod_mate=82166

PROJETO DE LEI DO SENADO Nº 480, DE 2007
Determina a obrigatoriedade de os agentes públicos eleitos matricularem seus filhos e demais dependentes em escolas públicas até 2014.

PARABÉNS PARA O SENADOR CRISTOVAM BUARQUE.
BOA SORTE JUNTO A SEUS PARES.

IDÉIA SENSACIONAL!!!!

PROJETO DE LEI DO SENADO Nº , DE 2007

PLS – PROJETO DE LEI DO SENADO, Nº 480 de 2007

Determina a obrigatoriedade de os agentes públicos eleitos matricularem seus filhos e demais dependentes em escolas públicas até 2014.

O CONGRESSO NACIONAL decreta:
Art. 1º
Os agentes públicos eleitos para os Poderes Executivo e Legislativo federais, estaduais, municipais e do Distrito Federal são obrigados a matricular seus filhos e demais dependentes em escolas públicas de educação básica.

Art. 2º
Esta Lei deverá estar em vigor em todo o Brasil até, no máximo, 1º de janeiro de 2014.
Parágrafo Único. As Câmaras de Vereadores e Assembléias Legislativas Estaduais poderão antecipar este prazo para suas unidades respectivas.

JUSTIFICAÇÃO
No Brasil, os filhos dos dirigentes políticos estudam a educação básica em escolas privadas. Isto mostra, em primeiro lugar, a má qualidade da escola pública brasileira, e, em segundo lugar, o descaso dos dirigentes para com o ensino público.
Talvez não haja maior prova do desapreço para com a educação das crianças do povo, do que ter os filhos dos dirigentes brasileiros, salvo raras exceções, estudando em escolas privadas. Esta é uma forma de corrupção discreta da elite dirigente que, ao invés de resolver os problemas nacionais, busca proteger-se contra as tragédias do povo, criando privilégios.
Além de deixarem as escolas públicas abandonadas, ao se ampararem nas escolas privadas, as autoridades brasileiras criaram a possibilidade de se beneficiarem de descontos no Imposto de Renda para financiar os custos da educação privada de seus filhos.
Pode-se estimar que os 64.810 ocupantes de cargos eleitorais – vereadores, prefeitos e vice-prefeitos, deputados estaduais, federais, senadores e seus suplentes, governadores e vice-governadores, Presidente e Vice-Presidente da República – deduzam um valor total de mais de 150 milhões de reais nas suas respectivas declarações de imposto de renda, com o fim de financiar a escola privada de seus filhos alcançando a dedução de R$ 2.373,84 inclusive no exterior. Considerando apenas um dependente por ocupante de cargo eleitoras.
O presente Projeto de Lei permitirá que se alcance, entre outros, os seguintes objetivos:
a) ético: comprometerá o representante do povo com a escola que atende ao povo;
b) político: certamente provocará um maior interesse das autoridades para com a educação pública com a conseqüente melhoria da qualidade dessas escolas.
c) financeiro: evitará a “evasão legal” de mais de 12 milhões de reais por mês, o que aumentaria a disponibilidade de recursos fiscais à disposição do setor público, inclusive para a educação;
d) estratégica: os governantes sentirão diretamente a urgência de, em sete anos, desenvolver a qualidade da educação pública no Brasil.
Se esta proposta tivesse sido adotada no momento da Proclamação da República, como um gesto republicano, a realidade social brasileira seria hoje completamente diferente. Entretanto, a tradição de 118 anos de uma República que separa as massas e a elite, uma sem direitos e a outra com privilégios, não permite a implementação imediata desta decisão.
Ficou escolhido por isto o ano de 2014, quando a República estará completando 125 anos de sua proclamação. É um prazo muito longo desde 1889, mas suficiente para que as escolas públicas brasileiras tenham a qualidade que a elite dirigente exige para a escola de seus filhos.
Seria injustificado, depois de tanto tempo, que o Brasil ainda tivesse duas educações – uma para os filhos de seus dirigentes e outra para os filhos do povo –, como nos mais antigos sistemas monárquicos, onde a educação era reservada para os nobres.
Diante do exposto, solicitamos o apoio dos ilustres colegas para a aprovação deste projeto.
Sala das Sessões,
Senador CRISTOVAM BUARQUE

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O surf no arroio Dilúvio em Porto Alegre

O último post foi pesado, sobre poluição. Baixo astral total. Agora, vai um que é meio mix das duas coisas: baixo e alto astral. O ponto é que na minha cidade natal — Porto Alegre, tchê — uns caras fizeram uma coisa muito louca: surfaram nas águas do Arroio Dilúvio, que corta a Avenida Ipiranga, uma das principais da cidade. (Para os que moram em São Paulo, seria um Tietê em bem menores proporções de tamanho e poluição, acredito.)

Todo surfista gaúcho alguma vez na vida já sonhou que estava pegando onda no rio Guaíba, que na verdade se chama Lago Guaíba. Há milhares e milhares de anos atrás, o Guaíba, que desemboca na Lagoa dos Patos (parte em azul no mapa abaixo ), já foi mar. Ele está separado em um de seus pedaços por uma faixa de terra que é o litoral gaúcho. As praias do lago Guaíba em Porto Alegre são recortadas. Seriam perfeitas para receber ondulações.

