Arquivo da tag: Felicidade

A mólecula do amor

Texto publicado originalmente na revista Vida Simples, edição de 12/2011.)

Mente: o desafio é fazer o elefante e o condutor conversarem

Livro recebido de presente vai para o topo da lista da cabeceira. Nunca me arrependo desta máxima em que resolvi apostar. Não foi diferente com “The Happiness Hypothesis”, de Jonathan Haidt (infelizmente sem tradução em português), que ganhei de presente de um amigo que conheci no TED Global, em 2010, em Oxford, na Inglaterra. Meio ano depois, tive a oportunidade de reencontrá-lo e falar para ele o quanto este livro havia transformado minha vida e o jeito de ver o mundo.

Haidt é um psicólogo que estuda a moralidade e as emoções ligadas à moral. Este é o pano de fundo do livro, que trata de 10 grandes ideias, uma para cada capítulo. Haidt descreve estas ideias com base no conflito diário que nossa mente trava entre o que ele chama de elefante e o condutor. A parte consciente da mente é o condutor, que tem apenas um controle limitado do elefante, o inconsciente. O desafio é fazer com que os dois trabalhem de forma integrada, controlando — ou tentando controlar — nossas reações.

Haidt acredita que hoje existem três maneiras de fazer a mente trabalhar de maneira diferente, ajudando pessoas com uma “constituição infeliz” a verem o mundo de forma mais positiva. Uma das três maneiras é uma prática milenar, a meditação. As outras duas são mais modernas: terapia cognitiva e Prozac. De certa maneira, apesar de uma delas ser remédio, para casos extremos, é reconfortante pensar que o bem-estar da mente e a felicidade dependem basicamente de três coisas que podem um dia estar ao alcance de todos. Mas talvez exista algo mais fácil e quase instantâneo.

Nos estudos que fez para o livro, Haidt descobriu o poder de conexão da oxitocina e foi lá a primeira vez que ouvi falar deste hormônio. O livro fala de um estudo que mostra como a oxitocina foi liberada em mães latentes mais do que o normal somente por verem um video inspirador de um músico que recebeu ajuda do professor para largar a vida de gangues de rua.

Até já havia falado aqui da oxitocina, mas a  boa nova é que agora a palestra do neuroeconomista Paul Zak está no ar (http://bit.ly/tpiAvx). Em pesquisas aprofundadas, Zak descobriu que a oxitocina se manifesta em relações de confiança. Ele fez testes envolvendo transferências de dinheiro, em casamentos e até em saltos duplos de paraquedas. Zak descobriu que quanto mais confiança, mais oxitocina, mais confiança… A oxitocina é liberada quando nos sentimos bem, quando nos sentimos parte de algo maior, quando a confiança está no ar.

Ao final de sua palestra, lembrou que existe um jeito muito fácil de fazer o corpo produzir oxitocina: por meio de abraços. Oito por dia, mais especificamente. Ele ainda brincou que é chamado de Dr. Amor por causa disso. Mas esta é uma brincadeira muito séria. O amor é a base da vida em sociedade, a base da confiança. É o sentimento que nos torna possíveis como grupo social. É o que em, última instância, nos faz feliz. Então, além da meditação, terapia cognitiva e Prozac, quem sabe abraços para nos sentirmos melhor?

(veja aqui a palestra de Paul Zak no TED)

5 Comentários

Arquivado em Educação, Felicidade, Inspiração, Interdependência

De novo: o PIB não é índice de progresso

Felicidade é mais do que um PIB gordo

Felicidade é mais do que um PIB gordo

Não é novidade que este blog é fã de Eduardo Giannetti da Fonseca, um dos economistas (pensador) mais modernos destes trópicos, senão do mundo. Com sua brilhante simplicidade, Giannetti traz metáforas esclarecedoras sobre o modelo de desenvolvimento que temos baseado no crescimento e que traz  problemas como o das mudanças climáticas. No último 4 de setembro, o Estadão publicou uma entrevista excelente em que o economista repercutia a decisão de alguns bilionários pedindo para serem taxados para redistribuir renda. Mas este não era o ponto principal, e sim uma discussão sobre modelos de desenvolvimento, passando pelas decisões dos empresários, quase sempre de olho apenas no lucro, sem levar em conta como este lucro é obtido. E principalmente pela falta de visão da humanidade em geral para colocar na conta tudo o que é utilizado de recursos naturais para produzir o que consumimos. Vou reproduzir alguns trechos aqui:

A valorização do chamado ‘instinto animal do empresariado’ ainda tem lugar em uma sociedade que fala cada vez mais em sustentabilidade e consumo responsável?

