Arquivo do dia: novembro 6, 2008

Quem precisa de heróis?

Dia desses estava a caminho do aeroporto, lendo e comentando o jornal do dia com o taxista. Em certo ponto, a conversa chegou nas eleições americanas. O taxista, com forte sotaque da região paulistana da Mooca (para quem não conhece, lembra o Faustão falando: ‘Ô lôco, meu!’) disse que estava torcendo para o McCain.

– “Ah, é? Por quê?”, perguntei.

– “O cara é um herói”, respondeu. “Foi torturado não sei quantas vezes no Vietnã depois de ser capturado quando se ejetou do avião que estava caindo. É legal essa coisa de ter um cara herói, bem nacionalista.”

E aí descobri porque o McCain ainda estava no páreo. Essa coisa de heroísmo sempre cola. E tem muito americano médio que acha muito arriscado mudar o status quo. Na dúvida, não ultrapasse. Vamos de Bush mesmo, ou McCain, devem pensar. A mudança é Obama. Não precisa falar disso porque todos tiveram contato com a campanha política mais incensada de todos os tempos. Com uso intensivo de internet e alta arrecadação de recursos. Uma excelente estratégia, totalmente conectada com o seu tempo e por isso vencedora. Ajudou Obama a ganhar. Mas a diferença foi feita na urna, como ele próprio reconheceu no discurso. A vontade de mudar foi muito forte. Uma mulher de 106 anos, que foi às urnas, serviu de mote para falar do futuro, fazendo um link com o passado. O que a motivou a ir às urnas? Certamente ela já viu muitas coisas bacanas nos Estados Unidos, mais do que Bush andava fazendo. Estava na hora de tirar o Mad da presidência americana.

Obama não é herói. E justamente por isso conquistou tanta gente. Vale destacar algumas frases lapidares de Obama no discurso:

1. Há nova energia para explorar, novos empregos para criar, novas escolas para construir e ameaças a enfrentar, alianças a reparar. O caminho à frente será longo. Nossa subida será íngreme. Talvez não consigamos chegar lá em um ano ou mesmo em um mandato. Mas, América, eu nunca estive mais esperançoso do que estou nesta noite de que chegaremos lá. Eu prometo a vocês: nós como povo chegaremos lá.

2. Vamos nos lembrar de que, se esta crise financeira nos ensinou alguma coisa, é que não podemos ter uma Wall Street (setor financeiro) próspera enquanto a Main Street (a economia real) sofre. Neste país, ascendemos ou tombamos como uma nação, como um povo. Vamos resistir à tentação de cair no mesmo partidarismo e trivialidade que envenenou nossa política por tanto tempo.

3. Para aqueles que dilacerariam o mundo: nós os derrotaremos. Para aqueles que buscam a paz e a segurança: nós os apoiamos. E para todos que se perguntavam se o farol da América ainda tem o mesmo clarão: esta noite provou uma vez mais que a verdadeira força de nossa nação vem, não do poderio de nossas armas ou da escala de nossa riqueza, mas do poder duradouro de nossos ideais: democracia, liberdade, oportunidade e inflexível esperança. Esse é o verdadeiro espírito da América: a América pode mudar. Nossa união pode ser aperfeiçoada. O que já conseguimos nos dá esperanças pelo que podemos e devemos alcançar amanhã.

Agora, um ponto de atenção. Toda essa esperança foi a mesma depositada no PT aqui no Brasil, guardando as proporções. Era o último baluarte da ética e aquela conversalhada toda. Deu no que deu e Lula, o inabalável, surfou na onda da prosperidade econõmica mundial. Que está indo para o saco.

Que Obama tenha o caminho iluminado e não decepcione o mundo, que num voto de esperança se uniu a ele. Certamente, os Estados Unidos é um país visto de modo mais simpático a partir de hoje.

PS: O discurso completo está em: http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20081106/not_imp273316,0.php#comentar ou em inglês: http://politicalticker.blogs.cnn.com/2008/11/05/text-of-obamas-election-night-speech/

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