O Guaíba e a Lagoa dos Patos entre o surfe e Porto Alegre

 

“Porto” ia ser tipo um Rio de Janeiro. Já foi há milhares de anos… Pena que não deu para pegar as ondas que quebraram lá.

Mas o ser humano é muito inventivo e não se rende a pequenos acidentes geográficos. O fato é que ninguém contava com o indomável espírito do surfe que tomou a gurizada que surfou nas águas do dilúvio. Um lendário amigo meu que de vez em quando soltava uma história para lá de inverossímil, chegou a dizer que uns amigos dele surfaram no Guaíba em dia de vento forte. Sei lá se era verdade ou não. O fato é que no mundo 2.0 é bem mais fácil de documentar as façanhas, essas histórias de pescador…

Eis abaixo o vídeo dos surfistas de rio.

E o ponto que eu queria fazer com o post de ontem é a poluição. Prestaram atenção no vídeo como o lixo flui? Os caras tiveram coragem de surfar no meio desse lixão líquido. Devem ter ficado com algum problema de pele, não é possível… Houve quem os chamasse de irresponsáveis, um bando de moleques querendo chamar a atenção. Li a versão deles e gostei do ângulo que deram para a ação: o de chamar a atenção para o problema, mesmo que tenha sido pós-aventura:

Milhares de comentários surgiram e iam do “nossa que legal” até o “babaca que não tinha mais nada para fazer e quis chamar atenção”. Todos estavam cientes dos riscos que estavam correndo e quão grandes estes eram. Por isso, o ato não foi realizado no intuito de promover novas aventuras arriscadas na capital ou em qualquer lugar que proporcionasse condições perigosas. Bem pelo contrário, nossa maior infelicidade seria se alguém tentasse realizar o mesmo e se prejudicasse de alguma maneira.
Revendo os vídeos, nota-se que ali não está registrado somente um momento de uma aventura maluca, e sim a notável e absurda a quantidade de garrafas, sacolas e todos objetos inimagináveis que eram levados pela correnteza.

Até acho que não tinham o propósito de fazer isso para chamar a atenção para a poluição, mas funcionou – e bem. O video foi parar em grandes veiculos de comunicação e virou assunto. Confirmando a máxima de quem sempre há espaço para ações novas e inventivas de comunicação. Até lembrou uma ação do Greenpeace.

Não conheço Nelson, Ricardo ou Juliano, mas fica aí a homenagem aos radicais surfistas do Dilúvio e uma sacada que tiveram parapotencializar um pouco mais a ação.

Camiseta do Surf no Dilúvio

Para outros tipos de esportes radicais ‘desconstruídos’, clique aqui (piscina de ondas) e aqui (simulação de skate em prédio de POA).

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Poluição: nuvem negra na cabeça de 15 milhões de paulistanos

Acordei razoavelmente cedo hoje e não pude escapar de registrar essa cena. A poluição de São Paulo é algo com o qual nos acostumamos, mas que é extremamente danosa para a saúde. No TEDxSP, em uma das palestra mais inspiradas, o cientista Paulo Saldiva falou sobre o absurdo de a poluição não ser considerada um caso de saúde pública (leia mais aqui). Segundo ele, morrem por ano na capital paulista cerca de 1000 pessoas em função da AIDS, 500 por tuberculose e – pasmem – 4 000 pessoas por conta da poluição! E a poluição, isso é o pior, não é tratada como problema de saúde.

Com  uma foto como essa, é impossível não ficar chocado. A massa cinza chumbo é uma verdadeira nuvem negra na cabeça de cerca de 15 milhões de pessoas. Tanto já virou rotina, que meu filho de 5 anos saiu correndo da cama, me perguntando: “Pai, deixa eu ver a foto da poluição.”

É por causa disso que me nego a comprar um segundo carro para a família.  Enquanto for possível evitar, farei minha parte para não contribuir com essa poluição e com o trânsito infernal. São Paulo pode e precisa ser melhor. Será que a tecnologia automotiva e o investimento no transporte público vai permitir isso?

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Quando o líder falha – a briga dos jogadores do Palmeiras

O imponderável é o que há de mais incrível nos esportes, particularmente no futebol. Ontem, no jogo do Grêmio x Palmeiras aconteceu uma cena raríssima, dessas que deixam todos com a boca aberta, tentando entender o que aconteceu.

Aos 46 minutos do primeiro tempo, já nos descontos, o guerreiro argentino Máxi Lopez, livre na área, recebeu, virou e chutou. Marcos defendeu e sobrou para Marques, que empurrou para o gol. Até aí, tudo bem. O incrível veio depois, quando os jogadores do Palmeiras começaram a brigar. O ‘craque’ Obina foi tirar satisfação de Maurício, que deveria ter marcado Lopez. Claro que ele não gostou, mas a reação foi tentar acertar o Obina. Obina se esquivou e encheu a mão na cara do sujeito. Ai, veio a turma do deixa disso. Mas já era tarde demais. O juiz tinha visto e mandou os caras para a rua quando o jogo recomeçou.

