No final do ano passado dei uma aula sobre o movimento do TED e do TEDx no mundo num curso sobre redes. Preparei uma lista de 10 TED talks para a turma. Compartilho aqui:
Zé Cláudio na frente da Castanheira (foto de Felipe Milanez)
Logo depois que o Zé Cláudio morreu, apesar de ter avisado no palco do TEDxAmazônia que isso ia acontecer, nosso amigo Indiana Jones, o jornalista Felipe Milanez, estava lá, onde Zé Cláudio morava, para ajudar os que tinham ficado. Tarimbado e frequentador assíduo da Amazônia, Felipe conhece a região como poucos. Conhecimento que foi bem aproveitado na realização do filme Amazônia, na série Toxic, da Vice. Aí está contada em alguns detalhes a história da morte de Zé Cláudio e sua esposa Maria, o aumento do arco de desmatamento, a viagem por quilômetros e quilômetros de estrada em áreas devastadas até o depoimento fascista de um deputado que acha que as pessoas que defendem a floresta estão atrapalhando o desenvolvimento do Brasil.
Enfim, um show de horror de dar vergonha alheia.
(Este documentário vem em boa hora no momento em que a discussão de Belo Monte está muito quente. Aliás, quem não viu, precisa conhecer a campanha abaixo do Movimento Gota D’Água. Muito bem executada e já com bons resultados!)
Como você se sente quando tem a impressão que alguém está fazendo as escolhas por você? Ninguém gosta de ser manipulado, pelo menos não conscientemente. O pior é quando isso acontece de maneira inconsciente, filtrando a realidade. Pois esta é a tese de Eli Pariser, que fez uma das melhores falas no TED 2011 (abaixo) e que hoje teve um artigo seu publicado no New York Times e reproduzido no Estadão (veja mais abaixo).
Segundo Pariser, os códigos da internet filtram a informação apresentando aquilo que a pessoa que criou os algoritmos acha mais importante. Uma busca feita no Google do Brasil é diferente daquela feita no Google da China, da República Dominicana ou do Japão. A informação é filtrada pela realidade local. Ou melhor, por aquilo que quem fez o código entende por realidade local. O programador vira o novo editor daquilo que você lê.
Há algum tempo, Nicholas D. Krystof, também do New York Times, publicou um artigo chamado de Daily Me, que falava justamente sobre o filtro da informação (veja aqui um post sobre isso). Mas, neste caso, um filtro pessoal. Cada vez que escolhe acessar um determinado site e assina newsletters com assuntos de seu interesse apenas, você está escolhendo ver o mundo a partir de um ângulo restrito. Por isso a importância de ler os pré-históricos jornais, cujas notícias são filtradas por gente treinada para isso. E não por um programador. Ok, G1, Terra, Uol etc também valem. O importante é não se deixar consumir por uma única visão do mundo. Do contrário, a informação e a realidade filtrada vai ser como fast food: tudo com o mesmo gosto, sem sabor — a fast info.
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Quando a internet acha que nos conhece
Os gigantes estão correndo para oferecer filtros especializados que nos mostram a rede que acham que devemos ver, controlando e limitando a informação que chega a nossa tela
24 de maio de 2011 | 0h 00
Eli Pariser, The New York Times – O Estado de S.Paulo
Era uma vez, reza a história, uma época em que vivíamos numa sociedade radiodifundida. Naqueles tempos ancestrais pré-internet, as ferramentas para compartilhar informação não eram amplamente disponíveis. Quem quisesse partilhar seus pensamentos com as massas, tinha de possuir uma impressora ou um naco das ondas aéreas, ou ter acesso a alguém que o tivesse. No controle do fluxo de informação estava uma classe de elite de editores, produtores e magnatas da mídia que decidia o que as pessoas veriam e ouviriam sobre o mundo. Eles eram os “guardiães”.
Aí veio a internet, que tornou possível a comunicação com milhões de pessoas com pouco ou nenhum custo. De repente, alguém com uma conexão de internet podia partilhar ideias com o mundo inteiro. Uma nova era de mídia noticiosa democratizada despontou.
O leitor pode ter ouvido essa história antes – talvez do blogueiro conservador Glenn Reynolds (blogar é “tecnologia solapando os “guardiães””) ou o blogueiro progressista Markos Moulitsas (seu livro se intitula Crashing the Gate, “Esmagando o portal”, em tradução livre).
É uma bela história sobre o poder revolucionário do meio e, na qualidade de um antigo praticante da política online, eu a contei para descrever o que fizemos na MoveOn.org. Mas estou cada vez mais convencido de que escolhemos a conclusão errada – talvez perigosamente errada. Há um novo grupo de “guardiães” por aí e, desta vez, eles não são pessoas, são códigos.
Os gigantes de internet de hoje – Google, Facebook, Yahoo e Microsoft – veem o crescimento notável de informações disponíveis como uma oportunidade. Se puderem oferecer serviços que vasculhem esses dados e nos forneçam os resultados pessoalmente mais relevantes e atraentes, eles conseguirão a maioria dos usuários e a maioria das visitas a anúncios. Por conseguinte, eles estão correndo para oferecer filtros especializados que nos mostram a internet que acham que devemos ver.
Esses filtros, aliás, controlam e limitam a informação que chega a nossas telas.
Por enquanto, estamos familiarizados com anúncios que nos perseguem online com base em nossas conexões recentes em sites comerciais. Mas, cada vez mais e de maneira quase invisível, nossa busca por informação está sendo personalizadas também. Duas pessoas que fazem uma busca com a palavra “Egypt” no Google podem receber resultados significativamente diferentes, com base em suas conexões passadas. Mas o Yahoo News e o Google News fizeram ajustes em suas home pages para cada visitante individual. E, no mês passado, essa tecnologia começou a fazer incursões nos sites de jornais como The Washington Post e The New York Times.
