Arquivo do mês: julho 2010

Felicidade, blogs, bancos, surfe, TED etc – a seleção da semana

Está cada vez mais difícil manter a regularidade neste blog em função do dia-a-dia atribulado no trabalho e mais as funções de família.

Estava pensando como equacionar esta questão neste final de semana e vou tentar fazer algo diferente. Como passo por dezenas (talvez centenas) de artigos, links, sites etc durante a semana e acho muita coisa legal, vou tentar fazer regularmente uma espécie de curadoria com aquilo que me interessa e que pode interessar a vocês que acompanham por aqui.

É importante ter o feedback porque não tem a menor graça escrever sozinho. Cada comentário, cada nova ideia, é um estímulo para seguir. Sem isso, vou ficar pelo caminho! Não é um pedido, é só um fato! (risos)

O que vi de legal por aí nesta semana:

Estudo da new economics foundation sobre bem-estar na Inglaterra

O gráfico abaixo (feito pela new economics foundation, organização do Nic Marks, a quem tive a honra de conhecer no TED Global, em Oxford) mostra como as pessoas se sentem em relação ao seu bem-estar. O resumo diz que as pessoas na Inglaterra se sentem melhor do que os europeus na média, mas que ficam para trás em termos de confiança e sentimento de ‘pertencimento’. Um dos pontos mais debatidos é sobre quanto o dinheiro teria impacto nisso. O que a pesquisa mostra é que mais dinheiro impacta mais na falta de sentimentos negativos e aumenta a percepção sobre uma vida satisfatória, mas não significa que aumenta a confiança ou o sentimento de pertencimento. E, aparentemente, traz a sensação de que a confiança aumenta com a idade.

Gráfico sobre o bem-estar inglês

Os melhores blogs de 2010, da Time

Este não é novo, mas sempre vale compartilhar. Lista da Time com os melhores blogs de 2010.

A experiência com blogs do Guardian

Ao contrário de querer resistir às mudanças da maneira como as pessoas se comunicam, o jornal Guardian, da Inglaterra, resolveu fazer uma experiência, reconhecendo o poder dos blogs como disseminadores de notícias. Se você é um blogueiro do wordpress, você poderá postar os artigos do Guardian diretamente na sua página. Ou seja, está liberando seu conteúdo de graça. Há algumas condições, porém: você precisa se registrar e terá que publicar o artigo por completo, com anúncios, inclusive. Desta maneira, o veículo reconhece que muitas pessoas republicam o seu conteúdo, estimulam isso, mas ganham a possibilidade de aumentar a exposição dos anunciantes. Muito engenhoso, transparente e sem querer brigar com o futuro, como estão fazendo os veículos que ‘fecham’ o conteúdo em um mundo que se abre cada vez mais.

O banqueiro das pessoas

Matéria sobre Simon Warburg, mostra que a vocação original dos banqueiros pode ter se perdido com a ganância por acumular dinheiro e que talvez não existem mais banqueiros, como Warburg, que acreditava ser sua principal missão entender, valorizar e satisfazer os clientes.

Editorial de moda e conteúdo da Patagonia

A Patagonia, a marca criada por Yvon Chouinard, faz sempre coisas incríveis. O último editorial de surfe apresenta as novas roupas em uma revista eletrônica, acompanhada por matérias e fotos excelentes. Os temas estão ligados à proteção de praias com excelentes ondas. É um misto de conteúdo editorial com propaganda muito bem-feito. Quem gosta de surfe, vai se deliciar. Quem não gosta, vai ver belas fotos e uma excelente referência de como vender sem invadir, se é que me entendem. O editorial faz ainda referencia à organização Save the waves, que ajuda a proteger as praias de bom surfe. Ou seja, propaganda com causa, um belo caso de branding.