O Palmeiras liderou o campeonato brasileiro por 18 rodadas. Aí, não conseguiu segurar o rojão e começou a ceder espaço para outros times. À medida que o time ia perdendo a distância, começaram a jogar mal, cada vez pior. O problema que estava em campo extrapolou para extra-campo.

Em um dos jogos, o juiz anulou um gol legítimo de Obina. O dirigente do Palmeiro, Luiz Gonzaga Belluzzo, um dos economistas mais respeitados do país perdeu as estribeiras e chegou a dizer que ia dar porrada em Simon.

Pronto.

O Palmeiras se perdeu de vez. O destempero de Belluzzo passou para o campo no jogo seguinte, quando os palmeirenses empataram em casa com o Sport. E destrambelhou de vez com o episódio de ontem, no Olímpico.

É incrível o poder do exemplo, da liderança. Por mais que um líder precise colocar para fora suas emoções, ele nunca pode fazer isso de forma descontrolada — ainda mais via imprensa. Isso reflete claramente na equipe. Os jogadores do Palmeiras passaram a acreditar em conspiração, por meio de seu líder. Isso abala a moral, pois se há conspiração, não adianta você jogar bem, pois sempre darão um jeito de colocar você para baixo.

Dia desses, vi o filme Into the Storm, que mostra os dias em que Churchill jogou xadrez de guerra com Hitler na 2ª guerra mundial. Há vários momentos em que fica evidente o poder das ações e das palavras do líder. Muito simbolismo. Um grande craque com o qual a humanidade foi presenteada para derrubar Hitler (sobre isso há o fantástico filme “Cinco Dias em Londres”, do historiador John Lukácz, veja no Google Books ou na Livraria Cultura.)

O paralelo é abissal, eu sei, mas é de liderança que estamos falando. O Palmeiras perdeu o campeonato graças ao líder que não agiu conforme se esperava dele em um momento crucial.

Juca Kfouri escreveu sobre isso aqui. E o Belluzzo enviou uma resposta muito interessante para ele. Mostrando que voltou à razão, com estilo e verve apurada. Com a tranqüilidade e o distanciamento crítico que o escrever possibilita. Mas foi tarde demais…

(P.s.: Hoje, os jogadores do Palmeiras fizeram as pazes.)

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Pense bem antes de não deixar alguém entrar em sua rede!

Esse vai rápido para compartilhar uma impressão muito bacana sobre o funcionamento de redes (fonte: professor e filósofo Rogério da Costa, da USP). A teoria das redes, que é estudada desde a década de 80, pelo menos, e serve de base para o funcionamento de coisas como internet e suas ferramentas como Orkut, Facebook, Twitter etc tem o conceito de laços fortes e fracos.

Essa teoria diz que os laços fortes são aquelas pessoas que você conhece muito bem e os laços fracos é aquele colega de trabalho que você encontra de vez em quando em uma reunião ou um ex-colega de escola. Pois bem, as ferramentas sociais de mais sucesso hoje são Facebook, Orkut, MySpace, Twitter, etc porque se apóiam nos laços fracos.

A lógica é a seguinte: os laços fortes pensam exatamente como você, têm os mesmos interesses, portanto, não agregam muito valor sob o ponto de vista do conhecimento. Já os laços fracos, eles têm um incrível potencial de agregar mais conhecimento, assim como o de ampliar a disseminação de qualquer mensagem. A atualização de status nas ferramentas já citadas. Então, pense melhor antes de confirmar aquele cara que quer participar de sua rede, mas você não deixa!

Leia mais sobre o problema de se fechar nas próprias informações no post “Eu Diário – Ou você mesmo edita suas notícias”

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TEDxSP – Day after #2

Esse é o caminho das ideias

O mundo 2.0 é mesmo incrível. Até então, os eventos que eu tinha participado acabavam ali. No dia em que aconteceram. No máximo, alguém enviava um e-mail dias depois para outro participante pedindo mais informações sobre algo ou então para marcar um benchmark.

Em apenas duas semanas, participei de dois eventos totalmente conectados com o seu próprio tempo, em mode zeitgeist total. O Enterprise 2.0, em San Francisco (leia post aqui) e o TEDxSP. Não só durante o evento, como depois, a discussão continuava solta no Twitter. Muitas ideias sendo trocadas, muitas sacadas interessantes, muito intercâmbio de conhecimento.

Uso a ferramenta TweetDeck, que facilita bastante a gestão das informações, mas é preciso dizer que não é nada fácil dar conta de tudo que é dito e não se sentir tentado em clicar em cada link novo submetido. Andei clicando em alguns (não resisto ao vício) e encontrei um infográfico de uma pessoa que participou no lugar da outra. Esse infográfico deu origem a um MindMap colaborativo, lugar onde um dos participantes (@ilimitat http://bit.ly/1C63W1/) disse que ia compartilhar o que havia aprendido.

Vejam as possibilidade de potencializar esse conhecimento. O mundo 2.0 proporciona que as pessoas permaneçam em contato. Encontrei uma amiga, com quem trabalhei muitos anos. Ela disse que, entre outras coisas, adorava o Facebook pelo fato de que mantinha as pessoas em contato. Ela disse que parecia que não tinha saído daquele lugar de trabalho quando estava em contato com todos via rede social. Pois parece que o TEDxSP não acabou e continuava rolando na coluna de Search do TweetDeck. Incrível!