Tudo isso é bastante inofensivo quando a informação sobre produtos de consumo é filtrada para dentro e para fora de seu universo pessoal. Mas quando a personalização afeta não só o que se compra, mas como se pensa, surgem questões diferentes. A democracia depende da capacidade do cidadão de deparar-se com múltiplos pontos de vista; a internet limita essa possibilidade quando oferece somente informações que refletem seu ponto de vista já estabelecido. Embora às vezes seja conveniente ver-se apenas o que se quer ver, é decisivo que em outros momentos se vejam coisas que não se costumam ver.
Como os velhos “guardiães”, os engenheiros que escrevem o novo código do portal têm o enorme poder de determinar o que sabemos sobre o mundo.
Mas, diferentemente, dos velhos “guardiães”, eles não se veem como “guardiães” da confiança pública. Não há algoritmo equivalente à ética jornalística. Mark Zuckerberg, o presidente executivo do Facebook, certa vez disse a colegas que “um esquilo morrendo no seu jardim pode ser mais relevante para seus interesses agora do que pessoas morrendo na África”. No Facebook, “relevância” é virtualmente o único critério que determina o que os usuários veem. Fechar o foco nas notícias mais relevantes pessoalmente – o esquilo – é uma grande estratégia de negócios. Mas nos deixa olhando para o jardim em vez de nos informar sobre sofrimento, genocídio e revolução.
Não há volta atrás ao velho sistema dos “guardiães”, nem deveria haver.
Mas se os algoritmos estão assumindo a função de editar e determinar o que vemos, precisamos ter certeza de que eles pesam variáveis além de uma “relevância” estreita. Eles precisam nos mostrar Afeganistão e Líbia além de Apple e Kanye West.
As companhias que fazem uso desses algoritmos precisam assumir essa responsabilidade salutar com muito mais seriedade do que fizeram até agora. Precisam nos dar o controle sobre o que vemos – deixando claro quando estão personalizando e nos permitindo moldar e ajustar nossos próprios filtros. Nós, cidadãos, também precisamos preservar nosso fim – desenvolvendo a “literatura de filtro” necessária para usar bem essas ferramentas e cobrando conteúdo que amplie nossos horizontes, mesmo quando isso for desconfortável.
É do nosso interesse coletivo assegurar que a internet se coloque à altura de seu potencial como um meio de conexão revolucionário. Isso não ocorrerá se formos confinados em nossos próprios mundos online personalizados. / TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK
É PRESIDENTE DO CONSELHO DA MOVEON.ORG, É O AUTOR DE “THE FILTER BUBBLE: WHAT THE INTERNET IS HIDING FROM YOU”
Quando lançou o SupersizeMe, o documentarista Morgan Spurlock provavelmente sabia que iria incomodar a maior rede de fast food de todos os tempos, o McDonald’s. Com a quase ingênua e genial ideia de comer todos os dias no McDonald’s durante um mês e aceitar tudo aquilo que era oferecido, Spurlock ganhou 11,1 kg, um aumento de 13% em sua massa corporal. Seu colesterol foi a 230 e ele ainda experimentou mudanças repentinas de humor, disfunção sexual e acúmulo de gordura no fígado. Depois, levou 14 meses para perder tudo o que tinha ganho de peso.
Spurlock mirou no que viu e acertou no que não viu
Ninguém em sã consciência comeria no McDonald’s ou em qualquer marca de fast food por 30 dias seguidos em todas as refeições, mas Spurlock conseguiu chamar a atenção. Mais do que isso: mirou no que viu e acertou no que não viu. O McDonald’s correu para renovar o cardápio, lançou iogurtes, saladas e passou a vender maçãs. Mas agora acho que foram longe demais. A notícia abaixo soa a desespero, uma nova forma de passar o que as marcas não têm: healthwashing (o equivalente ao greenwashing que as marcas estão fazendo para falar de sustentabilidade quando não são tão sustentáveis assim).
A tentativa de fazer fast food parecer saudável… O consumidor não é besta. O que as marcas deveriam fazer, na minha opinião, é encontrar um outro jeito de falar sobre a alimentação. A vida sem um big mac ou um burger king ou mesmo um brigadeiro é muito chata (vegetarianos que me perdoem). Talvez este seja um jeito de comunicar num mundo politicamente correto. O que não dá é querer associar fast food a coisa saudável. Saudável para mente, talvez. Para o corpo, nem pensar.
E agora, com vocês, a academia do Ronald McDonald!
Academia do Ronald...
‘Saudável e descolado’, a nova cara do fast-food
2011-04-19 09:45‘Saudável e descolado’, a nova cara do fast-food
No lugar dos duros bancos de plástico, sofás aconchegantes. As lâmpadas incandescentes cedem espaço para uma iluminação mais intimista.
E a sensação de comer com urgência, provocada pelo conjunto “cores berrantes, mesas desconfortáveis e atendimento impessoal”, é esquecida pela facilidade de conectar o notebook à internet, em um ambiente de Wi-Fi gratuito, sem limite de tempo.As lanchonetes McDonald’s na América Latina estão mudando de cara e parte do capital obtido com a oferta pública inicial de ações ontem na Bolsa de Valores de Nova York (Nyse) deve acelerar essa transformação.
“Vamos reformar cerca de cem lojas na América Latina neste ano, para adaptá-las ao novo layout adotado pela rede, e abrir outras cem nesse conceito”, disse ao Valor o presidente-executivo e presidente do conselho de administração da Arcos Dorados, Woods Staton.A empresa, maior franqueada mundial do McDonald’s, que opera 1.775 restaurantes em 19 países da América Latina, incluindo o Brasil, fez uma oferta de US$ 1,3 bilhão. Dos recursos que vão para o caixa da empresa, US$ 150 milhões serão empregados na expansão e na reforma de lojas, valor que deve se somar ao capital que a rede já tinha em caixa no fim de 2010 – US$ 208 milhões.