Editorial de moda e conteúdo da Patagonia é um show de imagens

TED Talk da semana – Chip Conley – medindo aquilo que faz a vida valer a pena

“Nem tudo que pode ser medido, conta. E nem tudo que conta, pode ser medido.” Albert Einstein

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As conexões tácitas – TED Global dia 3

Ao curar um evento como o TED, com várias sessões diferentes, às vezes fica difícil de “montar” o quebra-cabeça. Foi essa a impressão que fiquei com sessão 7, a que abriu o terceiro dia do TED. Apesar de ser chamada de ˜Criaturas grandes e pequenas˜, ela bem que poderia ser chamada de Jam Session, dada a disparidade de assuntos. O que no fundo, é uma grande oportunidade de abrir a cabeça. Se não, veja o que tivemos: começou com um fazendeiro orgânico, uma artista falando sobre porcos, um músico e sua banda tocando rock n`roll, um especialista em conservação marinha falando sobre baleias e golfinhos e um entomologista ecológico, que pregou a inclusão de insetos na alimentação!

Adrian Dolby foi o primeiro palestrante, questionando se seria possível alimentar o mundo com agricultura orgânica. “Não sei, disse ele, mas estamos falhando em alimentar o mundo hoje. “Há um bilhão de pessoas mal-nutridas hoje e outro bilhão de obesos.” De um total de 6 bilhões de pessoas, realmente é o bastante.

Aqui dentro, 185 usos para 103,7 kg de carne de porco

Depois de Dolby, entrou no palco a artista Christien Meinderstma para falar de seu projeto PIG 050499. A ideia de Christien é simples e justamente por isso genial. Ela ‘esquadrinhou’ toda a ‘cadeia produtiva’ de um porco, para descobrir que há partes suas nas mais diferentes coisas produzidas pelo homem. Desde freios de trens, passando por cerveja, até munição e válvulas cardíacas, as partes de porcos estão por todo lado. No total, 185 produtos surgirar a partir de 103,7 kgs do porco 05049. O resultado do trabalho de Christien é um livro com as fotos dos materiais produzidos e e algumas ilustrações. Uma incrível peça de arte que me trouxe uma dúvida e tanto: como esses achados dela podem impactar a vida de vegetarianos. (Não resisti e comprei a obra na livraria montada no hotel ao lado do teatro onde acontece a conferência para disponibilizar as obras dos palestrantes. Grande sacada, com um serviço adicional, o frete grátis, que ainda espanta a barreira do transporte dos livros e faz as pessoas comprarem mais do que deveriam!)

E se alguém ainda estava com sono no início da manhã, Thomas Dolby e sua banda deram um jeito. Dolby fEz uma mistura de música eletrônica e rock n`roll com música tradicional do interior americano. Sonzeira.

Do rock n’roll para a preservação marinha em mais uma das palestras aparentemente desconexas desta sessão maluca. Toni Frohoff mostrou imagens intrigantes de seu trabalho como biologista. Logo no início, alguns golfinhos nadando um tocando na nadadeira do outro, como se estivesse de mãos dadas. Segundo ela, os golfinhos apresentam empatia, complexidade social e podem ser felizes e sofrerem como nós fazemos. “Os golfinhos, baleias, elefantes e outros animais estão conectados não apenas por sua inteligência, mas também pela empatia. Frohoff ainda mostrou imagens de uma baleia “conversando” com um biologista enquanto ambos emitiam sons, e de uma baleia beluga se reconhecendo no espelho, como até então se acreditava que somente humanos e elefantes faziam.

Biscoito de insetos, até que estava bom!

E de baleias para insetos, o entomologista Marcel Dicke trouxe a controversa tese de que nossa alimentação deveria conter mais insetos! Primeiro, mostrou a relevância dos insetos em outros campos, vamos chamar assim, Para começar, na sua visão, nós não estamos em um planeta de homem, mas sim de insetos. Afinal, são 6 milhões de espécies de seis patas no planeta. E os insetos são extremamente importantes para a biodiversidade e… para a economia! Somente nos Estados Unidos, os insetos contribuem com um valor de US$ 27 bilhões anualmente para e economia, fazendo coisas como remover DUNG, polinizar plantações e controlar pragas. Mas o ponto dele era outro, era o de colocar os insetos no cardápio usual. De acordo com seus cálculos, cerca de 80% da população mundial come cerca de 1000 insetos hoje. Na verdade, todos comem de um jeito ou de outro. Prepare-se para esta informação: qualquer pessoa como até 500g de insetos por ano! E os chocolates, chocólatras, tem até 60 componentes de insetos por 100g. Delícia!

