Arquivo do mês: outubro 2010

Everyday in Costa Rica is like a dream

Bob, garantindo a vida de sonho na Costa Rica

“Desde quando vocês vivem aqui?”- perguntei.

“Faz 5 anos e 3 meses”, respondeu Bob, de cabelo branco raspado e couro cabeludo esbranquiçado contrastando com a cor bronzeada da pele que reveste um corpo esquálido, com não mais do que 5% de gordura.

“Vocês vieram juntos?”, apontei para a filha, que separava fotos da sessão de ondas na Playa Negra, em um sofá confortável, de almofadas vermelhas revestindo a madeira nativa, emoldurados por uma enorme prancha de longboard que não deve entrar na água há um bom tempo.

“Ah, sim, eu, minha esposa, três filhos e duas netas!”

“E até quando vão viver aqui?”

“Até o último dia da minha vida”, respondeu com olhar seguro por trás de um óculos redondo de fino aro preto.

“Então, vocês gostam mesmo daqui!”

Pausa… Suspiro.

“Everyday in Costa Rica is like a dream”, respondeu em tom grave, solene e orgulhoso.

Bob encontrou seu espaço no paraíso. Quando saímos da água, sua filha, cujo nome ficou na Costa Rica, veio correndo até nós. Apontou para seu pai e disse: “temos boas fotos de vocês na sessão de hoje”. E nos entregou um cartão plastificado onde lia-se: Bob Stonefish Photography.

Depois das ondas, as fotos

Para os surfistas solitários, o pacote de fotografias custa 50 dólares. Nós, que estávamos em quatro, pagamos 20 dólares cada um. Levamos 350 fotos para casa.

Valeu, Bob!

“Eu e meu pai surfávamos juntos praticamente todos os dias lá em Oregon”, lembrou a filha.

Na beira da água quente da Costa Rica, Bob garante o sustento da família. A casa é simples e as netas brincam no jardim repleto de vegetação luxuriante típica da América Central.

Logo antes de Bob descer do segundo andar e dizer que todo dia na Costa Rica era como um sonho, sua filha ainda tinha dúvidas.

“Você gosta daqui?”, perguntei.

“Sim, este lugar é demais. Só fico preocupada com as oportunidades para minha filha. Ela não aprende nada na escola.”

“Mas ela só tem 5 anos!”- respondi.

“Sim, mas já podia estar aprendendo alguma coisa, como o ABC, números. Mas nem isso. Acho que vamos voltar para Oregon. Lá ela terá mais oportunidades.”

Qual o caminho para a neta de Bob?

Na hora de ir embora, a filha de Bob nos pediu uma carona até a praia, para brincar com a filha.Eram 2h da tarde. A menininha nos contou de seu dia-a-dia na escola, alternando entre inglês e espanhol. Tinha o cabelo loiro, lindos olhos verdes, pele alva. E não passou protetor solar. “Esqueci de trazer”, disse sua mãe. E este foi mais um dia de sonho na Costa Rica.

Everyday in Costa Rica is like a dream...

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A pedra bruxa

Roca Bruja, Costa Rica, upload feito originalmente por Rodrigo VdaC.

Esta é a Roca Bruja, uma pedra no meio do nada, na Playa Naranjo, noroeste da Costa Rica. Lá fica uma famosa onda, chamada também de Witch`s Rock, pois é destino preferido de surfistas do mundo inteiro. Este lugar abriga um das dezenas de parques nacionais que cobrem 25% do território da Costa Rica.

Fica a foto enquanto não coloco mais informações sobre a viagem por aqui. Mais fotos estão no flickr.com/rodrigocvc

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Pura vida

 

O mapa da Costa Rica, que lembra um caranguejo

 

A preocupação com o meio ambiente está por todo o lado na Costa Rica. Desde no grip de papelão que envolve o copo de café quente a la Starbucks até na coleta seletiva, praticamente onipresente.

 

Ecogrip para segurar o café

 

 

Coleta Seletiva está por todo lado

 

Aqui está o maior percentual de parques de preservação por área total do país no mundo. 25% do país está protegido. As estradas quase sempre cortam áreas verdes. Estive aqui há 13 anos. Muita coisa mudou obviamente, mas o desenvolvimento não conseguiu tirar a beleza deste local. O sorriso do rosto, ao contrário, só aumenta.O que mais se escuta é Pura Vida, expressão que carrega um modo de viver, um jeito gostoso de olhar a vida.