“Queremos investir mais em outros formatos, como McCafé e quiosques”, disse o empresário. Hoje, a rede tem 616 lanchonetes, 730 quiosques que vendem sorvetes e 67 lojas do McCafé. O Brasil representa 53% da receita líquida da Arcos Dorados, que foi de US$ 3 bilhões no ano passado.Mas a grande mudança ensaiada pela maior cadeia mundial de fast-food está na associação da sua marca a um estilo de vida saudável. “Algumas das novas lojas abertas neste ano adotarão o modelo Ronald Gym Club”, diz Staton. Esse novo conceito, representado até agora no Brasil por apenas uma loja, em Sorocaba (SP), oferece um misto de “academia”, jogos eletrônicos e lanchonete. Entre as atrações, estão minibasquete, parede para escalada e bicicletas ergométricas ligadas a um monitor de LCD que apresenta jogos interativos.
Staton não revelou quantas dessas unidades fazem parte da leva de cem novas lojas, mas afirma ser essa a tendência mundial seguida pelo McDonald’s. “Apostamos na preocupação cada vez maior com a saúde, o lazer e com a comodidade, por isso também vamos abrir mais unidades ‘drive-thru'”, diz.O empenho da rede em se afastar de conceitos como gordura, colesterol e obesidade não é de agora. Desde 2005, o McDonald’s oferece saladas e frutas nas lanchonetes. Mais recentemente, incluiu a água de coco. A investida não convenceu a maior parte dos consumidores, reconhece Staton. “Frutas e saladas devem representar um dígito das vendas totais”, diz ele, sem precisar quanto.
O empresário garante, no entanto, que a rede tem feito a sua lição de casa na oferta de produtos menos nocivos. “Reduzimos a quantidade de sódio dos nuggets, eliminamos a gordura trans e procuramos diminuir a quantidade de açúcar”, diz Staton.Na opinião do consultor Enzo Donna, da ECD Food Service, será preciso mais do que uma mudança no cardápio e novas lojas para o McDonald’s enfrentar a concorrência no Brasil. “Eles estão fazendo a lição de casa, mas é fundamental testar novos formatos de lojas, como fazem o Habib’s e o Bob’s, seu grande rival no país, para atender públicos que têm expectativas diferentes”, diz.
O Burger King, adquirido no ano passado pelo 3G Capital – comandado pelo trio de empresários Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles, sócios da Ambev -, ainda está longe de oferecer uma ameaça para a liderança do McDonald’s. “Mas é claro que eles estão na fase de imersão no mercado e devem vir com propostas agressivas de conquistas de share”, diz Donna.O mercado de alimentação fora do lar movimenta R$ 181 milhões ao ano e serve 62 milhões de pessoas por dia.
Desse total, segundo a ECD, três milhões de consumidores visitam redes de fast-food, o equivalente a 5%. “Mas enquanto o setor de alimentação fora do lar cresceu 16% no ano passado, as franquias saltaram 40%, o que demonstra o rápido avanço das redes de fast-food, que apresentam um tíquete médio maior”, afirma.O maior desafio deste negócio, no entanto, segundo o consultor, ainda é a qualidade do atendimento. “O consumidor está mais interessado em voltar por ter sido bem atendido do que por ter pago preço menor.”
Há uns meses, encontrei o blog do Jonathan Harris, um lugar onde ele colocava uma foto por dia antes de dormir. Eram fotos aleatórias, do seu cotidiano. Ele diz que começou a fazer quando fez 30 anos, como uma maneira de capturar a memória. Passei a seguir suas fotos e não raro me deliciava com a qualidade do material, altamente inspirador. Ainda mais quando vinha seguido de alguns textos. Até que um dia, no lugar da foto, ele enviou um e-mail, dizendo que o projeto tinha acabado.
Hoje, vi o vídeo abaixo, com as fotos em sequência, acompanhadas de comentários de Harris. Em determinado momento, ele diz que o projeto estava dominando sua vida, quando era para ser o contrário. E aí, ele parou. Interessante saber como ele percebeu a hora de parar. Nem sempre percebemos quando esta hora chega. Os atletas mais bem-sucedidos param no auge. Como fez Pelé. Alguns, como Schumacher, param, mas resolvem voltar, para não ser nem sombra do que eram. Outros, param antes da hora. E voltam para arrebentar, como fez Kelly Slater no surfe, que depois de voltar ainda foi campeão mais duas vezes, tornando-se o único surfista decacampeão da história, muito a frente de qualquer outro competidor.
No video abaixo, Harris mostra que parou no auge e as imagens dele, com a vida do dia-a-dia, inspiram para o famoso Carpe Diem. Aproveite o momento e aprecie 8 minutos com imagens de um ano de vida de um artista de mão cheia.
E se isto não for o suficiente para inspirar, que tal este time lapse estelar, filmado na semana passada (entre 4 e 11 de abril) na montanha mais alta da Espanha? O lugar chama-se El Teide, um dos melhores do mundo para fotografar estrelas. O autor deste filme magnífico chama-se Terje Sorgjerd. Aproveite e reflita sobre o lugar maravilhoso em que vivemos! A vida é bela. Só tem que parar e apreciar de vez em quando! 😉
Vida corrida depois de uma mudança de trabalho. Para não deixar o blog parado, segue um link sobre o texto que escrevi recentemente sobre marcas, transparência e sustentabilidade para a revista Amanhã.
Em um mundo em que os consumidores querem cada vez mais serem ouvidos e dialogar, um bom jeito de gerar confianca é pela transparência
por Rodrigo Vieira da Cunha
Na última edição do TED, conferência americana sobre inovação e ideias, no início deste mês, duas grandes empresas protagonizaram um momento muito interessante na gestão de suas marcas. Os líderes da Ford e da Pepsi subiram ao palco do TED para falar de seus trabalhos à frente destas empresas, ícones do capitalismo.
Não é muito comum ver CEOs no palco do TED. Não há uma razão específica (ou talvez haja), mas o fato é que é assim. E desta vez, foram dois CEOs na sequência. Primeiro, falou Bill Ford (neto de Henry Ford), que pareceu à vontade no palco para mostrar que a Ford está olhando para o impacto ambiental causado pelos carros. De acordo com ele, temos hoje 800 milhões de carros, número que saltará para algo entre 2 e 4 bilhões em 2050! Bill Ford mencionou isso para falar de uma série de iniciativas para melhorar a eficiência dos carros e diminuir o impacto no meio ambiente.