Se tivermos que esperar a regeneração moral da humanidade para resolver o problema ambiental, estamos fritos. Ela não vai ocorrer. E quem imaginar que outro modelo econômico implantado de cima para baixo dará conta do recado, também está enganado. A pior experiência ambiental do século 20 é a da União Soviética. O que se percebe agora é que o mercado competitivo regido pelo sistema de preços padece de uma falha extremamente grave no tocante à relação entre o ser humano e o mundo natural. Ele não fornece uma sinalização adequada dos custos ambientais envolvidos em nossas escolhas de produção e consumo.

Explique melhor.

Por exemplo: vamos comparar duas opções de geração de energia elétrica. Na solar, na melhor tecnologia existente, o custo é de US$ 0,17 por quilowatt/hora. Ele está caindo e pode chegar US$ 0,10 nos próximos anos. Já uma termoelétrica a carvão gera um quilowatt/hora, igualzinho, por US$ 0,02 a US$ 0,03. Qual é a opção lógica de uma empresa que esteja no mercado ou de um país que queira ser competitivo? É o que a China está fazendo: termoelétrica a carvão. Só que essa comparação é tremendamente distorcida. E o custo da emissão de CO2 gerado pela queima do carvão? Não aparece na conta. É como se o custo imposto à humanidade e às gerações futuras não existisse. Outro exemplo: quando você come carne, paga a criação do gado, a pastagem, o transporte, a embalagem, mas não a emissão de CO2. Só que se você somar todo o rebanho mundial, bovino, suíno e aviário, a emissão de CO2 equivalente é maior do que de toda a frota automobilística do planeta. Os preços que pagamos pelo que fazemos não estão refletindo o custo total do que estamos consumindo. É essa a falha grave do sistema de preços a corrigir.

Essas coisas terão que custar mais?

Sim. O preço é um pacote de informação econômica: ele reflete, de um lado, o custo de produzir e, de outro lado, a satisfação que o consumidor tem ao consumir. Em nenhuma das duas dimensões hoje em dia está incorporado o aspecto meio ambiente, o uso de recursos naturais não renováveis, água, emissão de gases nocivos. Isso terá que ser incorporado. O problema é que se formos depender da boa vontade das empresas ou dos consumidores, isso não vai mudar. A British Airways introduziu recentemente, para o cliente de passagem aérea, a opção de pagar na emissão do bilhete o crédito de carbono correspondente ao trajeto. Imaginando que, como o mundo está aparentemente desesperado com o aquecimento global, os passageiros conscientes iriam aceitar pagar. Sabe qual foi a adesão? 3%. É a história do jovem Agostinho, que orava: “Dai-me, Senhor, a castidade e a virtude. Mas não agora”. (Risos.)

O sr. se alinha aos economistas que questionam o uso do PIB como índice de progresso.

É claro. Veja que coisa: se você vive em uma comunidade em que a água é um bem livre, como o ar que respiramos, isso não entra nas contas nacionais. Não há registro econômico. Se essa comunidade, ao contrário, polui todas as fontes de água natural e, para continuar sobrevivendo precisa purificar, engarrafar, distribuir ou importar água, o que ocorre com o PIB do país? Ele aumenta! É uma maluquice. A qualidade de vida piorou, você tem que trabalhar mais para beber água, e o sinal que a economia tal como é registrada emite é o de que a vida melhorou. Se você vai a pé para o trabalho, isso não entra no PIB. Mas se passa horas no trânsito, de carro, poluindo a cidade e prejudicando sua saúde física e, o PIB aumenta! Porque uma coisa que não era intermediada pelo sistema de preços passará a ser. As pessoas não têm noção de como os números distorcem a realidade.

Ter um cara como o Giannetti nesta trincheira é um grande alento. É como ter uma camisa 10 craque no seu time. O problema é que este pensamento ainda está fora dos grandes centros. É um jogo que não passa nos veículos de maior audiência – e portanto pouca gente ainda vê. Precisamos de mais Giannettis para este pensamento se tornar cada vez mais aceito e começar a fazer parte de movimentos maiores, como o do Butão e até da França, que querem incorporar a felicidade na maneira de medir o sucesso de um país — e não somente da economia, o velho e quase caquético PIB.

 

Veja aqui posts relacionados sobre PIB e Felicidade

Gerar mais valor para os acionistas ou jogar mais bola com a gurizada?