Claro que nem todos têm a vida que gostariam. Há pobreza, sim, mas pelos lugares que tenho passado, é muito menos miserável do que na Nicarágua, por exemplo, vizinha que está seguindo os passos do país irmão mais ao Sul.

Há placas em inglês por todos os lados e o dólar é moeda corrente. Cerca de 2 milhões de estrangeiros visitam o país todo o ano.  Os gringos certamente trazem desenvolvimento a este local. O desafio será deixar intacto uma região que está somente a duas horas e meia de voo da Flórida. Hoje, na água, alguns ticos, como são conhecidos os costarriquenhos, falavam dos altos preços das casas na Playa Negra, uma das melhores para surfe por aqui. Falavam em casas que haviam sido vendidas por quase 1 milhão de dólares. O lugar está a cerca de 15km de Tamarindo e pode ser chamado de tudo, menos de desenvolvido. Há apenas algumas pulperias (armazéns) e um ou outro restaurante na beira da estrada. Há, claro, o campo de futebol 11, como se vê em quantidade inversamente proporcional ao futebol da seleção da Costa Rica. Um milhão de dólares é quanto custa ter uma casa grande e confortável no paraíso. E quando sentirem saudades de casa, ali em Tamarindo, a poucos quilômetros de distância, os americanos vão encontrar um restaurante Subway ou uma Pizza Hut.

 

Pura vida!

 

Acho que está é a concessão dos costarriquenhos para manter este lugar incrível. Afinal, um povo que acabou com o exército na década de 40 para investir em saúde e educação sabe muito bem sobre o que é importante para continuar se desenvolvendo sin perder la ternura jamás. Pura Vida!

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No país mais feliz do mundo

E aqui estamos novamente na Costa Rica. Em qualquer lugar que se vai é fácil de confirmar a fama e estudos que dizem que este é o país mais feliz do mundo. Basta pedir uma informação, circular pela rua, ser parado pelos policiais ou mesmo mostrar o passaporte na imigração para ver o sorriso estampado no rosto de qualquer um. Enquanto não escrevo mais por aqui (afinal, sobra pouco tempo para outras coisas que não surfar por aqui!), aí vão alguns links sobre felicidade e Costa Rica.

O que fizemos de errado?

O que faz um país feliz?

O que faz um país feliz – parte 2

TED Global – dia 1

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A onda verde veio para ficar

Crescimento do Partido Verde mostra que país amadureceu

E  a grande vitória nas eleições de 2010 no Brasil foi a de uma nova visão de mundo. Marina Silva começou tímida, nos 9% e encerrou a votação com 20% dos votos válidos. Dobrou de tamanho no período.

Marina trouxe com ela muita gente boa, com muitas ideias. Nem tão revolucionárias, simplesmente modernas, alinhadas com o espírito do tempo, sintonizadas com as mudanças que a sociedade deseja.

Lembro de no dia seguinte a ela ter anunciada sua candidatura, muitos jornalistas de grandes veículos tentando entender e explicar o que era sustentabilidade ambiental, social, às vezes confundindo todos os conceitos.

Marina venceu preconceitos sobre criacionismo, evangelismo e aborto. Nunca fugiu do debate e sempre mostrou que sua visão de mundo era maior do que todas estas questões somadas.

Há pouco, na TV, disse que não era ela que definiria sozinha para quem seus votos iriam. Lembrou que os votos são dos eleitores e que há muita gente envolvida para decidir. Não importa bem para quem vai. O fato é que o Partido Verde ganhou musculatura. Ganhou força para levar adiante uma visão de mundo mais integrada, interdependente, que mostra que o bagre da Amazônia interessa, sim, quando se vai construir uma hidrelétrica. Tá, é um exemplo bobo, mas serve para ilustrar o preconceito que se carrega contra quem foge da corrente e diz que há coisas mais importantes no mundo do que lucrar, conquistar e acumular poder.

A esperança que Marina acendeu não é pequena. E suas ideias ficarão vivas ainda nesta eleição. Não é questão de escolha. É fato, referendado por quase 20 milhões de eleitores. Não é pouco não. Dobrou de tamanho em algumas semanas.