Depois dele, falou Indra Nooyi, CEO da Pepsi. Ela começou dizendo que pediu a sua secretária que fizesse uma pesquisa e com isso descobriu que apenas um pequeno percentual dos palestrantes do TED eram CEOs e que achava isso curioso. Segundo ela mesma, a explicação poderia ser o fato de que os CEOs em geral não são confiáveis… Então, falou como uma grande empresa pode contribuir com o mundo e conquistar confiança dos consumidores desta maneira. Daí em diante, Indra apresentou detalhes sobre Pepsi Refresh, um projeto inteligente que patrocina ideias com o potencial de mudar o mundo. O PepsiRefresh começou com uma ótima sacada de marketing: em vez de colocar milhões para fazer anúncios no tradicional SuperBowl, final do campeonato de futebol americano, a Pepsi utilizou este dinheiro para financiar ideias e lançou o projeto no início do ano passado.
O mérito é indiscutível e aqui chego ao ponto que gostaria de abordar. Com a mensagem que passaram, Ford e Pepsi realmente pareceram empresas preocupadas com o impacto que causam e também em fazer negócios melhores. Mas parece que não estão exercendo todo seu potencial. As grandes empresas têm um poder enorme de mudar o mundo. São elas que se relacionam com milhões de consumidores, milhares de fornecedores, acionistas, governos e sociedade em geral. As decisões das empresas impactam a maneira como o mundo funciona. Levando isso em conta, possivelmente Ford e Pepsi perderam chances relevantes de ganhar pontos e confiança dos consumidores em suas falas no TED, que sempre aponta tendências e reverbera por meio de formadores de opinião no mundo inteiro.
Bill Ford deixou de passar uma visão mais ampla ao mostrar que está preocupado em melhorar o transporte como um todo, não apenas a parte que na sua visão lhe cabe, a dos carros. Talvez a grande oportunidade do futuro para a Ford seja a de integrar os automóveis com outros meios de transporte, pois é bem possível que em um mundo com 4 bilhões de carros não exista espaço físico para circular… Já Indra provocou sentimentos mistos na plateia do TED. Pelo twitter, as pessoas reclamavam da onipresença da marca Pepsi na apresentação e da falta de informações sobre como a empresa está transformando o negócio em busca da sustentabilidade. Um projeto social relevante como o Pepsi Refresh é muito legal, mas é paralelo ao negócio. Como a Pepsi faz para diminuir o impacto da logística? Como diminui a quantidade de água usada na produção dos refrigerantes? O que faz para estimular práticas de alimentação mais saudáveis?
São questões que ficaram sem respostas nas falas dos CEOs. E este é o problema. Em um mundo em que os consumidores querem cada vez mais serem ouvidos e dialogar, um bom jeito de gerar confianca é pela transparência. E mostrando resultados: alguns anos antes, no próprio TED, outro CEO falou e ajudou a fixar sua mensagem de reinvenção dos negócios. O nome dele é Ray Anderson e o que ele fez foi transformar sua empresa, a Interface, ao criar um dos modelos de negócios mais sustentáveis do mundo, diminuindo muito o impacto desde o início do processo em 1996. De lá para cá, a empresa reduziu em 43% a quantidade de energia necessária para fabricar carpetes, diminuiu 44% a emissão de gases (ou 94% se considerar a compensação) e ao mesmo tempo aumentou a receita líquida em 27% no mesmo período. Os resultados estão lá, de maneira transparente, no site da empresa.
Talvez os CEOs (nem todos) incomodem em suas mensagens porque está todo mundo cansado de monólogos. Regimes ditatoriais estão caindo no oriente médio e no mundo árabe por conta disso. Iniciativas como Wikileaks ganham projeção por causa disso. É muito melhor as marcas admitirem que nem tudo é perfeito, que existem falhas e que o processo é evolutivo, do que pegar o microfone para dizer: “olha como somos legais”. Isso não gera relevância, mas afastamento. Não se trata de um dilema sobre abrir ou não fraquezas, mas sim de admitir que há o que melhorar.
A transparência não é um dogma e mais do que um momento, é um movimento da sociedade. Lento, mas em pleno avanço. Só quem estiver disposto a pedir ajuda, a ouvir, vai perceber a oportunidade que isto traz. E quem não estiver, pode ficar para trás.
Nesta era de dados que trafegam na velocidade da luz, ainda estamos tentando dar vazão e compreender o que se faz com tanta informação. Principalmente quando ela é capaz de derrubar regimes e sistemas complexos e estabelecidos há anos. Não à toa, o tema transparência esteve muito presente no TED 2011.
Ainda no primeiro bloco, Wadah Khanfar, diretor da Al-Jazeera, falou sobre a revolução na Tunísia, e como a transparência sobre o que estava acontecendo via disseminação da mensagem pela televisão e outros meios ajudou a dar força ao movimento. Emocionado, ele disse que: “uma nova geração conectada e inspirada por valores comuns criou uma nova realidade para nós. Estamos testemunhando história, o nascimento de uma nova era”.
O executivo do Google Wael Ghonim, que teve papel-chave na mobilização via redes sociais que acelerou a queda do ditador egípcio é um exemplo marcante do nascimento desta nova era. Ele repetiu sua frase que já se tornou a marca desta revolução colaborativa: “Não houve um herói, porque todos foram heróis.” E também disse: “O poder das pessoas é muito mais forte do que as pessoas no poder”.