“Ouvi” alguns comentários no Twitter sobre o possível ufanismo do evento. Eu acho uma grande caretice falar isso. O que senti mesmo foi uma vontade genuína de levar coisas legais adiante – um sentimento bacana que emergiu graças a um monte de gente mobilizada na mesma direção. É claro que surgiram algumas opiniões de que o Brasil é melhor nisso ou naquilo. Mas todo mundo é melhor nisso ou naquilo. O importante é ter consciência disso é aproveitar. Essa é a hora do Brasil, não é nenhum ufanismo acreditar nisso — e trabalhar para fazer virar.

Sou jornalista, filho de jornalista, neto de jornalista – e casado com uma jornalista. Podem imaginar que a criticidade corre nas minhas veias. Mas faz muito tempo que deixei de ser crítico para parecer que tenho opinião. Ou para ir contra a corrente. Prefiro guardar a crítica para a hora certa e fazê-la de modo construtivo. O TEDxSP foi demais.

PS: Pessoal, valeu pelos comentários e frequencia aqui. O post de ontem do TEDxSP foi campeão de audiência nesse blog.

PS2: Qual o próximo passo da comunidade TEDxSP? Algum projeto, algum apoio, algum encontro? Acho que essa energia não pode ficar parada no Teatro Anhembi-Morumbi!

PS3: Em homenagem ao TEDxSP, onde foi mencionada música feita a partir dos pássaros nos fios, segue foto tirada recentemente em San Francisco.

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O incrível TEDxSP e sua ebulição de ideias

Final de domingo, filhos na cama (ufa!). Fiquei o dia inteiro refletindo sobre o que vi no TEDxSP ontem, o evento mais incrível que participei nos últimos tempos. Talvez o melhor que eu tenha participado até hoje. Não consigo lembrar de outro assim. Desde que acordei estive pensando no que poderia escrever. Então, hoje não vai ter foto, mas vai ter texto. (Muito texto, confiando que vocês vão até o final acreditando na máxima de que não existe texto longo, existe, sim, texto chato!)

Não é fácil cuidar de dois filhos pequenos no final de semana! Só consegui bater o olho nos jornais do dia agora. Nada de interessante. Ia olhar as semanais, mas decidi que não. As revistas semanas são muito factuais. Demais até. Há tempos que não conseguem nos levar para o futuro, levar nossas mentes adiante. Vou investir meu tempo no futuro, escrevendo minhas impressões sobre o TEDxSP (ao longo do texto, coloquei em itálico alguns dos tweets que enviei durante o evento, assim como coloco também os endereços no Twitter dos palestrantes – @nomedo palestrante).

Imagem do TEDxSP

O evento me fez pensar, repensar, reler e me entusiasmou com as possibilidades do Brasil. Muita coisa interessante, muito combustível para a mente. Pessoas das quais eu nunca tinha ouvido falar, fazendo coisas incríveis! Teve o publicitário Danilo Mendes, que apresentou a máquina que tira água do ar e teve a química Milena Boniolo (@milena_anelim), que mostrou como a casca da banana pode tirar metais pesados da água. Valério Dornelles mostrou o case da Tecnologys, inovador em construção civil, com tijolos inspirados no Lego e Anysio Campos mostrou o incrível Obvio, carro movido a eletricidade (brasileiro!)

A designer Fernanda Viegas (@viegasf) mostrou o site Many Eyes, que ela co-desenvolveu com a IBM e que ajuda a visualizar dados, a filtrar a quantidade absurda de informação que a gente recebe. Sem dúvidas, vamos precisar de algo assim, até para enxergar as coisas de um jeito novo, que vai fazer muita diferença no mundo que teremos pela frente, com temas novos em pauta, coisas que ainda precisaremos conhecer melhor.

Como a bioinformática, por exemplo. Sandro Souza falou sobre isso, sobre o avanço nos estudos do Genoma. Ele é um dos pesquisadores brasileiros mais reconhecidos no meio e trouxe questões intrigantes sobre o futuro.

**Sandro Souza no #tedxsp. Genoma e Bioinformática vão mudar vidas nos próximos anos. Desde 1995 já deciframos genomas de espécies.

**Em 2001, custava US$ 3 bilhões p/ sequenciar um genoma. Em 2009, chegou a 50 mil. E deve chegar a 3 mil p/ vc sequenciar o seu. S. Souza #tedxsp

**Logo, logo, você vai chegar no médico c/ pendrive c/ genoma e ele vai dar remédio. Não há proteção legal para info genética. S. Souza #tedxsp

Além de criatividade por todo o lado, alguns temas chamaram a atenção pela onipresença: educação, redes sociais e bicicleta (!).

Vou começar pelo último, que é mais fácil de analisar.

Bicicleta (!)

Além da palestra do designer Flavio Deslandes, que criou uma bicicleta com quadro de bambu, que de tão resistente chegou a quebrar a máquina de testes, o médico Paulo Saldiva recebeu destaque por ser um ciclista desde os tempos de faculdade, quando ia para a USP, pedalando. Saldiva fez um paralelo interessante entre a doença do planeta e doenças humanas.