Pensando agora sobre esta sessão, digamos, heterodoxa, lembrei da conversa que tive com uma pessoa da equipe do TED sobre a dinâmica das sessões. Segundo ele, o primeiro dia servia de aquecimento, o segundo para acumular muita informação e no terceiro o cérebro já começava a fritar. No quarto dia, apesar de as ideias queimarem na chapa quente de informações que virou o cérebro, as coisas começavam a se conectar. E uma coisa estranha acontece: aparentemente, fica difícil de registrar, de acumular tanta informação, mas, inconscientemente, as ideias vão fazendo suas conexões, só percebidas mais tarde. Há também a comprovação de que o conhecimento humano avança em bloco, como se fosse um crowd sourcing tácito. Invenções como o avião e descobertas como evolução de Darwin mostram que o conhecimento humano avança de maneira coletiva, acompanhando a própria evolução da espécie, atendendo necessidades da evolução. O avião foi inventado quase simultaneamente por Santos Dumont e pelos irmãos Wright (americanos). A teoria da Evolução era objeto de estudos de Darwin e de outro pesquisador, Alfred Russell Wallace, que fez, inclusive, Darwin acelerar a publicação da origem das espécies assim que soube dos avanços do colega.

Pois bem, enquanto Adrian Dolby pergunta se vamos conseguir alimentar o planeta de maneira orgânica, Dicke apresenta a solução de se alimentar com insetos (não é de todo ruim, eu até comi um biscoito com alguns bichinhos). Ao mesmo tempo, Christien fala do uso utilitário dos porcos enquanto Toni Frohoff mostra os avanços na relação com os animais e quão pouco conhecemos as espécies que convivem conosco aqui no Planeta Terra, sejam eles porcos ou golfinhos. Conclusão: as conexões existem, sim, naquela que parecia ser uma sessão para encaixar temas que não couberam em outro lugar.

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O herói planetário e a sessão sustentável do TED Global


Fila para pegar lugar bom em um dos dois andares do Playhouse, em Oxford

Um dos temas que começa a emergir com maior relevância no mundo empresarial e acadêmico ganhou força com a apresentação de Tim Jackson na sessão 8 do TED Global, em Oxford. Jackson tenta responder a seguinte questão: existe um modelo de desenvolvimento sem crescimento econômico? Para ele, estamos em meio a um dilema do crescimento: “Não podemos viver com isso, mas também não podemos viver sem isso.” Afinal de contas, o modelo econômico hoje está baseado no crescimento. A sociedade precisa comprar, para movimentar a economia, para gerar mais renda, mais emprego, mais desenvolvimento. O único porém é que isso é feito por meio do uso intensivo de recursos naturais. ˜Gastamos dinheiro que não temos, para comprar o que não precisamos, querendo impressionar gente com quem nem nos importamos.”

Tim Jackson, na sessão 8 do dia 3 do TED Global

Ele vai fundo na questão (veja mais no livro Prosperity Without Growth) e argumenta que acabamos por criar uma economia que privilegia uma parte menor da alma humana, o egoísmo. Para Jackson, está na hora de construir uma economia baseada no altruísmo ecológico. Sua definição de prosperidade: “Consiste na habilidade de se desenvolver dentro das limitações ecológicas de nosso planeta.” Jackson não é sonhador, mas pragmático. Não estamos falando sobre acabar com o capitalismo. Estamos falando em tomar ações para construir uma economia que tenha um propósito e não apenas o objetivo de crescer.

E é exatamente isto que move a empreendedora Jessica Jackley, que emocionou a todos ao se emocionar sobre seu trabalho. Doar dinheiro ou dar oportunidade? Sem dúvidas, a última. Jessica criou o Kiva, uma plataforma que faz a intermediação de microempréstimos para empreendedores de países pobres. Ela aprendeu que mais do que doações, o que os empreendedores precisam é de uma chance. “Enquanto estive na África entrevistando microempreendedores na África, ninguém me pediu uma doação. Pediram, sim, empréstimos˜, diz ela. “Aprendi muito sobre lucros e receitas de agricultores, seamstresses e criadores de cabras.” Em 2005, o Kiva intermediou algo entre US$ 500 000 em empréstimos. Hoje, cinco anos depois, intermediou US$ 150 milhões em empréstimos em 200 países!