As marcas e a transparência
Morgan Spurlock, o autor do filme SupersizeMe, foi direto ao ponto transparência. Sua nova empreitada que vai sacudir o mercado publicitário, que não é o que se pode chamar de grande exemplo de transparência… A ideia foi criar um filme chamado “The greatest movie ever sold”, ou o “maior filme já anunciado”. O objetivo foi fazer um filme cujo único propósito era anunciar o próprio filme. Uma grande sacada. Ele foi atrás de marcas para ajudar a financiar, mas obviamente ninguém topou. É claro que durante todo o processo, Spurlock abusou do bom humor para mostrar como funciona o mundo da publicidade. Hoje, em média, uma pessoa recebe cerca de 1500 mensagens publicitárias por dia (procurei estudos sobre isso, quem quiser pode me pedir a fonte que variavam entre 800 a 3000 mensagens por dia – fiquemos na média). Faz-se de tudo para chamar a atenção para uma marca, muitas e muitas vezes prometendo aquilo que não pode ser cumprido… Spurlock disse que tem esperança que seu filme faça com que as companhias pratiquem mais a transparência, um elemento que ele disse ter sentido falta em suas viagens pelos Estados Unidos na produção.
Spurlock e sua nova empreitada: uma balançada no mercado publicitário
No mesmo bloco de Spurlock, coincidentemente ou não, falaram dois executivos responsáveis por grandes empresas, Indra Nooyi, da PepsiCo, e Bill Ford, da Ford. Bill Ford estava mais à vontade do que Indra, mas só no início da palestra. Bill mostrou que a Ford está sim preocupada com o impacto ambiental dos carros, mas partiu da premissa que o número de carros não vai deixar de crescer exponencialmente. Fiquei um pouco frustrado. Achei que ele apresentaria opções para um transporte mais eficiente e não apenas para carros mais eficientes. Segundo ele, temos hoje 800 milhões de carros, número que saltará para algo entre 2 e 4 bilhões em 2050. Assustador.
Indra perdeu uma grande oportunidade também ao focar demasiadamente no seu negócio. Ironicamente, ela começou dizendo que fez uma pesquisa e descobriu que apenas um pequeno percentual dos palestrantes do TED eram CEOs e que achava isso curioso e cuja explicação pode ser o fato de que os CEOs em geral não são confiáveis. Então, começou a falar (bem) sobre sua visão de negócio, sobre como uma grande empresa pode contribuir com o mundo e conquistar confiança dos consumidores desta maneira . E aí no segundo terço em diante, a palestra desandou. Indra se pôs a falar do Pepsi Refresh, um projeto muito bacana, mas que não tem nada a ver sobre a reinvenção do negócio em busca de sustentabilidade.
A plateia do TED não gostou nem ao vivo e nem nas redes sociais. Muitos criticaram a visão excessiva do produto. Eu fiquei particularmante incomodado com a visão onipresente da marca Pepsi nos slides. Enquanto muitas pessoas estão lá falando de projetos incríveis de vida ou da construção de um mundo melhor, o foco excessivo em um projeto de uma marca não caiu bem. No último bloco, num primor de transparência e abertura ao feedback, Chris Anderson deu espaço para que as pessoas fizessem falas de feedback de 1′. Uma delas foi dirigida à Ford e outra a Indra. A crítica à Ford foi a que mencionei (falta de visão do todo) e a da PepsiCo foi mais dura. No lugar de chamar a atenção para a reinvenção do processo produtivo, ao expor a marca em demasia, Indra atraiu a antipatia das pessoas. Então alguém disse que por mais que falasse bem da marca, não tinha como amenizar o fato de que a PepsiCo vendia água açucarada para as crianças.
Críticas à Pepsi: água açucarada para crianças
O caminho: diálogo
A mensagem foi mesmo dura, até radical, mas o ponto nem é este. O ponto é que as marcas e empresas ainda estão aprendendo a lidar neste mundo. O fato de um CEO do porte da Pepsi não entender como fazer uma fala em um evento de vanguarda como o TED mostra uma certa desconexão com o momento. E até explica porque não há tantos CEOs por lá. Será pelo fato de não falarem a mesma língua? A cobrança e interação das pessoas será cada vez maior. Definitivamente não será fácil a vida das grandes marcas daqui para frente se não conseguirem provar sua relevância.
O importante, principalmente para as marcas, é manter o diálogo. Depois de sua fala, o documentarista Spurlock ainda disse ao Huffington Post, que acredita que a transparência será algo cada vez mais necessário frente à vontade de as pessoas em saberem e trocarem mais informações via redes sociais. E de novo caímos no tema redes sociais e web. A crescente procura por transparência está crescendo graças à web e ao momento da civilização. Um site como o Wikileaks não existiria se não fosse tão fácil espalhar informações. As revoluções no Oriente Médio têm muto de sua força e rapidez graças à troca de informações. Apesar de ainda não ser livre e transparente em todos os lugares, como na China, por exemplo, de onde veio um vídeo gravado por Ai Weiwei, artista dissidente chinês cujo nome foi banido dos serviços de busca na web chinesa.
Ai Weiwei fez uma das reflexões mais profundas, que toca diretamente também no tema da transparência. Sobre sua situação e de outros na China, ele disse que as nações ocidentais estão tolerando aquilo que está acontecendo. “É uma visão curta. (…) Todo o sistema está se tornando corrupto e nossa sociedade está sacrificando o meio-ambiente, nossa cultura, para se tornar rica.” A frase de Ai Weiwei traz muitas reflexões. Uma delas pode ser a própria capa da Wired que está nas bancas neste mês, questionando o modelo de produção chinês para produzir gadgets como iPods e iPads, entre outros. A revista questiona qual a responsabilidade de cada um neste processo e se já não é hora de olhar mais a sério para isso.
Wired e a capa polêmica: você deve se preocupar?
Vício de jornalista, fui conversar com o outro lado, um amigo chinês que fiz lá em Palm Springs. Professor de universidade importante, intelectual, não bateu palmas ao final do vídeo gravado clandestinamente por Ai Weiwei e enviado ao TED. Aquilo me intrigou e mais tarde, em uma festa de confraternização da conferência, fui perguntar a opinião dele sobre o vídeo. Com semblante sério, disse que não gostou de ver “roupa suja sendo lavada em público”. Segundo ele, o governo chinês está fazendo tanta coisa, tirando tanta gente da miséria, que achava melhor dar crédito e tratar estas questões internamente antes de expôr o país nesta situação. Confesso que fiquei surpreso com esta reação, que carrega um sentimento de patriotismo maior até que a causa da liberdade de expressão. Respeito, mas acho difícil entender.