A lógica dele foi a seguinte: pensemos que cada país é um órgão e que as pessoas são as células do planeta. Estamos com febre (aquecimento global), viciados em uma droga (petróleo), com obstrução das vias áereas (trânsito caótico), com infecção renal (acúmulo de lixo, pois não conseguimos eliminar os dejetos), com alguma flatulência (tornados que estão cada vez mais freqüentes) e com disfunção cognitiva (alguns neurônios – cientistas – dizem que o planeta vai esquentar graças ao homem, outros dizem que é algo normal). Fora essa brincadeira genial, Saldiva contribui com a precisa afirmação de que a poluição deveria ser considerada problema de saúde pública.

Cerca de 4 mil pessoas morrem por ano em São Paulo em função da poluição, ao passo que menos de mil pessoas morrem em função de AIDS e cerca de 500 por tuberculose. Tem ou não tem razão?

Osvaldo Stella, doutor em ecologia, também pedalou. Abandonou um curso de engenharia para cruzar de bicicleta a Transamazônica com dois sujeitos que não conhecia.

Stella foi responsável por um dos momentos mais engraçados do dia. Ele deve ter sido o décimo palestrante. Entrou ‘perdido’ no site, dizendo que não sabia mais o que ia falar e pedindo desculpas para quem tinha feito o power point, que ele não ia mais usar.

E se pôs a falar de sua vida, rodando como se fosse um peão, atordoado com tudo que tinha ouvida até então, nas suas palavras. Acabou falando da Iniciativa Verde, a primeira ONG de compensação ambiental do Brasil. Neutralizar os efeitos do padrão de vida é importante, mas não é suficiente, vale lembrar. Melhor é diminuir a chamada ‘pegada ecológica’.

**Osvaldo Stella é a surpresa engraçada do dia. Largou engenharia e se transformou pedalando na transamazônica. #tedxsp

**Impacto da crise financeira diminuiu mais a emissão de gases de efeito estufa do que o Protocolo de Quito. Osvaldo Stella #tedxsp

Redes Sociais

O outro assunto que rendeu pano para manga foi redes sociais. Augusto de Franco (@augustodefranco) foi o grande palestrante sobre o tema. Apresentou conceitos técnicos, a origem do relacionamento em rede e mostrou como se faz.

**Augusto de Franco sobre redes sociais. #tedxsp Diz que a Matrix existe!, interligando todos nós agora. Social é o q está entre as pessoas.

**Paul Baran, da RAND. 3 organizações d redes: centralizada, descentralizada e distribuída. Boa fonte p/ redes. #tedxsp (via @augustodefranco)

Luiz Algarra, (@lalgarra) designer de redes sociais, da Papagallis, entre outras, também falou sobre redes sociais. Achei a palestra dele viajante pacas. Tinha o nome de Solilóquio Reflexivo. Falou de redes sociais, de amor, física quântica, misturou tudo. Disse até que o amor era empírico metafísico.  Valeu para conhecer mais um doidão no mundo. Algarra fez uma pergunta interessante: “Eu quero querer o que quero?”

**”Somos humanos porque percemos nossa humanidade, com base no cuidar, no fluir da emoção.” Papo bicho-grilo total. Tá legal. @lalgarra #tedxsp

O outro que falou sobre redes sociais foi o Silvio Meira (@srlm), grande cara. Silvio tem domínio do palco e sempre rabisca os pensamentos no laptop tablet (lembra dele?) causando um efeito interessante. A melhor sacada de Silvio foi dizer que educação deve ir de ‘just in case’ para ‘just in time’. Ou seja, aprender o que se usa. Ou faz algum sentido aprender números imaginários para quem, como eu, é um jornalista?

**Mamíferos vivem em média 2milhões de anos como espécie. Seres humanos já vivem há 200mil anos e tentando se matar logo! @slrm #tedxsp|

**Quem acha que já viu tudo em possibilidades de computação, ainda não viu nada. Próximos 25 anos vao criar oportunidades de cooperação e educação.

**@slrm diz que dormiu em 75% das aulas de graduação, passou e ganhou duas hérnias de disco. +1 crítica p/ educação. #tedxsp

**Humanos, gregários, coletivos e conectados viverão na rede para sempre, pois é onde sempre estiveram. Redes sociais forever. @srlm #tedxsp

Educação

A revista Economist publicou uma matéria há algum tempo falando que o grande fator responsável por mudar o padrão de desenvolvimento de uma nação é a educação, seguida pelo crédito. Os psicologistas costumam dizer que o primeiro passo para resolver um problema é reconhecê-lo. Pois bem, juntando Economist, psicologia e TEDxSP, chego à conclusão que podemos ter esperança. Praticamente todo palestrante falou sobre educação em algum momento de sua palestra, quando não era o tema principal.

Dona Adozinda Kuhlman, educadora, 92 anos, (escolhida via twitter a palestrante mais fofa do evento) mostrou uma mente para lá de afiada. Ficou a certeza de que uma mente ativa ajuda a saúde física. Ela ficou lá até às 22h e a palestra dela foi de uma lucidez impressionante para quem tem 92 anos. O conhecimento é a pílula da juventude!