O novo projeto de Jessica Jackley é o Profounder, que tem o objetivo de levantar capital para novos empreendedores, principalmente recursos de famílias e de amigos. O projeto nasceu inspirado no fato de que 85% do dinheiro levantado para novos negócios nos EUA vem de família ou amigos. Em geral, essa tomada de recursos é confusa e o Profounder vai ajudar a organizar. Ao final, mostrando como algumas pessoas que receberam quantias por volta de 100 dólares conseguiram mudar suas vidas, Jessica chorou no palco. Acabou aplaudida de pé, homenagem reservada apenas às melhores falas.

Ainda sobre impacto da emoção, a audiência recebeu Auret van Heerden, ativista na área de direitos humanos. Van Heerden começou lembrando a todos que o celular de cada um foi feito com metais minerados no Congo, onde há péssimas condições de trabalho, e que 80% dos remédios consumidos no mundo vieram da China ou da Índia, onde há pouca regulação sobre segurança no trabalho. “Eu não vim aqui pregar em se ter a preocupação com a cadeia de trabalho˜, diz van Heerden. ˜Isto não é novo. Para mudar a maneira como a cadeia de fornecimento mundial está organizada, precisamos de um mecanismo diferente para fazer com que os produtos cheguem às lojas sem sacrificar nossa segurança ou ética.” Ele disse que talvez a única chance que um garoto de 15 anos tenha de trabalhar em um lugar com boas condições de trabalho em países em desenvolvimento seja o fato de a empresa multinacional ter um código de conduta exigindo isso.

Quem sobe ao palco do TED em geral é alguém com contribuições relevantes à sociedade, moldada com muita entrega e idealismo. E foi esta a história que Peter Eigen contou para as cerca de 600 pessoas que lotavam o teatro Playhouse, de Oxford. Não à toa, em sua apresentação ao chamar Eigen, o host Chris Anderson o chamou de ˜herói planetário˜. Eigen ganhou esta alcunha pela coragem que teve de enfrentar a liderança do Banco Mundial, onde trabalhava, ao descobrir que as melhores coisas que tentavam fazer eram arruinados pela corrupção. Indignado com a situação e de ver os esforços acabarem no bolso de dirigentes corruptos, pediu as contas e abriu a ONG Transparência Internacional, para estimular a abertura e transparência de instituições ao redor do mundo. “Transparência é crítico. Você até se chamar de responsável, mas responsabilidade sem prestação de contas não funciona. A corrupção é um fenômeno internacional que uma nação não consegue lidar sozinha”. Para ajudar a colocar luz nesta situação, todo ano, a Transparência Internacional publica o International Corruption Perception Index.(O Brasil está na 75a posição. Lideram a lista Nova Zelândia, Dinamarca e Singapura.)

Além de ser um herói planetário, Peter Eigen é um sujeito boa praça. Em uma das festas de confraternização da conferência, ele presenteou um dos participantes com um clássico nariz de palhaço vermelho que carregava. Afinal, palhaço ele nunca foi, principalmente ao não se conformar com o que via enquanto trabalhou no Banco Mundial.

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A boa notícia de aproximar ideias diferentes

Playhouse, o teatro onde acontece o TED Global, em Oxford

…e o dia 2 do TED começou de maneira surpreendente, com o blogueiro e “visionário digital” Ethan Zuckerman explicando o que foi o CALA BOCA GALVÃO! O auditório deu boas gargalhadas com a história. Zuckerman brincou ao dizer que você não tem como dar errado com uma campanha ao pedir que as pessoas sejam ativistas digitais repassando uma frase no Twitter! (Leia mais)

Foi a primeira de 20 palestras/shows do dia. A intensidade de informação é algo  impressionante. Na última do dia, por mais interessante que fosse, já fica mais difícil de prender a atenção.