Países como a China abusam dos filtros na internet, mas eles não estão presentes apenas nas escolhas de agentes do governo. Eli Pareser, autor do livro “The Filter Bubble” fez uma fala bastante intrigante sobre este assunto. Segundo ele, os algoritmos que filtram as buscas do Google, Yahoo ou de qualquer outro serviço que apresente informações a seu pedido ou não, estão filtrando a realidade, escondendo informações desconfortáveis. “Os algoritmos não tem a mesma ética que os editores. Nós precisamos que os editores de informações coloquem um senso de responsabilidade nos algoritmos”, disse. “Eles mostram o que queremos ver e nem sempre o que precisamos ver.” Numa época em que se vive a busca por maior transparência, sem nem mesmo sabermos onde isso vai nos levar, não será surpresa a emergência de realidades mais cruas. É o que Morgan Spurlock falou em relação à transparência das marcas e o que começou a explorar em SupersizeMe e agora irá mais fundo no novo documentário. O mundo está cada vez mais em ON e com a definição de telas HD. Está cada vez mais difícil esconder as coisas.
“Imagine se…” são as palavras que mais recheiam as conversas entre as pessoas que já participaram de um TED ou TEDx pelo mundo, os chamados TEDsters. Por mais maluca que seja a ideia de alguém, logo em seguida alguém vai construir em cima desta ideia para talvez transformá-la em algo melhor ou mesmo viável. Não à toa, a conferência tem fama de revelar as próximas grandes ideias (big ideas). Por isso, não se encontra por lá gente dizendo: “isto não vai dar certo”. Aliás, em uma brincadeira, esta frase (a número 1 de burocratas) foi rebatizada em uma palestra no TEDActive, por Jack Sim, o fundador da World Toilet Organization (sim, a Organização Mundial dos Toaletes). Ele chamou este tipo de atitude de “bureaucrap”, em um trocadilho com com burocracia e merda, o que ele tenta tratar em seu trabalho…
A astronauta Cady Coleman abriu o TED 2011 falando do espaço. Foto do flickr, by Cr8it
Pois foi chutando a bureaucrap para longe que o TED começou. Falando enquanto girava em torno da órbita de seu próprio corpo, a partir da Estação Espacial internacional, a astronauta Cady Coleman abriu o TED 2011. Uma bela ideia de abertura de evento! Em seguida, começou a falar a física Janna Levin, que estudo o som que os buracos negros fazem. E do espaço, o número 1 do TED Chris Anderson conectou a plateia com Sarah Marquis, exploradora que está caminhando da Sibéria para a Austrália e até hoje já caminhou 30.000 km. Marquis perguntou em determinado momento por qual motivo não conseguimos nos conectar à natureza e teimamos em viver de maneira independente.
O colunista do NY Times David Brooks subiu ao palco para falar do desenvolvimento de consciência e trouxe dois insights importantes:
1) as emoções estão no centro de nossos pensamentos e portanto não estão separadas da razão. São, sim, a fundação da razão porque nos falam aquilo que devemos valorizar. 2) Nós não somos indivíduos auto-resolvidos, mas sim animais sociais e não racionais. Assim, estamos profundamente interconectados uns com os outros. E Brooks falou ao final que “a eficiência de um grupo não é determinada pelo seu QI, mas sim por quão bem conseguem se comunicar”, algo que estaria bastante presente nas palestras seguintes.
Linguagem e comunicação
A curadoria do TED deste ano trouxe vários exemplos de trabalhos que tentam enxergar sentido na quantidade absurda de informações que trafega em nosso dia-a-dia. Padrões, signficado, relevância – o que importa realmente em tudo aquilo que recebemos de informação? Carlo Ratti, do MIT, mostrou o trabalho baseado em sensores para entender a atividade humana, como por exemplo mapear o que acontece com o lixo. No livro Cidades Invisíveis, Ítalo Calvino já lembrava da enorme quantidade de resíduos que é coletada todo dia, mas que precisa parar em algum lugar. Se ninguém mostrar, fica difícil de ver… No site TrashTrack está a pergunta: “por que sabemos tanto sobre a cadeia de suprimentos e tão pouco sobre a cadeia de remoção de lixo?”
Deb Roy do MIT fez uma das falas que mais me chamou a atenção. Durante os três primeiros anos da vida de seu filho ele gravou 24 horas do que se passava na sua casa com câmeras espalhadas por todos os cômodos da casa. 90 000 horas de video. O objetivo foi aprender o processo de aprendizado da linguagem. A primeira palavra que seu filho disse foi água (“water“). Não à toa, a babá andava atrás dele o dia todo pela casa perguntando se queria água, mostrando o quanto o ambiente influencia no aprendizado! À medida que ia crescendo e aprendendo novas palavras, ele buscou interpretar padrões de conversas e em torno de que elas aconteciam. A palavra “bye”, por exemplo, acontecia com muito mais frequência na sala, perto da porta de saída. A experiência de Roy também pode ser aplicada, como ele mostrou ao final, no entendimento dos padrões que emergem de na discussão de temas como eleições, política e futebol. Entendendo isso, é possível, por exemplo, poder influenciar ou ajudar a dar sentido às conversas que emergem na internet a partir de programas de televisão. Ao final, Roy mostrou que tecnologia pode, sim, ter emoção, quando exibiu os primeiros passos da vida de seu filho.
“Milagres”
A emoção da descoberta apareceu outras vezes no TED, como no projeto do carro desenvolvido para ser guiado por cegos, de Dennis Hong.
Teve também o trabalho de exoesqueletos da Universidade de Berkeley, para aumentar o potencial de soldados e — muito melhor que isso — para fazer cadeirantes andarem, como Amanda, que caminhou no palco do TED.