Só PIB maior não é receita de sucesso

No país mais feliz do mundo

 

 

 

 

 

 

 

 

 

2 Comentários

Arquivado em Felicidade, Ideias, Mundo 2.0, Nova Sociedade, política, Questões, Sustentabilidade

O melhor de 2010 – parte 3

Tecnologia, redes sociais, felicidade, disposição de lixo e até travel writing (de 2009!) estiveram entre os textos mais acessados de 2010.

O Cala Boca Galvão foi um dos grande momentos da internet em 2010! Mereceu até referência de um dos maiores blogueiros sobre tecnologia e redes, o Ethan Zuckerman, na palestra que deu no TED Global, em Oxford. Foi um exemplar caso de impactos na reputação no mundo conectado em rede e sobre como interagir (e não “reagir”. Na ocasião, a Globo ficou em dúvidas sobre como agir enquanto o barulho aumentava na internet. Até que resolveram fazer o Galvão brincar com a história e a coisa deu uma acalmada.  A lição que ficou é a mesma para todas as empresas que estão tentando entender as redes sociais: mesmo que você não queira, você já está na rede, já há gente falando de você.

Outro post bem acessado em 2010 foi sobre as pistas falsas para a felicidade. Gosto muito de escrever sobre este tema e neste próprio post há vários links para outros posts sobre o mesmo assunto. Vale a máxima do Jabor para este assunto: “a vida gosta de quem gosta dela”. Para saber mais, vale ler o último post de 2010: “Em 2011, viva o lado positivo da vida”.

Segue mais uma leva de mais acessados e outras fotos ao final.

6. Comprar ou não comprar um iPad?

7. Por que o Cala Boca Galvão deu certo

8. As pistas falsas para a felicidade

9. Lixo seco ou úmido?

10. American Way of flying

Fiz esta e as quatro fotos abaixo no mesmo dia, em momentos diferentes, com um tripé. São Paulo também tem cores!

1 comentário

Arquivado em Uncategorized

Em 2011, viva o lado positivo da vida

É melhor sempre olhar para o lado positivo da vida

Em 2011, gostaria de melhorar isso, fazer mais daquilo e deixar de fazer isso ou finalmente parar de…

Em geral, as listas de ano novo têm a ver com fazer algo que fazemos pouco ou passar a fazer algo que não fazemos. Ou, como melhorar nossos pontos fracos. E quem disse que precisa ser assim? Que tal se a gente resolve focar em melhorar aquilo que já fazemos bem? Por que perder energia tentando melhorar algo que vamos precisar conhecer a fundo, que vai exigir dedicação e esforço (e talvez frustrações), quando talvez  a receita para a felicidade, que inclui um ano melhor, pode estar naquilo que já fazemos?

Ou seja, abaixo listas de ano novo pretensiosas e frustrantes! Nunca fiz nenhuma delas e (talvez por isso) sempre acho que meus anos foram bons. Excluindo as fatalidades da vida, acho que podemos, sim, fazer nossas escolhas e sermos felizes com elas. Ter consciência sobre a importâcia de escolher é meio caminho andado.

Acho que não por acaso, ontem mesmo encontrei menção científica a esta sensação. Foi no livro The Happiness Hypothesis, de Jonathan Haidt, uma espécie de bíblia para mim em 2010. Como diz o site do livro, não é um livro de autoajuda, mas se você quiser usar como tal, tudo bem? Usei mais como fonte para autoconhecimento do que qualquer outra coisa. Dica de um grande cara que conheci no TED Global, o Sandro, encontrei muitas referências bacanas para este blog e para o dia-a-dia.

 

O livro The Happiness Hypothesis: bíblia em 2010

Em 1998, um psicólogo chamado Martin Seligman fundou a Psicologia Positiva, quando ele caiu em si que a psicologia estava obcecada em identificar patologias e com o lado negro da natureza humana, deixando de lado tudo o que era virtuoso e nobre. Seligman viu que os psicólogos haviam criado manuais enormes de desordens mentais, mas ninguém havia criado uma linguagem ou padrão para identificar os grandes achados de saúde, talentos ou potenciais humanos. E aí ele resolveu criar um manual para diagnosticar forças e virtudes. Gênio!

Com o colega Chris Peterson, da Universidade de Michigan, fizeram uma lista exaustiva de todas as virtudes que conseguiram achar em lugares como os livros sagrados das principais religiões e até em juramentos de escoteiros. Compararam todas e tentaram chegar a uma lista comum. Acabaram achando seis virtudes ˜universais˜: sabedoria, coragem, humanidade, justiça, temperança e transcedência. São universais porque, como explica Haydt no livro, ninguém em nenhuma cultura irá dizer para os filhos serem covardes ou intrinsecamente maus.