De maneira geral, ficou muito clara hoje a busca por diversidade. A primeira palestra, do Ethan Zuckerman, tinha como ponto o fato de que, apesar da enorme conectividade, as pessoas ainda se conectam basicamente somente com aquelas que conhecem. Para ilustrar, mostrou um mapa mundial com os registros dos voos durante um dia.

E as palestras que se seguiram mostravam boas notícias (o tema do evento) de como esta aproximação é possível. Houve muitos palestrantes ressaltando isso, como a escritora Elif Shafak, que tem origem turca e escreve em turco e inglês, Teve ainda a palestra da psicóloga Inge Missmall, que faz trabalho humanitário pós-traumático no Afeganistão. Os comediantes árabes Jamil Abu-Warden e Max Jobrani também fizeram referência à necessidade de se criar meios de  aproximar as culturas eque estão rodando muitos países com o show que pode ser traduzido por “Eixo do Mal“, uma referência à expressão que George Bush criou para falar de Coréia do Norte, Iraque e Irã. Por meio de piadas, eles consegue ridicularizar a visão estereotipada dos árabes como terroristas.

Outros destaques:

Laurie Santos, sobre o motivo de fazermos escolhas erradas e o teste que aplicou nos macacos para entender o comportamento humano. O livro dela traz mais detalhes.

Annie Lennox falou da campanha contra a AIDS e mostrou o impressionante número de que 1100 nascem infecatas por AIDS todo dia, sendo que 1000 destas só na África.

Arthur Potts-Dawson mostrou seu The People’s Supermarket e o restaurante que só funciona com hidreletricidade (pro Brasil não é tão novo assim, mas aqui é).

John Hardy mostrou a incrível “escola verde“, sustentável, que inspirou mudanças em toda a comunidade.

A última que destaco aqui foi a de Eben Bayer, que está desenvolvendo uma maneira de produzir embalagem para substituir isopor e possivelmente outras coisas a partir de cogumelos. Eles fazem coisas incríveis na Ecoative Design.

E para acabar, conto aqui que me chamou bastante a atenção: os aplausos para a pesquisadora de economia comportamental Sheena Ivengar (@sheena_ivengar). Ela é cega e ao final, como não faria sentido aplaudi-la de pé, a plateia fez um barulho acima do normal, para que ela tivesse certeza que estava sendo ovacionada. E ninguém levantou… Isso também é reconhecer a diversidade.

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TED Global – dia 1

Lá vai, uma visão rápida de como foi o dia no TED Global.

Em primeiro lugar, o evento cumpre todas as expectativas, nos cuidados, nos detalhes, no respeito ao tempo. Isso é ponto pacífico, agora vamos ao conteúdo.

A primeira sessão foi com Joseph Nye, diplomata, que falou sobre a nova configuração do poder no mundo. A grande sacada dele, e que esteve nas linhas diplomáticas de Obama no início deste ano, foi falar em Smart Power, uma combinação do hard power com o soft power. Ou seja, um caminho do meio para se conseguir com que os outros façam aquilo que você quer. Só as armas não resolvem mais. É preciso inteligência e também sabedoria. A China, por exemplo, não tem poder militar, mas tem financeiro. É um novo balanço de forças.

Em seguida, falou Sheryl WuDunn, defensora dos direitos das mulheres. Para ela, o grande desafio moral do século 19 era a escravidão, ao passo que no século 20 foi o totalitarismo. Agora, diz ela, é a discriminação contra a mulher. Passeando por Londres e vendo as mulheres dentro das burcas baixo um calor de 30 graus não pude pensar em outra coisa se não em discriminação. Ok, elas podem gostar de usar. Mas a pergunta é: elas podem NÃO usar caso não queiram? Dúvida minha…

O terceiro palestrante foi Naif Al-Mutawa, o criador da série The 99, cartoons que valorizam os bons atributos do Al Corão. Naif falou no TEDxDubai, e é um bom exemplo do movimento que os TEDx estão causando pelo mundo, revelando gente como ele. Inspirados nos seus filhos pequenos vendo Ben 10, Naruto etc, ele criou algo para sua cultura. Acabou mostrando uma criança amarrada em bombas contrastando com outra foto onde a mesma criança usava uma camisa com seus personagens.