O escavador de dinossauros Jack Horner foi ao palco em uma palestra divertida para mostrar como ele está reconstruindo o DNA de dinossauros a la Jurassic Park. Só que no lugar de pegar amostras de sangue de mosquitos presos em âmbar como no filme, ele está utilizando galinhas para reconstruir a sequência genética. Segundo ele, galinhas são bichos pré-históricos e que podem muito bem ajudar a construir o Galinhossauro. Ainda faltam alguns anos de pesquisa, mas o caminho já está sendo percorrido (veja mais).
E depois disso veio um dos momentos mais incríveis do TED 2011, quando o cirurgião Anthony Atala apresentou seu trabalho de medicina regenerativa e impressão de órgãos humanos. Sim, é isso mesmo. Nenhuma das pessoas com quem conversei nos últimos dias sobre isso conseguia acreditar no que ouvia. Para alguns, tive que enviar o link da palestra de Atala (abaixo), que já está no ar. É isso mesmo, já estamos conseguindo imprimir órgãos humanos. Atala fez duas coisas para deixar claro que não estava de bravata. 1) Ele terminou a impressão de um rim em pleno palco, ao final de um processo de 7 horas. Na definição dele, no lugar de tinto, o cartucho da impressora libera células humanas preparadas para este fim. Atala já desenvolveu a tecnologia para irrigar o rim com veias, mas o website da universidade informa que a tecnologia de impressão de órgãos humanos é promissora, mas que ainda existe muito a ser feito até que não se precise mais de doação de órgãos, por exemplo. 2) Atala levou ao palco um de seus pacientes que recebeu há 10 anos uma bexiga redesenhada em laboratório. O rapaz disse no palco com voz embargada que sua vida foi salva pelo cirurgião.
No dia seguinte a este choque o especialista em saúde pública Harvey Finneberg falou sobre evolução. Lembrou Darwin ao dizer que a sobrevivência depende de quem souber se adaptar melhor e não necessariamente aos mais fracos. E aí veio com sua tese: a “neoevolução˜. Com os avanços da medicina, ele falou que este novo tipo de evolução não será natural, mas sim guiado por nós humanos. Foi impossível não lembrar dos experimentos nazistas de Josef Mengele e conectar com o recém-mostrado poder de criar órgãos humanos. A pergunta de Finneberg ao final continua ressoando para mim: “Será que conseguiremos desenvolver a sabedoria para fazer as coisas certas para nossa evolução?”
Resposta: Humildade
Talvez a resposta estivesse no último bloco, que se chamou “Only if. If only”, mas podia muito bem ser chamado de humildade. Começou com a autodefinida “wronglogist” Kathryn Schulz, na que foi para mim uma das palestras mais sensíveis e delicadas dos quatro dias. Ela escreveu um livro sobre o “errado”, cujo título é “Being wrong: adventures in the margin of error” e será lançado em maio aqui no Brasil. Schulz diz que por volta dos 9 anos, aprendemos que as pessoas que fazem coisas erradas são irresponsáveis ou preguiçosas, mas que na verdade há muito mais sobre o erro do que este preconceito. “Santo Agostinho já dizia, ‘erro, portanto existo'”. Estar errado, para ela, faz parte de nossa humanidade e que isso é fonte de criatividade. “Abrace o erro e aprenda com ele. Faz mal confiar demais no sentimento de estar sempre “do lado certo” das situações. Olhe para a vastidão do e complexidade do universo e tenha a coragem de dizer ‘não sei’ ou ‘talvez eu esteja errado”.
O educador John Hunter veio em seguida. Dono de voz acolhedora transpirando sabedoria, ele mostrou o jogo “The World Peace Game”. Uma espécie de War ao contrário, falando da interdependência de países e do uso compartilhado de aspectos sociais e ambientais. Hunter sempre fala para as crianças durante o jogo, aplicado em escolas: “desculpem, meninos e meninas, nós deixamos o mundo em um estado tão ruim que vocês terão que consertar”.
E ao final, Hunter (com quem tive a sorte e inspiração de trocar rápidas palavras no corredor do hotel onde fiquei em Palm Springs) permaneceu no palco para a última e incrível fala de Robert Ebert, crítico de cinema americano que perdeu a fala graças a um câncer na tireóide. Com a mandíbula reconstruída, mas sem a possibilidade de articular sons, Ebert deu um show de bom humor e amor à vida ao sorrir incontáveis vezes pelos olhos durante a leitura de sua fala, ora pelo computador que simula sua voz, ora por sua esposa, ora por Hunter, ora por um terceiro amigo que dividia o palco. Em certo momento, sua esposa travou ao ler algo que ele tinha escrito. Ela não concordava e chegou a dizer: “desculpa, mas ele não quis dizer isso.” E começou a chorar. Com dois dedos, Ebert fez o sinal característico para ela continuar e como já estava demorando, pediu que ela passasse o texto para Hunter. Então ela disse: “nunca peça a sua esposa ler algo assim”. E continuou o discurso de celebração da vida que Ebert preparou.
Tenho certeza que durante a preparação desta fala, alguém disse: imagine se outros falassem por Ebert, representando sua voz. Assim como muitos outros imaginaram as invenções, engenhocas e inovações que preencheram o palco de Long Beach nesta edição: impressão de órgãos, galinhossauro, exoesqueletos, carros guiados por cego etc. De Long Beach a Oxford, passando por Palm Springs e por mais de 1 000 TEDx ao redor do mundo, a comunidade TED é repleta de pessoas de perfis empreendedores. A mágica de fazer e contar é o que mantém unida uma comunidade que só faz aumentar ano a ano. Com tanta gente pensando e trocando ideias com o ˜imagine se”, não tenho dúvidas que será possível trocar conhecimento para termos um lugar melhor para se viver. Sem “bureacrap”.
PS: ainda há mais a ser dito sobre o TED 2011. Virá nos posts seguintes.)
Enquanto continua o processo digestivo das falas do TED (que às vezes duram meses!), aí vai a cobertura completa via twitter (em português e inglês). Está cheia de links para os principais momentos das palestras. Quem tiver paciência, vai garimpar muita coisa boa. E quem não tiver, em breve vou começar a colocar aqui alguns posts com os assuntos “curados” com o que achei de conexões e relevância.