Por serem um tanto abstratas, a análise destas virtudes permite uma visão mais aprofundada e que é usada para organizar forças de caráter mais específicas. Peterson e Seligman sugeriram que existem 24 princípios de forças de caráter dentro das 6 grandes virtudes. (Eles têm um site onde você pode fazer um teste, em inglês, sobre suas forças de caráter para ver quais você pode explorar melhor: http://www.authentichappiness.org)

Sabedoria

– Curiosidade, Vontade de aprender, Julgamento, Inventividade, Inteligência emocional, Perspectiva

Coragem

– Valentia, Perserverança, Integridade

Humanidade

Bondade, Amor

Justiça

– Cidadania, equidade, liderança

Temperança

– Autocontrole, Prudência, Humildade

Transcedência

Apreciação de beleza e excelência, Gratidão, Esperança, Espiritualidade, Perdão, Humor, Entusiasmo

Há quem sinta falta de algo e isso não é um problema, porque a lista é recente e ainda em desenvolvimento. Por exemplo, por que bom humor não está aí? Ou inteligência, respeito, senso de responsabilidade? A conversação está em aberto, mas o ponto principal na minha opinião é colocar luz nisto. Valorizar a metade cheia do copo.

Se tem algo que incomoda é a visão negativista da vida, gente reclamando, dizendo que não vai dar certo. Em 2010, mantive uma distância saudável destas visões de mundo. Não que eu não precisemos conviver com isso, afinal a diversidade é um dos grandes aprendizados da vida, mas certamente não irei procurar visões baixo-astral. Se a vida é feita de escolhas, então vamos escolher o que é bom, o que é legal. Gente de bem com a vida! Ou, como disse Jabor, a vida gosta de quem gosta dela!

A vida gosta de quem gosta dela!, disse Jabor no filme A Suprema Felicidade

6 Comentários

Arquivado em Comunicação, Felicidade, Inspiração

Everyday in Costa Rica is like a dream

Bob, garantindo a vida de sonho na Costa Rica

“Desde quando vocês vivem aqui?”- perguntei.

“Faz 5 anos e 3 meses”, respondeu Bob, de cabelo branco raspado e couro cabeludo esbranquiçado contrastando com a cor bronzeada da pele que reveste um corpo esquálido, com não mais do que 5% de gordura.

“Vocês vieram juntos?”, apontei para a filha, que separava fotos da sessão de ondas na Playa Negra, em um sofá confortável, de almofadas vermelhas revestindo a madeira nativa, emoldurados por uma enorme prancha de longboard que não deve entrar na água há um bom tempo.

“Ah, sim, eu, minha esposa, três filhos e duas netas!”

“E até quando vão viver aqui?”

“Até o último dia da minha vida”, respondeu com olhar seguro por trás de um óculos redondo de fino aro preto.

“Então, vocês gostam mesmo daqui!”

Pausa… Suspiro.

“Everyday in Costa Rica is like a dream”, respondeu em tom grave, solene e orgulhoso.

Bob encontrou seu espaço no paraíso. Quando saímos da água, sua filha, cujo nome ficou na Costa Rica, veio correndo até nós. Apontou para seu pai e disse: “temos boas fotos de vocês na sessão de hoje”. E nos entregou um cartão plastificado onde lia-se: Bob Stonefish Photography.

Depois das ondas, as fotos

Para os surfistas solitários, o pacote de fotografias custa 50 dólares. Nós, que estávamos em quatro, pagamos 20 dólares cada um. Levamos 350 fotos para casa.

Valeu, Bob!

“Eu e meu pai surfávamos juntos praticamente todos os dias lá em Oregon”, lembrou a filha.

Na beira da água quente da Costa Rica, Bob garante o sustento da família. A casa é simples e as netas brincam no jardim repleto de vegetação luxuriante típica da América Central.

Logo antes de Bob descer do segundo andar e dizer que todo dia na Costa Rica era como um sonho, sua filha ainda tinha dúvidas.

“Você gosta daqui?”, perguntei.

“Sim, este lugar é demais. Só fico preocupada com as oportunidades para minha filha. Ela não aprende nada na escola.”

“Mas ela só tem 5 anos!”- respondi.

“Sim, mas já podia estar aprendendo alguma coisa, como o ABC, números. Mas nem isso. Acho que vamos voltar para Oregon. Lá ela terá mais oportunidades.”