E não vou falar do Tiririca. Prefiro falar que Collor, Netinho e Romeu Tuma ficaram de fora. Foi, portanto, grande também a vitória da democracia e o fato de termos o segundo turno nestas eleições.

Daqui para frente, só tende a melhorar. E o Brasil é cada vez mais o país do presente. Com inequidades continentais (vale ler o texto abaixo, de Clóvis Rossi, publicado na Folha de São Paulo de hoje), o que nos faz querer acompanhar de perto o debate do segundo turno.

Acho que a onda verde veio para ficar.

CLÓVIS ROSSI

Brasil vota, pobre mas feliz

SÃO PAULO – O Brasil que vai hoje às urnas é, na essência, do seguinte tamanho social: metade dos eleitores (67,5 milhões) ganham, no máximo, até dois salários mínimos.
Seria preciso torturar os fatos para dizer que pertencem à classe média, esse paraíso a que foram conduzidos 30 milhões de brasileiros segundo o ufanismo em voga.
Dos eleitores brasileiros, 13 milhões (10%, pouco mais ou menos) é pobre, pobre mesmo. Ganham menos de um salário mínimo. Figuram entre os 28 milhões excluídos do sistema público de aposentadoria e auxílios trabalhistas.
São, portanto, ninguém.
Também no capítulo educação, a pobreza é radical: 49% dos eleitores fizeram, no máximo, o curso fundamental.
Nesse país que tanto seduz a mídia estrangeira, mais de 60% de seus alunos não têm a capacidade adequada na área de ciências. No exame mais recente, o Brasil ficou em 52º lugar entre 57 países, no quesito ciência.
Alguma surpresa com o fato de que a sétima ou oitava potência econômica mundial é apenas a 75ª colocada quando se mede o seu desenvolvimento humano?
Não tenhamos medo das palavras: o Brasil que vai às urnas é um país pobre, obscenamente pobre para o seu volume de riquezas naturais, território e população.
É também obscenamente desigual, apesar da lenda de que a desigualdade se reduziu. É impossível reduzir a desigualdade em um país que dedica ao Bolsa Família (12,6 milhões de famílias) apenas R$ 13,1 bilhões e, para os portadores de títulos da dívida pública (o andar de cima) a fortuna de R$ 380 bilhões, ou 36% do Orçamento-2009.
Ainda assim, é um país mais feliz do que era há oito anos ou há 16 anos. Fácil de entender: “O pobre quer apenas um pouco de pão, enquanto o rico, muitas vezes, quando encosta na gente, quer um bilhão”, já ensinou mestre Lula.

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Qual o país que queremos construir?

Quem ainda não viu precisa conhecer o video abaixo. Ontem mesmo, recebi novamente de outra fonte. No e-mail, meu amigo Oswaldo Pepe contava que havia recebido via facebook de uma amiga dizendo que todo mundo precisava ver este video antes de votar amanhã. No ponto. (O vídeo não tem conotação política. Ele fala sobre como cada um pode fazer a diferença.)

Estas eleições foram mornas como nenhuma outra. Quase nada de adesivos nos carros ou bandeiras penduradas. Já houve um tempo em que o PT atraía militantes esperançosos, empolgados com as possibilidades de construir um país moderno, com base na ética e nos valores. Este tempo ficou para trás. A boa notícia é que a nova liderança já começou a emergir com Marina Silva. Ainda vamos conhecer melhor estas ideias de um novo jeito de olhar a sociedade, construindo um modelo de desenvolvimento mais inclusivo

Este video abaixo do Fábio Barbosa, gravado no TEDxSP resume a essência de quem acredita nestas ideias. Ele fala em reforma de valores, ética, respeito… valores que se perderam nas meias, cuecas, malas de petistas e governistas aloprados. Um banho de corrupção que apagou a esperança de muita gente que acreditava no PT. Ideais que cabem hoje numa bolsa-família, importantes para incluir uma boa parte da sociedade, mas insuficientes para construir um projeto consistente de país.

O Brasil é muito maior do que um prato de comida e uma busca inebriante e cega pelo poder. Ainda temos um longo caminho pela frente. E lideranças como a de Fábio Barbosa para ajudar a apontar caminhos.

Vale a pena olhar para se inspirar na votação de domingo.

Leia mais: O poder das empresas de mudar o mundo

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