Nic Marks veio em seguida para falar do Happy Planet Index, e para dizer que é possível criar um novo modelo de desenvolvimento, que leve em conta questões importantes como a felicidade das pessoas, e não só o PIB. Ele falou do caso da Costa Rica (assunto deste blog já muitas vezes). Marks trouxe ainda 5 pontos para as pessoas serem mais felizes:

1. Conecte-se às pessoas. Viva em grupo.

2. Seja ativo, mesmo que seja para dançar. Não precisa fazer maratona!

3. Preste atenção ao mundo ao seu redor.

4. Continue aprendendo sempre.

5. Doe. Compartilhe algo com o mundo. Uma das principais coisas capazes de aumentar o nível de felicidade para quem já satisfez suas necessidades básicas é se envolver com uma causa.

Ainda tivemos:

Patrick Chapatte, com brilhantes cartoons.http://www.globecartoon.com/

Matt Ridley, com o livro Rational Optmist, que na minha visão é otimista demais e diminui a causa da sustentabilidade.

Steven B Johnson, que falou sobre de onde as ideias vêm e que está para lançar um novo livro.

Chris Wild, auto-denominado retronauta, que mostra o presente a partir da perspectiva do passado, projetada no futuro.

Peter Molyneux, que mostrou a pesquisa de um jogo em que as pessoas interagem com o personagem, ajudando-o no seu desenvolvimeto mental (loucura total, o próprio Molyneux disse que sua fala seria insana).

E para encerrar, a incrível Annie Lennox, que cantou como nunca, inclusive Bob Marley. Para encerrar o dia com todos aplaudindo em pé.

E amanhã tem mais.

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Refeições a la Hogwarts

TEDGlobal @ Oxford, upload feito originalmente por Rodrigo VdaC.

Este é o restaurante do Keble College, em Oxford. Entre as sessões do TEDGlobal, os cerca de 700 participantes se encontram aqui para trocar ideias e se conhecerem. Faz pouco conheci um biologista molecular da Arabia Saudita, que mora em Sheffield, um americano que toca uma empresa de digital media e uma professora do Suriname que ensina como seus colegas devem ser comportar nas mídias sociais.

O papo foi sobre o trabalho de cada um, as conexões e… futebol.
Não tem jeito, quando descobrem os brasileiros, o papo vai para futebol. A professora do Suriname, apesar de morar na Holanda, torcia para o Brasil porque gostava do Zico!

Em todos os momentos possíveis, os hosts do TED lembram as pessoas de se apresentarem para quem está ao seu ladoHá espaço para networking, mas isso é constantemente reforçado. Isso faz uma diferença enorme.

Para o pessoal que está organizando eventos como TEDx e outros e segue este blog, fica a dica.

Detalhe, sobre a professora do Suriname: ela tem twitter, mas seus posts são protegidos, por causa dos alunos, diz ela. Senti um certo receio de ser exposta frente aos alunos. É um paradoxo do mundo digital proteger a informação enquanto se navega nas redes, mas isto acontece porque a tecnologia ainda não facilita o jeito de customizar a informação para diferentes pessoas.

Em uma das falas dos patrocinadores, a Orange, empresa de telefonia, apresentou o projeto http://lifeisbetteron.com , que estuda maneiras de se relacionar como sempre fizemos antes das redes sociais: 1) com o direito de ser inconsistente; 2) com o direito de esquecer; 3) com o direito de mentir.

Tenho dúvidas se estes direitos serão mesmo preservados no mundo online…

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Começou o TEDGlobal

TEDGlobal @ Oxford, upload feito originalmente por Rodrigo VdaC.

Começou hoje o TED Global, no Keble College, em Oxford. O Keble é uma das instituições de ensino mais tradicionais da Inglaterra, fundada no século 19. A aparência lembra muito o filme do Harry Potter e o ambiente é dos mais propícios para o aprendizado e troca de ideias.