**Dona Adozinda, educadora de 92 anos, diz q BR é terra jovem, c/ mto a oferecer ao mundo. Matèria-prima somos todos nós e as ideias #tedxsp

**Dona Adozinda: “Minha profissão tem a função de alicerçar as outras profissões”. #tedxsp

**Consciência s/ seu papel é fundamental para satisfação no trabalho. Dona Adozinda dá show de lucidez aos 92 anos. #Tedxsp

Guti Fraga, do Nós do Morro, também foi pela linha de educação. Fraga foi o responsável pela apresentação mais vibrante, emocionante do dia. O cara transpirava emoção em cada palavra e mostrou como o teatro ajuda na inserção social de pessoas que vivem na favela.

**”Malandragem é universal”, caiu a ficha de Guti Fraga no #tedxsp.

**Guti Fraga: “ninguém tem amor maior que esse: dar a sua vida para os outros”. #tedxsp via @mbtorres

Eduardo Moreira também falou sobre teatro e inserção social, ou educação via arte.

**Artigo de 1a necessidade para as pessoas é exercer ludicamente a vida delas. #tedxsp Eduardo Moreira

**Uso dos espaços públicos por viciados em crack é perigoso para a democracia pq vira lugar de ninguém. #tedxsp Eduardo Moreira

Samara Werner (@samarasa) do Instituto Oi Futuro, bateu na mesma tecla, de que precisamos investir em educação. Uma frase boa dela foi:

**Samara Werner cita Antonio Carlos Gomes da Costa:  Se cuidassémos da educação como da escalação brasileira, BR teria mto + a oferecer. #tedxsp

Ela também citou Einstein:

**A mente que se abre a uma nova ideia nunca volta ao seu tamanho original. Einstein via Samara Crespo #tedxsp

Ao final da palestra dela, fiquei com uma dúvida atroz:

**Pq todo mundo reclama da escola e como ensinamos, mas não conseguimos valorizar  iniciativas diferentes de educação? #tedxsp

A próxima a falar sobre educação foi Maria Alice Setubal, que mostrou projetos bacanas do CENPEC (Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária).  Projetos muito importantes para um país repleto de carências, como o Brasil, mas ainda na milenar batida de dar o peixe e não de ensinar a pescar.

Criatividade

E aqui chegamos num outro bloco que vou chamar de criatividade, embora em quase todas as palestras essa questão tenha estado presente. Meu amigo e jornalista Dênis Burgierman abriu o dia falando do imenso potencial criativo do Brasil, pois estamos cheios de problemas para resolver. Muita gente criativa + um monte de problemas = oportunidades de sobra!

Regina Casé (@reginacase) foi a certeza disso mostrando o seu incrível trabalho antropológica perseguindo a manifestação cultural da periferia. A partir do que descobriu no funk no Rio de Janeira, ela mergulhou em outras regiões suburbanas do mundo e descobriu que na Cidade do México, em Paris, e em Luanda (Angola), existem culturas tão forte quanto o funk, mas relegadas a segundo plano pela mídia.

Ronaldo Lemos, fundador do Overmundo e diretor da Creative Commons no Brasil, ainda que eu não tenha conseguido ver toda a palestra, também foi por essa linha, mostrando o impacto que o mundo underground tem nas redes sociais. Principalmente o que as Lan House fazem pela inclusão digital e como o tecnobrega ganhou o mundo digital.

O mundo 2.0 traz uma incógnita em relação à propriedade intelectual e pirataria. Regina Casé mostrou uma banda de Kuduristas (de Kuduro, um ritmo angolano que quer dizer “bunda dura”), que vendeu 15 000 CDs em 3 horas. E os impostos? Não se falou nada…

**Hermano Viana pelo funk foi chamado com DJMarlboro diversas vezes no departamento de polícia do RJ, mas nunca no de Cultura! Regina Casé no #tedxsp

**Regina Casé no #tedxsp mostrando variações do funk pelo mundo. Incrível! Trabalho antropológico de primeira. Já tem documentário?

**Expressão da periferia é estigmatizada, negligenciada pelo que é cultura, pelo que é popular. Periferia do mundo está à margem. No news. #tedxsp

**Brasil – vamos aproveitar o q já existe, não precisa inventar muito. BR pode ser vanguarda anti-gueto do mundo. #tedxsp Regina Casé

Fabio Barbosa foi incisivo. Lembrou que o Brasil precisa mesmo é fazer uma reforma de valores, que inclui, entre outras coisas, falar “ilegalidade” e não “informalidade” como costumamos dizer. A mensagem foi a mesma e consistente de sempre:  conjugar negócios e ética. No folder do evento, dizia que Fabio valoriza a pontualidade. Foi um dos somente quatro que cumpriu o tempo dado (15 ou 5 minutos, dependendo do palestrante) à risca.

(Achei interessante a visão de Tiago Dória sobre a palestra do Fabio Barbosa: “Gostei também da apresentação do Fabio Barbosa, presidente do Banco Santander. Ele não usou esse termo, mas falou sobre algo que acho bem importante na administração, que é a “teoria da janela quebrada“. É preciso resolver os problemas enquanto ainda são pequenos. Acredito que seja um conceito que se aplica muito bem não somente na administração pública, mas também na privada (gestão de plataformas de redes sociais, por exemplo). Bug em um sistema? Conserte o mais rápido possível.”)

