Fôlego


‘”A vida vem em ondas, como o mar…”, já cantava o sábio Lulu Santos. Pois os últimos quatro dias esse refrão ficou na minha cabeça. No mar, acontece mais ou menos assim: está tudo na maior tranquilidade, com asuperfície da água lisa. Então,  a linha do horizonte fica um pouco elevada. Nesse momento, vale se preparar, virar a prancha em direção ao horizonte e remar. Em alguns segundos, a série vai chegar. E ficar na zona de impacto da primeira onda não é nada recomendável. Assim, quando as ondas chegam, quem estiver melhor posicionado se dá bem.

Malcomparando, nos últimos dias, as séries vieram direto. Séries de tosse intermitente, que roubam o fôlego, tiram a respiração e a tranquilidade. Está tudo ok num minuto. Respiração numa boa, sorrisos fartos, chocalho de um lado para o outro. Então, o ar começa a entrar ruidosamente pela garganta. Até que vira um ronco que lembra um ronronar de um gato amplificado. Nesse momento, vale se preparar porque a tosse vai chegar. Primeiro, uma tosse tímida, que lembra um engasgo. Em seguida, um guincho que lembra uma buzina ao final. E aí, o nenê fica vermelho e começa a perder a respiração. E se quem for acudir estiver bem posicionado nessa hora, o sofrimento vai ser bem menor.

Diagnóstico: laringite.

Vicente tem sofrido nesses últimos dias. A tosse é forte. Começa tímida. Dois pigarrinhos. E em seguida vem o guincho terrível. Ele perde a respiração e começa a ficar vermelho. A única coisa a fazer nessa hora é virá-lo levemente de cabeça para baixo e esfregar suas costas, de baixo para cima, até ficar mais tranquilo. (Exige sangue frio. Ver o filho de seis meses se engasgando e perdendo a respiração nas suas mãos é angustiante. Em duas ocasiões, não aguentamos e corremos para o hospital. Para chegar lá e os médicos dizerem que estava tudo bem…)

Com a tosse, entra ar na boca escancarada. Com a mão com que segura a barriga, consigo sentir bolas de ar passando pelo aparelho digestivo. Deve doer para caramba. A ‘série’ vem com três, quatro e até seis ondas de tosse. Quando acaba, Vicente tem um chorinho contido, apertado e espremido. Aí, começa a relaxar, chora mais um pouquinho e volta a dormir ou a brincar. Não poucas vezes, 30 segundos depois de levar a vaca na série* já estava sorrindo. Enquanto os pais já estavam em vigília (dormindo ou acordado), esperando pela próxima série.

A ficha caiu. Vamos olhar a metade cheia do copo: que bom que estávamos de férias nessa semana. Não ia ser fácil aguentar o sono-Amyr-Klink (45 minutos no máximo) tendo que trabalhar no outro dia… Valeu, Ju, pela parceria na madrugada. Haja trabalho em equipe para aguentar o tranco!

ps: Um brinde aos amigos. Pela segunda vez que a laringite atacou em casa, amigos estavam por perto para socorrer na correria desenfreada para o hospital e ficar lá por até 2 horas (na madrugada) em toda a função envolvida (consulta, inalação, raio-X etc). Com família longe, ter amigos  por perto é como ter luz em um caminho escuro. Dá um alívio… Valeu, Ale (duas vezes), Duda, Zé (na vez do Augusto) e esposas.

*Linguajar de surfista, quer dizer cair da onda.

Deixe um comentário

Arquivado em Amizade, Surfe

Deixe um comentário