Em uma das falas mais inspiradas do dia, Ruth Ann Harnisch (http://ruthannharnisch.com/ )contou sobre as 6 coisas que aprendeu em 6 meses sem fazer nada. Vamos lá:

1. Fazer nada é muito atrativo para quem está de fora. Todos querem saber porque você está fazendo isso, com uma ponta de inveja.
2. Fazer nada quer dizer fazer uma coisa de cada vez. Sem atropelos, sem pressão, sem pressa.
3. Você decide o que fazer com seu tempo, não fica refém de agendas ou compromissos.
4. Algumas coisas só podem ser vistas se você remover as distrações. Fazer nada ajuda na concentração e na percepção sobre o mundo.
5. Saiba porque você está fazendo o que está fazendo. Qual o sentido das coisas?
6. Você não é o seu trabalho. Sua vida é muito mais interessante do que seu trabalho.

Ao final, ela disse que estar ocupado é como uma droga e ela estava viciada nisso.

Taí um grande aprendizado que preciso ter. Principalmente porque agora são 1:30 da manhã e amanhã a função do TED começa cedo…

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A Fifa e a transparência

A Copa do Mundo colocou em evidência o tema transparência, mais uma vez. Graças ao lance do gol inglês contra a Alemanha, não anotado – grosseiramente – pelo juiz uruguaio Jorge Larrionda, voltou a ser discutida a necessidade de se ter recursos tecnológicos para ajudar na correta avaliação das jogadas polêmicas.

Com o avanço das televisões HD – onde a maquiagem cada vez menos esconde a verdade e as imperfeições aparentes -, fica difícil ‘escamotear’. Que o diga Felipe Melo ao tentar dizer que nem foi tão desleal ao pisar no holandês Robben com a nítida intenção de machucar. Todo mundo viu, não adianta esconder.

É isso que a Fifa está tentando fazer – esconder – ao querer proibir o replay. Isso não é mais possível ou aceitável no mundo em que vivemos, em que a velocidade não permite mais que a verdade seja travestida de desinformação. Este mundo acabou e quanto mais instituições tentarem esconder isso, tanto pior.

Só há o que perder.

O texto abaixo, de Alexandre Barros, publicado no Estadão, vale a pena para entender melhor isso.

A censura, agora da Fifa

Alexandre Barros – O Estado de S.Paulo

Organizações gostam de ver divulgadas ideias com as quais concordam. A censura, além de repugnante, é perigosa para quem tem o poder. Quando os poderosos não sabem o que as pessoas pensam, um dia acabam derrubados do conforto do poder.

Um consultor de empresas, quando convidado a prestar algum serviço, ouvia o que os dirigentes tinham a dizer, suas preocupações e suas ideias de soluções. Logo depois fazia sua proposta e assinava o contrato. A primeira coisa que pedia aos clientes era que o deixassem visitar os banheiros usados pelos funcionários. Sempre escalavam um ou dois assessores para acompanhá-lo. Ele recusava. Fazia questão de ir sozinho. Câmera na mão, fotografava tudo o que via escrito nas paredes. Na visita seguinte já sabia os problemas da firma. Tinha uma vantagem sobre pesquisas em que perguntavam a funcionários o que achavam da empresa. Via nas paredes um retrato realista da companhia, dito com toda a franqueza. As paredes dos banheiros não tinham censura.

Agora a Federação Internacional de Futebol (Fifa) quer proibir a “visita aos banheiros”.

Na Fifa, a censura quer, primeiro, preservar o emprego de juízes e bandeirinhas (e tudo o que vem de bom com esses empregos). Segundo, tentar provar que a tecnologia não é tão boa quanto o olho humano.

A tauromaquia é um caso dramático de como a tecnologia mudou sua visão. Quase nada mudou nas touradas ao longo dos séculos. Só que agora há a tecnologia de câmeras e lentes, não disponível no passado. Sem falar que cinema e televisão antigamente eram em preto e branco. Quem assistia à fiesta brava por estes meios ou na arena sem excelentes binóculos (que eram muito caros) não percebia o que realmente acontecia. Todos esperavam o final, quando a espada deslizava com aparente suavidade para dentro do touro, matando-o depois de uma luta desigual.