Wadah Khanfar, da Al Jazeera. “Uma nova geração conectada e inspirada por valores comuns criou 1 nova realidade p/ nós. Uau! #TEDTue Mar 01 2011 12:25:19 (PST) via TweetDeck
Doodling (ou ficar escrevendo no papel em reuniao chata!) é uma ferramenta p/ resolver problemas ou fixar conhecimento. Sunni Brown. #TEDTue Mar 01 2011 14:47:00 (PST) via TweetDeck
500 pessoas, 32 diferentes países, 160 organizadores de TEDx em Palm Springs assistindo o #TED em transmissão ao vivo. Estranho, mas legal.Tue Mar 01 2011 14:53:37 (PST) via TweetDeck
Bom-dia, boa tarde! Aí vamos nós para o dia 2 do #TED. Antonio Demasio no palco para falar de wonder and mistery of conscious minds.Wed Mar 02 2011 08:40:09 (PST) via TweetDeck
Morgan Spurlock mostrando aos publicitários o filme q ele queria fazer s/ publicidade. A cara de pavor da turma diz muito 😉 #TEDWed Mar 02 2011 11:48:21 (PST) via TweetDeck
“transparency is scary, unpredictable and also very risky” Morgan Spurlock s/ publicitários q não queriam participar do novo filme #TEDWed Mar 02 2011 11:51:33 (PST) via TweetDeck
Cars and environment will ever be in harmony? Bill Ford em fala pouco inspiradora no #TED O problema dos carros é quase insolúvel.Wed Mar 02 2011 12:28:08 (PST) via TweetDeck
Bill Gates` session is about backing to basics – understanding the universe, development patterns, eradicating diseases. Important. #TEDWed Mar 02 2011 15:06:31 (PST) via TweetDeck
TEDNews Salman Khan: Learn math the way you learn everything; fall of the bicycle. We encourage you to failure, but we do expect mastery. #TEDWed Mar 02 2011 15:44:27 (PST) via webRetweeted by rodrigocvc and 22 others
TEDNews On JR: “By removing himself and building trust, he enables the ppl he is photographing to reveal their true self…what it means to be human.”Wed Mar 02 2011 18:01:27 (PST) via webRetweeted by rodrigocvc and 7 others
TEDNews JR on Kibera: “But we didn’t use paper, because paper doesn’t prevent the rain from leaking inside the house. Vinyl does.” #TEDWed Mar 02 2011 18:18:55 (PST) via webRetweeted by rodrigocvc and 7 others
TEDNews Ai Weiwei at #TED: This whole system has become corrupted, and our society is sacrificing our environment, our culture, to become rich.Thu Mar 03 2011 12:19:28 (PST) via webRetweeted by rodrigocvc and 35 others
como reinventar algo que está aí há 5 mil anos. A seda pode ser usada para substituir ossos, sensores, hologramas, tattoos #TED FOmenettoThu Mar 03 2011 14:24:18 (PST) via TweetDeck
Christina Lampe-Onnerud, CEO da Boston-Power: “não estamos aqui para reclamar do aquecimento global. Estamos aqui para consertar” #TEDThu Mar 03 2011 15:20:25 (PST) via TweetDeck
Agora a artista e tecnóloga Kate Hartman. Ela se diz interessada em saber como as pessoas se comunicam > katehartman.comThu Mar 03 2011 18:01:21 (PST) via TweetDeck
“O que estamos fazendo é pegar uma galinha, modificá-la e transformá-la em ‘galinhassauro’. É uma galinha mais legal.”#TED Jack Homerabout 24 hours ago via TweetDeck
as Darwin said.RT @brainpicker: “Evolution doesn’t favor the smartest, it favors those best adapted to their environment.” H Fineberg #TEDabout 23 hours ago via TweetDeck
playing god? RT @TEDNews: H Fineberg “neo-evolution: the new evolution that is not simply natural, but guided and chosen by us” #TEDabout 23 hours ago via TweetDeck
“Será que conseguiremos desenvolver a sabedoria para fazer as escolhas certas sobre nossa evolução?” Harvey Fineberg#TEDabout 23 hours ago via TweetDeck
Agora Stanley McChrystal, ex-comandantedas forças americanas e internacionais no Afeganistão #TEDabout 23 hours ago via TweetDeck
TEDNews McChrystal: “You can get knocked down, and it will hurt. But if you’re a leader, the people you’ve counted on will help you out.” #TEDabout 23 hours ago via webRetweeted by rodrigocvc and 23 others
TEDNews From TEDActive, a comeback to Indra Nooyi: “Thanks for improving the culture of Pepsi… But you’re still selling sugar water to kids.” #TEDabout 21 hours ago via HootSuiteRetweeted by rodrigocvc and 22 others
muito interessante o espaço q o #TED dá p/ as críticas aos palestrantes. Pepsi e Ford vão ter repensar algumas coisas…about 21 hours ago via TweetDeck
“se vc quiser mesmo redescobrir o encantamento, vc tem que pular fora da ideia de estar sempre certo” – kathryn schulz#TEDabout 21 hours ago via TweetDeck
“olhe para a vastidão e complexidade do universo e tenha a coragem de dizer ‘não sei’ ou ‘talvez eu esteja errado”#kathryn schulz #TEDabout 21 hours ago via TweetDeck
World Peace Game é uma simulação política em que os jogadores veem a interdependência da comunidade global – John Hunter #TEDabout 21 hours ago via TweetDeck
John Hunter diz no jogo: “desculpem meninos e meninas, nós deixamoso mundo em um estado tão ruim que vcs terão que consertar “#TEDabout 21 hours ago via TweetDeck
Acabou o #TED pessoal, valeu pela audiência, RTs e #FFs Foi legal interagir com vcs por aqui e compartilhar estas ideias incríveis. Até!about 20 hours ago via TweetDeck