Qual o caminho para a neta de Bob?

Na hora de ir embora, a filha de Bob nos pediu uma carona até a praia, para brincar com a filha.Eram 2h da tarde. A menininha nos contou de seu dia-a-dia na escola, alternando entre inglês e espanhol. Tinha o cabelo loiro, lindos olhos verdes, pele alva. E não passou protetor solar. “Esqueci de trazer”, disse sua mãe. E este foi mais um dia de sonho na Costa Rica.

Everyday in Costa Rica is like a dream...

3 Comentários

Arquivado em Felicidade, Surfe, Sustentabilidade, Viagens

Pura vida

 

O mapa da Costa Rica, que lembra um caranguejo

 

A preocupação com o meio ambiente está por todo o lado na Costa Rica. Desde no grip de papelão que envolve o copo de café quente a la Starbucks até na coleta seletiva, praticamente onipresente.

 

Ecogrip para segurar o café

 

 

Coleta Seletiva está por todo lado

 

Aqui está o maior percentual de parques de preservação por área total do país no mundo. 25% do país está protegido. As estradas quase sempre cortam áreas verdes. Estive aqui há 13 anos. Muita coisa mudou obviamente, mas o desenvolvimento não conseguiu tirar a beleza deste local. O sorriso do rosto, ao contrário, só aumenta.O que mais se escuta é Pura Vida, expressão que carrega um modo de viver, um jeito gostoso de olhar a vida.

Claro que nem todos têm a vida que gostariam. Há pobreza, sim, mas pelos lugares que tenho passado, é muito menos miserável do que na Nicarágua, por exemplo, vizinha que está seguindo os passos do país irmão mais ao Sul.

Há placas em inglês por todos os lados e o dólar é moeda corrente. Cerca de 2 milhões de estrangeiros visitam o país todo o ano.  Os gringos certamente trazem desenvolvimento a este local. O desafio será deixar intacto uma região que está somente a duas horas e meia de voo da Flórida. Hoje, na água, alguns ticos, como são conhecidos os costarriquenhos, falavam dos altos preços das casas na Playa Negra, uma das melhores para surfe por aqui. Falavam em casas que haviam sido vendidas por quase 1 milhão de dólares. O lugar está a cerca de 15km de Tamarindo e pode ser chamado de tudo, menos de desenvolvido. Há apenas algumas pulperias (armazéns) e um ou outro restaurante na beira da estrada. Há, claro, o campo de futebol 11, como se vê em quantidade inversamente proporcional ao futebol da seleção da Costa Rica. Um milhão de dólares é quanto custa ter uma casa grande e confortável no paraíso. E quando sentirem saudades de casa, ali em Tamarindo, a poucos quilômetros de distância, os americanos vão encontrar um restaurante Subway ou uma Pizza Hut.

 

Pura vida!

 

Acho que está é a concessão dos costarriquenhos para manter este lugar incrível. Afinal, um povo que acabou com o exército na década de 40 para investir em saúde e educação sabe muito bem sobre o que é importante para continuar se desenvolvendo sin perder la ternura jamás. Pura Vida!

Deixe um comentário

Arquivado em Felicidade, Sustentabilidade

No país mais feliz do mundo

E aqui estamos novamente na Costa Rica. Em qualquer lugar que se vai é fácil de confirmar a fama e estudos que dizem que este é o país mais feliz do mundo. Basta pedir uma informação, circular pela rua, ser parado pelos policiais ou mesmo mostrar o passaporte na imigração para ver o sorriso estampado no rosto de qualquer um. Enquanto não escrevo mais por aqui (afinal, sobra pouco tempo para outras coisas que não surfar por aqui!), aí vão alguns links sobre felicidade e Costa Rica.

O que fizemos de errado?

O que faz um país feliz?

O que faz um país feliz – parte 2

TED Global – dia 1

1 comentário

Arquivado em Felicidade, Viagens

Felicidade, blogs, bancos, surfe, TED etc – a seleção da semana

Está cada vez mais difícil manter a regularidade neste blog em função do dia-a-dia atribulado no trabalho e mais as funções de família.

Estava pensando como equacionar esta questão neste final de semana e vou tentar fazer algo diferente. Como passo por dezenas (talvez centenas) de artigos, links, sites etc durante a semana e acho muita coisa legal, vou tentar fazer regularmente uma espécie de curadoria com aquilo que me interessa e que pode interessar a vocês que acompanham por aqui.