Os bandarilheiros espetavam aqueles bastões floridos na nuca do touro e eram vistos como elegantes bailarinos em roupas de lantejoulas faiscantes. O picador, montado num cavalo, com uma lança dava uns toques também na nuca do touro. E eram admirados e aplaudidos por espectadores delirantes. Chamava-me a atenção que o cavalo do picador estava sempre com os olhos vendados. É claro, o cavalo não era bobo e a única forma que os humanos tinham de fazê-lo enfrentar o touro em quase igualdade de condições era censurando a sua vista.

Entram em cena a TV e os progressos da ótica. Tente assistir a uma tourada no seu televisor LCD ou LED, comprado com redução de impostos. O que você vai ver é uma cena inimaginável quando esses recursos não existiam. O picador enfia a lança e gira-a, estropiando os músculos do pescoço do touro de uma maneira e com uma dedicação raramente vistas na maldade humana. Depois os bandarilheiros “confirmam” os ferimentos espetando as bandarilhas, que danificam mais o pescoço do animal a cada movimento que ele faz.

Ainda não ouvi falar de proibir transmissões de touradas pela TV, mormente nos países onde elas são praticadas. Acho que a malta gosta da maldade. A probabilidade de o touro ganhar é de menos de 1%, mas existe. Recentemente um toureiro mexicano, depois de espetado por touros em duas corridas, fez o que lhe mandou o bom senso: fugiu, pulou a cerca e disse que, com ele, touradas, nunca mais.

O futebol está enfrentando problema parecido. Esta é a primeira Copa do Mundo com TV digital, em alta definição, disponível praticamente no mundo inteiro. Agora os fãs veem os horrores que, outrora, juízes e bandeirinhas ignoravam ou deixavam passar, fosse por falta de visão, comodidade ou incompetência. Nenhum daqueles milhares de fãs no estádio ou na TV ia perceber mesmo, então, passava qualquer coisa.

Fiat lux! O lance acontece, você vê em casa com todos os detalhes: a falta, a bola que cruza instantaneamente a lateral e volta, o impedimento, os tombos, os massacres. Em suma, tudo aquilo que, sem a tecnologia, os juízes podiam deixar passar e ninguém notava. E mais, a tecnologia repete em segundos a jogada suja, incompetente ou ilegal. O árbitro é julgado democraticamente por milhões de telespectadores ao redor do planeta. Fica clara a sua incompetência ou a sua parcialidade.

A solução da Fifa é fantástica e aparentemente confortável: censura. Proíba-se mostrar replay de cenas duvidosas. A organização protege-se e protege seus árbitros escondendo a verdade.

Nada de novo, só que, sempre que alguma instituição tentou escamotear seus erros ou atrasar mudanças trazidas pela tecnologia, por meio da censura, a tecnologia ganhou. A humanidade acabou mais feliz, mais gratificada e melhorou seu nível de conforto e prazer. (Antes que alguém reclame, isso não se aplica ao desenvolvimento de armas cada vez mais mortíferas.)

A solução da Fifa de tentar esconder a verdade de milhões de fãs também não dará certo. A médio ou a longo prazo, a tecnologia ganhará. Daqui a pouco teremos árbitros eletrônicos muito mais severos e precisos do que os humanos. É nessa direção e com uma velocidade cada vez maior que caminham a tecnologia e a humanidade. O erro, a crueldade, a incompetência ficam a cada dia mais evidentes e intoleráveis. Censurá-los só adia o problema e preserva a estrutura arcaica da Fifa um pouco mais.

Árbitros eletrônicos ganharão dos humanos. Aceitar isso só traz a verdade mais cedo. Como caem as ditaduras políticas, cairão as esportivas. A tecnologia reduz dia a dia o espaço disponível para os totalitarismos ? políticos, econômicos e esportivos.

A Fifa está sendo reprovada no teste básico do liberalismo: admitir que alguém diga a verdade que mais o detentor do poder odeia que seja divulgada. Outras pessoas, organizações, governos e religiões aprenderam que, no fim, a tecnologia mata o totalitarismo.

CIENTISTA POLÍTICO, É DIRETOR-GERENTE DA EARLY WARNING: OPORTUNIDADE E RISCO POLÍTICO (BRASÍLIA). E-MAIL: ALEX@EAW.COM.BR

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