O único estrangeiro do evento foi Casey Caplowe (@caseycaplowe), da revista Good, que debate formas interessantes de fazer o bem e transformar o mundo. Um dos slogans da revista é “América: deixe-a ou conserte-a.” Outro é para “people who give a damn”

**Casey Caplowe mostra gráficos interessantes q a www.good.is usa. Informação visual facilita mto p/ entender a dimensão dos problemas. #tedxsp

**You never change things by fighting the existing reality. To change something, build a new model that makes the new model obsolete. Casey Caplowe

**Brasil pode sair de exportar coisas para exportar solucões como o sistema de ônibus de Curitiba. C Caplowe #tedxsp

**Street art do Brasil é muito valorizada nos EUA. Pq não é aqui? #tedxsp

**Muito pensamento legal, de gente bacana no #tedxsp. Pq a diversão e a arte ficam em 2o plano no mundo ‘sério’ político-empresarial? Perda de tempo?

Sobre revista, Roberta Faria apresentou o modelo da Sorria, que conseguiu mais de 200 000 exemplares por edição com um modelo de negócios inovador, via doação social.

João Paulo Cavalcanti, da Box 1834, propôs que o Brasil deveria ter um sonho como nação. Falou do Poder do Mito, de Joseph Campbell (para quem não sabe, a base que George Lucas usou para construir a história de Guerra nas Estrelas. Cavalcanti lembrou que:

**Há 1 certo momento na trajetória de qquer nação q ela se sente escolhida. Nesse momento, ela dá o melhor e o pior de si. EMCioran #tedxsp

**Poder do mito de Joseph Campbell. O escolhido precisa estar preparado para entregar o que dele se espera. BR pode! JP Cavalcanti #tedxsp

**A nação que não possui um sonho não é uma nação. Dostoievski, 1871. Via JP Cavalcanti #tedxsp. Qual é o sonho brasileiro?

**Criatividade nasce da diversidade. Não ter raízes é a riqueza da nossa pobreza sob o ponto de vista de inovação. #tedxsp JP Cavalcanti

Realmente não sei se precisamos de um sonho ou de um projeto de país, mas que precisamos ter um norte, ah isso precisamos. Cavalcanti chegou a dizer que nosso sonho pode estar na festa, que pode ser nossa grande contribuição ao mundo, essa alegria de viver. Citou Regina Casé, que focou sua palestra no funk. Eu prefiro ficar fora dessa de festa, sob o risco de virar um grande Carnaval. Temos que ter alegria, mas não acho que festa deve ser central.

E acabamos o evento com um babalorixá, Carlos Buby, que falou na Filosofia Guaraciana, do índio caboclo Guaraci. Esse índio ajudou Buby a se encontrar na vida quando tinha 18 anos e essa experiência gerou essa filosofia.

**Carlos Buby: O homem jamais será reconhecido enquanto ele viver à sombra da luz de seu mestre. Ele precisa ser o seu próprio mestre. #tedxsp

**Carlos Buby: Veracidade da história não está diretamente ligada ao fato em si, mas a credibilidade de quem conta a história. #tedxsp

**Carlos Buby: É muito fácil saber o que desejamos, mas não o que necessitamos. #tedxsp

**Carlos Buby: Um país sem raízes é como árvore sem raízes: é só enfeite. #tedxsp

**Carlos Buby. Posso ñ acreditar em 1 só palavra do q vc diz, mas vou lutar com todas as forças para vc ter a liberdade de dizer o q diz. #tedxsp

A palestra de Buby foi carregada de auto-ajuda, mas seu simbolismo é muito maior. Representa o grande ecletismo que foi a seleção de palestrantes do primeiro evento TED independente realizado no Brasil.

Magistralmente realizado, diga-se de passagem. O formato é muito vencedor. Palestras de cinco e quinze minutos são infalíveis. A mensagem central de qualquer pessoa está nesse intervalo de tempo. Mais do que isso é variação sobre o mesmo tema. É claro que é importante falar mais sobre determinados assuntos. Mas em um evento, vale a máxima de que “menos é mais”. Resultado: 30 pessoas fizeram palestras incríveis.

Conversando com outros participantes, disse que não me senti surpreendido pelo que vi nos palestrantes. Estava esperando altos e baixos, como em qualquer evento. E isso aconteceu. Agora, me surpreendi, sim, com a realização.

Helder Araújo (@haraujo) e equipe fizeram um trabalho nota 10! Os mínimos detalhes foram perfeitos, o pré, o durante e o pós-evento, com um brinde para comemorar, foram de tirar o chapéu, como fez Silvio Meira no palco. Muitos elogiaram a surpreendente equação juventude + rigor na organização.

Helder não só conseguiu atrair grandes palestrantes, como ainda apresentou, com ajuda de outros Tedsters, como o impagável Bruno (@oestagiario), a vibração do TED original, da Califórnia. Todos que participaram entenderam melhor o que é e como participar.