É importante ter o feedback porque não tem a menor graça escrever sozinho. Cada comentário, cada nova ideia, é um estímulo para seguir. Sem isso, vou ficar pelo caminho! Não é um pedido, é só um fato! (risos)

O que vi de legal por aí nesta semana:

Estudo da new economics foundation sobre bem-estar na Inglaterra

O gráfico abaixo (feito pela new economics foundation, organização do Nic Marks, a quem tive a honra de conhecer no TED Global, em Oxford) mostra como as pessoas se sentem em relação ao seu bem-estar. O resumo diz que as pessoas na Inglaterra se sentem melhor do que os europeus na média, mas que ficam para trás em termos de confiança e sentimento de ‘pertencimento’. Um dos pontos mais debatidos é sobre quanto o dinheiro teria impacto nisso. O que a pesquisa mostra é que mais dinheiro impacta mais na falta de sentimentos negativos e aumenta a percepção sobre uma vida satisfatória, mas não significa que aumenta a confiança ou o sentimento de pertencimento. E, aparentemente, traz a sensação de que a confiança aumenta com a idade.

Gráfico sobre o bem-estar inglês

Os melhores blogs de 2010, da Time

Este não é novo, mas sempre vale compartilhar. Lista da Time com os melhores blogs de 2010.

A experiência com blogs do Guardian

Ao contrário de querer resistir às mudanças da maneira como as pessoas se comunicam, o jornal Guardian, da Inglaterra, resolveu fazer uma experiência, reconhecendo o poder dos blogs como disseminadores de notícias. Se você é um blogueiro do wordpress, você poderá postar os artigos do Guardian diretamente na sua página. Ou seja, está liberando seu conteúdo de graça. Há algumas condições, porém: você precisa se registrar e terá que publicar o artigo por completo, com anúncios, inclusive. Desta maneira, o veículo reconhece que muitas pessoas republicam o seu conteúdo, estimulam isso, mas ganham a possibilidade de aumentar a exposição dos anunciantes. Muito engenhoso, transparente e sem querer brigar com o futuro, como estão fazendo os veículos que ‘fecham’ o conteúdo em um mundo que se abre cada vez mais.

O banqueiro das pessoas

Matéria sobre Simon Warburg, mostra que a vocação original dos banqueiros pode ter se perdido com a ganância por acumular dinheiro e que talvez não existem mais banqueiros, como Warburg, que acreditava ser sua principal missão entender, valorizar e satisfazer os clientes.

Editorial de moda e conteúdo da Patagonia

A Patagonia, a marca criada por Yvon Chouinard, faz sempre coisas incríveis. O último editorial de surfe apresenta as novas roupas em uma revista eletrônica, acompanhada por matérias e fotos excelentes. Os temas estão ligados à proteção de praias com excelentes ondas. É um misto de conteúdo editorial com propaganda muito bem-feito. Quem gosta de surfe, vai se deliciar. Quem não gosta, vai ver belas fotos e uma excelente referência de como vender sem invadir, se é que me entendem. O editorial faz ainda referencia à organização Save the waves, que ajuda a proteger as praias de bom surfe. Ou seja, propaganda com causa, um belo caso de branding.

Editorial de moda e conteúdo da Patagonia é um show de imagens

TED Talk da semana – Chip Conley – medindo aquilo que faz a vida valer a pena

“Nem tudo que pode ser medido, conta. E nem tudo que conta, pode ser medido.” Albert Einstein

4 Comentários

Arquivado em Colaboração, Comunicação, Felicidade, Interdependência, Jornalismo, Mundo 2.0, Nova Sociedade, Surfe

O que fica no final das contas

Nunca tinha ouvido falar sobre isso, mas gostei. Dizem que a cada filho que temos, 25% de nosso ego vai embora. Obviamente, isso não é nada científico e sou do tipo que precisa de dados, evidências, informações para acreditar em algo. Entretanto, a sabedoria popular tem razões que a própria razão desconhece e achei a reflexão válida, complementada com o trecho abaixo do diálogo reproduzido no excelente site number27.org (ao final do texto segue o diálogo original em inglês e a incrivel foto daquele dia).

"Fico sempre impressionado quando conheço idosos. Não importa o que tenham feito na vida – se são presidentes de grandes empresas, grandes artistas, qualquer coisa – eles sempre parecem dizer que a melhor coisa que fizeram foram os seus filhos. Eles sempre parecem dizer isso. E um pouco louco, por que na minha idade, não consigo imaginar isso. Mas como eles sempre dizem, deve ser verdade.˜

Lembrei também da frase de um ex-chefe que encontrei dia desses. Já com muitos anos de carreira, em idade (ou próximo) de se aposentar, começamos a falar de férias e viagens. Ele disse:

"Rodrigo, descobri que o que fica nesta vida são as férias, as viagens, a diversão, os bons momentos. Sem desmerecer a vida profissional, o trabalho, as lembranças marcantes são aquelas dos bons momentos com pessoas que gostamos.˜

E, por fim, lembro de muitas entrevistas que fiz com empresários e empreendedores para o livro ˜Como fazer uma empresa dar certo em um país incerto˜. Ao final, eu sempre perguntava a eles – todos empresários bem-sucedidos – o que teriam feito diferente. E eles invariavelmente diziam que queriam ter ficado mais tempo com os filhos. Considero um presente ter ouvido em tempo estas lições.

=============

Jun 18, 2010 . Siglufjörður, Iceland

Bergþór rolled up on his bike.

"Out for a little ride?" I said.

"Just airing out the soul," he said.

"Is that the best way to do it?"

"I like to go hike in the mountains," he said, "but it’s hard to find time. You know, I’ve got my obligations."

"Right, the family," I said.

"I heard somewhere that each kid takes away 25% of your ego," he said.

"And you’ve got two or three?"

"Two," he said.

"So I guess you’re like half a man then," I said.

"I’ve never though about it like that," he said. "But I suppose I am in a way. But of course there are many good things, too."

"You know, I’m always amazed when I meet old men and women," I said. "No matter what they’ve done in their life — if they’re the heads of big companies, great artists, whatever — they always seem to say their proudest accomplishment is their kids. They always seem to say that. And it’s crazy because for me, at my age, I just can’t imagine it. But they all seem to say it, so there must be something to it."

"How old are you?" he said.

"30," I said.

"Me too," he said. "Well, I just turned 31 a few weeks ago."

"And I’ll be 31 in August," I said.

"1979?" he said.

"Yeah, 1979."

He looked at the mountains.

"Well, I guess I better get back to them."

"Right, off you go."

"OK, see you later," he said, and he went away almost the same as he came.


Jonathan Harris
http://number27.org

2 Comentários

Arquivado em Felicidade, Questões

Quem troca um casamento por uma carreira bem-sucedida?

Recentemente, Sandro Bullock venceu o Oscar e descobriu-se que era uma infeliz proprietária de um casamento em frangalhos. David Brooks pegou essa história como gancho para falar, no NYTimes (e reproduzido pela Folha de S. Paulo) sobre felicidade.

Brooks diz que “A felicidade conjugal é muito mais importante do que qualquer outra coisa para determinar o bem-estar pessoal. Se você tem um casamento bem-sucedido, não importa quantos reveses profissionais sofrer, você será razoavelmente feliz. Se tiver um casamento malsucedido, não importa quantos triunfos tenha em sua carreira -você se sentirá não realizado, em grau importante.”

O que existe por trás desta visão do casamento é o bom relacionamento social. A análise de Brooks, fundamentada em muitas pesquisas sobre o assunto, deixa claro que uma vida repleta de interações sociais, de amizades, é muito importante para qualquer um. Mais do que um cargo bonito ou uma empresa em expansão.

Mas chama a atenção ainda outro ponto no texto. Está no último parágrafo:

A maioria dos governos divulga toneladas de dados sobre tendências econômicas, mas não divulga informações suficientes sobre a confiança e outras condições sociais. Em suma, as sociedades modernas desenvolveram instituições imensas orientadas às coisas que são fáceis de contabilizar, mas não às coisas que são mais importantes. Elas têm afinidade com as preocupações materiais e um medo primordial das preocupações morais e sociais.

É a velha discussão que tenho abordado aqui sobre a busca por novos índices de desenvolvimento, que possam aposentar aqueles que estamos acostumados, como o PIB, que mede o crescimento sem levar em conta o desenvolvimento. Se um país entrar em guerra, por exemplo, e milhares de pessoas morrerem, isso será bom porque ‘movimentou’ a economia. É ou não uma estupidez.

Já que a economia é um jeito de organizar a sociedade, acho que precisamos nos organizar melhor… Medindo — ou tentanto medir — a felicidade.