Responde à pergunta do TED sobre o que o Brasil tem a oferecer ao mundo, fiquei com a certeza de que a efervescência criativa, baseada em nossa grande diversidade cultural é o nosso princiapl ativo. Senti um verdadeiro orgulho, uma brasilidade, muito presente no TEDxSP. A sensação de que o país tem um enorme potencial e que tem muita gente a fim de fazê-lo acontecer.

Fiel ao lema de compartilhar ideias, agora, teremos as 30 palestras disponibilizadas na íntegra, uma por semana: WWW.tedxsaopaulo.com.br.

Minha gratidão ao Helder Araújo, ao Dudu Camargo (@dudex) e a todos os demais envolvidos na organização do TEDxSP. Foi um grande presente de Natal antecipado. Uma ebulição de ideias, uma semente para formar uma comunidade com grande potencial. Que venha o próximo e um brinde ao conhecimento!

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É nóis na Economist!

Há três semanas, estive no Economist Summit (veja post “Da Arte de ver a floresta e não só as árvores”), um seminário do semanário inglês cujo tema foi o Brasil. Havia muitos especialistas, empresários, acadêmicos. Todos discutindo os rumos do Brasil. As conversas foram muito boas. Conseguiram captar a essência do ambiente empresarial brasileiro, com toda sua vontade, dinamismo, defeitos e incongruências, mas que inegavelmente está em momento de decolada.

Não tenho dúvidas de que esse espírito que ficou evidente nas discussões foi o principal motivador da publicação dessa matéria de capa da Economist que foi lançada hoje (de tão tosca, chega a ser boa, diga-se de passagem).

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O editorial da revista é muito abonador para o Brasil. Um colega meu jornalista que morou em Londres por muito tempo e é fã da revista não se conteve é mandou o e-mail com o título: “É nóis na Economist”!

É nóis mesmo! A publicação começa dizendo que havia muito ceticismo quando o acrônimo BRIC foi criado, que o Brasil não caberia nesse B. Pois bem, no parágrafo seguinte, começa a enumerar os benefícios do Brasil.

Segundo os jornalistas, o ceticismo foi para o espaço. Diz que o país não evitou a crise, mas foi um dos últimos a entrar e um dos primeiros a sair. A economia está crescendo 5% em taxa anualizada e deve crescer mais com os campos de petróleo descobertos, enquanto a Ásia está ávida pela comida e minerais produzidos no Brasil. E todos sabem que asiáticos são mercadoria em abundância no planeta! E as  previsões indicam que em 2014 o Brasil deve ser a 5a maior economia, superando Grã-Bretanha e França. Motivo de orgulho brazuca! Para a revista, mais motivo de orgulho, o Brasil debutou no primeiro mundo com as Olimpíadas e com a Copa do Mundo.

Muito bem, isso é o que temos hoje, e que não foi conquistado do dia para a noite. Economist aponta o trabalho, a lição de casa, feita pelo país para ‘chegar lá’. Fala do controle da inflação, autonomia do Banco Central, lei de responsabilidade fiscal e privatização. Uma receita eficiente. Grandes empresas como Vale, Petrobras, Embraer, Gerdau e JBS são citadas como companhias de atuação mundial. E cita a imprensa forte e vigorosa (dessa parte eu me orgulho muito!).

Mas….

Mas – sempre tem o mas e isso é muio bom – tem o lado negativo também. Aumento dos gastos do governo, poucos avanços em educação e infraestrutura perto do que precisa e violência em algumas partes do país. E a revista lembra que o governo e a sucessora candidata Dilma pouco caso estão dando para a reforma trabalhista (ponto que emergiu com destaque no seminário em São Paulo).

E a parte que o presidente Lula não deve nada nada ter gostado de ouvir foi a de que é um presidente de sorte e que o crescimento do país nesses anos se deu na esteira das reformas promovidas pelo seu antecessor FHC. E que para manter o desempenho o próximo presidente terá de tratar de alguns problemas que foram deixados de lado. “O resultado da eleição pode determinar a velocidade com a qual o Brasil avançará na era pós-Lula.”

O melhor da matéria está reservado para o final, quando a revista diz que tudo isso foi conseguido em um ambiente livre e democrático, que o presidente Lula, apesar dos arroubos totalitários que de vez em quando lhe arrebatam (essas são palavras minhas), faz questão de manter e reforçar.

Certa vez estive em um almoço com FHC (sorte a minha) e não resisti a fazer a pergunta sobre qual tinha sido o maior legado dele para o país. Ele não pestanejou em falar que foi o de lutar para manter o ambiente democrático, conquistado a muitas penas. Mais estadista impossível. Senti o mesmo orgulho que ao ver essa matéria na Economist.

Mas — e aqui tem outro ‘mas’ — é bom que essa capa não seja pretexto para dizer que tá tudo bem, porque não tá. Provavelmente enquanto estava sendo impressa a revista, aconteceu o apagão (e sobre isso não há uma linha). Temos ainda tiro ao helicóptero e agora perseguição social, como na menina da Uniban.

Ou seja, é para ter orgulho, sim, mas não para esquecer que somos ainda uma sociedade em amadurecimento. Melhor lembrar disso pelos próximos sete anos para a maré boa não passar no pós Olimpíadas.

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