Segundo pesquisas, situação conjugal é mais importante do que outros itens para determinar o bem-estar pessoal

Sexo, encontros sociais e jantares são atividades associadas à felicidade; deslocamento de ida e vinda do trabalho é prejudicial

DAVID BROOKS
DO “NEW YORK TIMES”

Duas coisas aconteceram com Sandra Bullock em março. Primeiro, ela ganhou um Oscar de melhor atriz da Academia. Depois, a mídia noticiou que seu marido é um canalha adúltero. Assim, a pergunta filosófica é: você aceitaria trocar um triunfo profissional tremendo por um golpe pessoal pesado?
Por um lado, um Oscar não é de se jogar fora. Sandra Bullock conquistou a admiração de seus pares de uma maneira que poucas pessoas chegam a fazer. Ela ganhará mais dinheiro durante anos. É possível que ela até viva mais tempo. Uma pesquisa constatou que os premiados com o Oscar vivem em média quase quatro anos mais do que os indicados ao Oscar que não recebem o prêmio.
Mesmo assim, se você precisou de mais de três segundos para refletir sobre essa pergunta, você está completamente louco. A felicidade conjugal é muito mais importante do que qualquer outra coisa para determinar o bem-estar pessoal. Se você tem um casamento bem-sucedido, não importa quantos reveses profissionais sofrer, você será razoavelmente feliz. Se tiver um casamento malsucedido, não importa quantos triunfos tenha em sua carreira -você se sentirá não realizado, em grau importante.
Este não é um discurso vazio. Nas últimas décadas, pesquisadores vêm estudando a felicidade. Seu trabalho, que inicialmente pareceu inconsistente, desenvolveu um rigor impressionante, e uma das descobertas importantes é que, como previam os sábios do passado, o sucesso no mundo tem raízes superficiais, enquanto os laços interpessoais permeiam tudo.
Um exemplo: o vínculo entre felicidade e renda é complicado e tênue. É fato que os países pobres se tornam mais felizes à medida que se tornam países de classe média. Mas, alcançada a satisfação das necessidades básicas, há pouca ligação entre a renda futura e o bem-estar. Os países em crescimento são ligeiramente mais felizes do que os países com índice de crescimento mais baixo.

Riqueza
Os EUA hoje são muito mais ricos do que há 50 anos, mas o aumento na riqueza não gerou aumento mensurável na felicidade de seus habitantes.
Em escala pessoal, o fato de ganhar a loteria não parece gerar ganhos duradouros em matéria de bem-estar. As pessoas não são mais felizes durante os anos em que conquistam mais promoções no trabalho. Elas são felizes na casa dos 20 anos; essa felicidade diminui na meia-idade e, em média, as pessoas alcançam seu pico de felicidade logo depois de se aposentarem, aos 65 anos.
A felicidade das pessoas aumenta ligeiramente conforme a renda sobe, mas isso depende de como elas vivenciam o crescimento. Sua riqueza acirra expectativas irrealistas? Desestabiliza relações consolidadas? Ou flui de um círculo virtuoso no qual um trabalho interessante gera trabalho árduo que, por sua vez, conduz a mais oportunidades interessantes?
Se a relação entre dinheiro e bem-estar é complicada, a correspondência entre relacionamentos pessoais e felicidade não o é. As atividades cotidianas mais associadas à felicidade são o sexo, os encontros sociais depois do trabalho e os jantares com outras pessoas. A atividade cotidiana mais prejudicial à felicidade é o deslocamento de ida e vinda do trabalho.
Segundo um estudo, participar de um grupo que se reúne, mesmo que seja apenas uma vez por mês, gera o mesmo ganho de felicidade que uma pessoa tem quando dobra sua renda. Para outro estudo, ser casado gera um ganho psíquico equivalente a mais de R$ 180 mil por ano. A impressão deixada por essa pesquisa é que o sucesso econômico e profissional existe na superfície da vida e que ele emerge dos relacionamentos interpessoais, que são mais profundos e importantes.
Outra impressão é que prestamos atenção às coisas erradas. A maioria das pessoas superestima o grau em que mais dinheiro poderia melhorar suas vidas. A maioria das escolas e faculdades passa tempo demais preparando seus alunos para a vida profissional e tempo insuficiente preparando-os para tomar decisões sociais.
A maioria dos governos divulga toneladas de dados sobre tendências econômicas, mas não divulga informações suficientes sobre a confiança e outras condições sociais. Em suma, as sociedades modernas desenvolveram instituições imensas orientadas às coisas que são fáceis de contabilizar, mas não às coisas que são mais importantes. Elas têm afinidade com as preocupações materiais e um medo primordial das preocupações morais e sociais.
Tradução de CLARA ALLAIN

1 comentário

Arquivado em Felicidade, Questões, Sustentabilidade